Grandes momentos que fizeram a história do montanhismo no Brasil
Por Pedro Hauck
TALVEZ UM ÍNDIO, por razões religiosas. Ou um português, para reconhecer território. Quem sabe até um garimpeiro procurando pedras preciosas? O fato é que não há registros históricos que certifiquem quando exatamente nasceu o montanhismo brasileiro e quem foi o responsável pela façanha de escalar uma montanha no país pela primeira vez. O que sabemos é que muita água – melhor dizer muita pedra – rolou de lá para cá.
Às vésperas da realização da primeira Semana Brasileira de Montanhismo, no Rio de Janeiro (leia mais no quadro à pág. XXX), abraçamos a missão de elencar 10 grandes momentos do montanhismo praticado dentro de nossas fronteiras. São conquistas e fatos que mostram a evolução dos desafios, equipamentos, motivações e valores que marcaram época e influenciaram a maneira dos brasileiros escalarem, criando a identidade do nosso montanhismo. 1 :: Marumbi (1879) Nessa época o Brasil ainda era um império, havia escravidão, nossa principal economia era o café, a mais nova tecnologia era o trem e havíamos recém-saído de uma guerra sangrenta, a Guerra do Paraguai. O Império achou importante construir uma ferrovia ligando o litoral ao planalto, dando início a uma das mais emblemáticas obras de engenharia do país: a ferrovia Curitiba – Paranaguá, que vence a escarpa da serra do Mar. Em Morretes, na baixada litorânea, a calma foi substituída pela ansiedade, e as novas idéias trazidas pelos engenheiros e técnicos europeus se espalharam entre colonos e matutos. Os anos de 1850 foram anos de ouro no alpinismo europeu, que atingiu seu auge com a conquista do Matterhorn, na Suíça. Teria Carmeliano sofrido a influência dos europeus em seu sonho de subir o Marumbi?
Em agosto de 1879, Carmeliano começou sua jornada, acompanhado dos bons mateiros e caçadores Bento Leão, Antonio Silva e Antônio Mecias (sabe-se hoje que outra equipe, liderada por Joaquim Antonio Coelho, empreendia uma tentativa por outra rota, numa competição para ver quem chegaria ao topo primeiro). O grupo de Carmeliano chegou à base da montanha no dia 17 de agosto. Eles subiram pelo morro do Rochedinho, depois pelas encostas do Facãozinho para alcançar o Boa Vista, chegarando ao topo da serra do Marumbi no dia 21. O ponto mais alto da serra recebeu o nome de Olimpo em homenagem ao conquistador, que foi recebido com festa e se tornou herói na cidade. 2 :: Dedo de Deus (1912) Um desses grupos, composto por alemães, contratou o caçador Raul Carneiro, mateiro experiente que se gabava de ser exímio matador de onças, para guiá-los no mato. Raul não se deu por vencido com a desistência dos estrangeiros: ele pediu a ajuda de um ferreiro, José Teixeira Guimarães, e dos irmãos Alexandre, Américo e Acácio de Oliveira para uma nova tentativa. O grupo arrecadou equipamentos como cobertores, brocas, cordas, martelo e comida, enquanto Teixeira confeccionava 20 grampos para fixar nas paredes da montanha, provavelmente inspirados nos arganeis usados na fixação de barcos em portos.
Os cinco homens levaram dois dias até começarem a escalada propriamente dita. Sem conhecimento de técnicas de montanhismo, eles improvisaram pirâmides humanas, empilharam troncos de árvores para servir em paredes negativas e se aproveitaram de fendas e chaminés para fazer a ascensão. Uma dessas chaminés é tão estreita e difícil que recebe o apelido de “Arranca Botões”. Após as chaminés, o grupo chegou à um platô separado do cume por uma fenda e uma parede negativa. Eles venceriam este trecho final levando até o local um tronco de árvore, em que eles se agarraram para chegar ao topo, no dia 8 de abril. Com improviso, garra e superação, os cinco de Teresópolis empreenderam uma escalada técnica que traduziu o espírito aventureiro, solidário e de superação do brasileiro. Por conta da dificuldade, significado e importância, a conquista do Dedo de Deus é tida como o marco inicial da escalada no Brasil. 3 :: Agulha do Diabo (1941) Apesar da expansão do montanhismo brasileiro nas últimas décadas, uma agulha misteriosa, tão íngreme e bela quanto o Dedo de Deus, permanecia intocada na serra dos Órgãos: era o chamada Penhasco Fantasma. Os primeiros a investir na montanha foram os brasileiros Almy Ulissea e Giuseppe Toselli, o italiano Raul Fioratti e o alemão Günther Buchheister. Somente na terceira tentativa o grupo conseguiu progredir um pouco em território vertical, ainda utilizando técnicas de improviso como pirâmide humana e tronco de árvore. O Penhasco Fantasma, no entanto, era mais técnico e exposto que o Dedo de Deus.
Os montanhistas vislumbravam subir por uma chaminé formada por uma gigantesca laca que se desprende da agulha, até hoje chamada de “Unha” Não existiam cadeirinhas e nem cordas como as de hoje – os montanhistas amarravam cordas grossas e pesadas na cintura e escalavam lance por lance, sem freios. Também não havia sapatilhas, e todos os pesados equipamentos eram carregados em mochilas de lona. Fazer montanhismo não era fácil, nem confortável.
Em junho de 1941, após terem vencido mais da metade da parede, o mesmo grupo, com a presença de Roberto Menezes de Oliveira, deu uma arrancada final em três finais de semana consecutivos. Giuseppe Toselli escalou um paredão de 25 metros de altura cheio de musgo e bromélias, e fixou nele uma seqüência de grampos, o que chamamos hoje de “paliteiro”, para ganhar altura. No dia 29 de junho de 1941, após inúmeras tentativas e investidas, ele se apoiou numa broca colocada num furo para atingir o topo, antes mesmo de fixar ali o último grampo.
Em meio a montanhas com nomes divinos como Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Santo Antônio, Frade e São João, o grupo resolveu rebatizar a agulha de Agulha do Diabo – um nome mais apropriado para representar as dificuldades por eles vencidas. 4 :: Pico Paraná (1941) Como protagonista desta história temos o geógrafo alemão Reinhard Maack, considerado o pai da geografia do Paraná. A vida de Maack merece um livro tanto por suas aventuras, quanto por suas descobertas científicas. Ele foi uma das pessoas no mundo que mais contribuiu para a teoria das placas tectônicas, e um grande estudioso da geologia, relevo e fitogeografia do Paraná.
Em uma das pesquisas, Maack subiu o Pico Olimpo, no Marumbi, para medir as montanhas. Lá ele descobriu que este cume não tinha 1.810 metros, como acreditava Joaquim Olimpyo, e que ao norte da serra do Mar haviam outras montanhas que poderiam ser maiores que o Marumbi. Entre elas, distinguia-se um belo pico com forma de corcova de camelo, ainda sem nome. Em junho de 1941, Maack empreendeu uma expedição para determinar a altitude dos cumes ao norte do Marumbi, junto com dois experientes marumbinistas, Alfred Mysing e Rudolfo Stamm, grande conquistador de cumes e o melhor montanhista do Paraná naquela época.
Não existia a BR 116 e a região era um grande sertão selvagem. No dia 28 eles saíram de Curitiba e tentaram um caminho, mas este se mostrou muito difícil. O trio retornou à base e encontrou outra rota, por uma fazenda de colonos ingleses que, isolados no matagal, mais pareciam os caipiras descritos por Monteiro Lobato. Os montanhistas ascenderam o pico Caratuva, onde Maack encontrou o local ideal para realizar suas medições. No dia 13 de julho, os três chegaram na corcova mais alta da montanha, batizada Pico Paraná. No total foram 20 dias de pesquisa e aventura.
As medições de Maack foram muito precisas, com diferença de poucos metros para as medições dos modernos GPS geodésicos. De acordo com Maack, o Olimpo teria 1.547 metros e o Pico Paraná, 1.967 metros. O GPS de precisão centimétrica auferiu 1.539 metros para a primeira montanha e 1.877 metros para a segunda. 5 :: Pico Maior de Friburgo (1946) Sylvio só chegou ao topo do Pico Maior em 1946, quando escalar já não era considerado uma prática subversiva. Seu grupo chegou no vale dos Frades, entre Teresópolis e Nova Friburgo, no dia 5 de junho e se dirigiu à face oeste, onde há um conjunto de fendas que leva até o cume. Utilizando técnicas de chaminé e fazendo furos com marreta e brocas, os montanhistas ganharam altura e fixaram grampos para segurar possíveis quedas. As chaminés, no entanto, eram enormes e os grampos eram bastante espaçados, o que aumentava a tensão e a sensação de exposição.
Foram necessários oito dias de escalada para que Sylvio e Índio chegassem ao cume. A rota que eles conquistaram recebeu o nome de Sylvio Mendes. Ela tem 550 metros e é uma das vias mais fisicamente exigentes na região. 6 :: Face Leste do Pico Maior (1974) O diferencial da face leste é que ela é uma escalada moderna, com poucos lances artificiais, ou seja, em grande parte da via de 750 metros o escalador não usa equipamentos “artificiais” colocados na rocha para progredir. A via privilegia caminhos naturais como fendas e paredes com muitas agarras, e utiliza poucas proteções fixas na rocha, o que dá uma grande sensação de exposição. Até então, os lances mais difíceis de escalada, próximo a um quinto grau, eram vencidos com a colocação de grampos para serem agarrados e pisados, auxiliando a progressão.
Na década de 1970 surgiram os tênis Kichute, que tinham ótima aderência na rocha – as travas eram arrancadas pelos escaladores, numa gambiarra brasileira para imitar a eficiência das sapatilhas. Algumas pessoas já traziam para o Brasil cadeirinhas e mosquetões leves, o que ajudou na abertura de vias modernas, substituindo os “paliteiros” de grampos e cabos de aço por escaladas mais limpas, com grampos esparsos na rocha. As cordas tornaram-se mais elásticas e compridas, possibilitando ascensões mais rápidas e rapéis mais seguros e longos. Os conquistadores da face leste do Pico Maior foram os primeiros a usar esses equipamentos para abrir uma via inédita, inaugurando assim no Brasil um novo modo de escalar. 7 :: Escalada esportiva x escalada natural (1983) Até então, era eticamente aceitável a colocação de escadas, grampos sucessivos e cabos de aço. Mas os novos escaladores perceberam que várias vias existentes seriam mais belas sem tantos artifícios. Começou aí uma grande briga entre o novo e o velho estilo, o que esvaziou clubes e resultou na publicação do manifesto da escalada natural de André Ilha, em 1983. No manifesto, André conceituou a MEPA (Máxima Eliminação de Pontos de Apoio), que desafiou os escaladores a realizarem suas ascensões sem a ajuda dos grampos, promovendo escaladas em estilo livre e aumentando o grau técnico. Obviamente, a MEPA não foi aceita por todos; no entanto, com o passar do tempo, várias vias foram “mepadas” e deram origem a linhas maravilhosas, desafiadoras e técnicas que são grandes clássicos, como a via Garrafão, no Pão de Açúcar. Isso marcou a evolução da escalada de dificuldade.
Nesta época também começou no Brasil a preocupação com o meio ambiente. Os montanhistas não eram mais mateiros e caçadores, mas gente urbana, escolarizada, que defendia a preservação ambiental e a valorização estética da natureza. 8 :: Distraídos Venceremos, Pedra do Baú (1992) Participaram da abertura desta via os paulistas Frechou e José Luiz Pauletto e os paranaenses Antônio Carlos “Bito” Meyer e Edson “Du Bois” Struminki. A conquista recebeu uma grande cobertura jornalística da TV, tornando-se evento esportivo do ano de 1992 e colocando o montanhismo e a escalada entre os esportes de aventura reconhecidos pelos leigos – e não mais uma atividade “subversiva” e alienígena à nossa realidade.
Com a divulgação na imprensa e a facilidade para comprar equipamentos por conta da estabilidade e abertura econômicas, a escalada e o montanhismo viraram moda no Brasil dos anos 1990. Houve uma proliferação de locais para a prática, surgiram ginásios de escalada e o número de praticantes aumentou substancialmente. Este “boom” ajudou montanhistas brasileiros a conseguir patrocínios e realizar conquistas fora do país, com escaladas na Patagônia, Himalaia, Estados Unidos e Europa (algumas delas protagonizadas pelos conquistadores desta via).
A popularização trouxe problemas com proibições em parques e aumento de acidentes. Pela primeira vez o montanhismo foi interpretado como atividade que resulta em “impactos ambientais” e antigas mecas da escalada, como o Parque Nacional de Itatiaia, no Rio de Janeiro, sofreram restrições. 9 :: Escalada em Minas Gerais e Pedrita Meu Amor (1997) Não tardou para que as principais montanhas do Estado recebessem vias de parede. Dentre as muitas conquistas de importância, há uma que marcou época por conta do desafio, ética e estilo: a via Pedrita Meu Amor, no Pico do Baiano, em Catas Altas, conquistada pelos mineiros Matheus Carneiro Moura e Castro e Daniel Ferreira Mariano em 1997.
O diferencial desta conquista é que ela foi aberta em estilo alpino, ou seja, usando o mínimo de equipamentos para facilitar e agilizar a logística. Os conquistadores não bateram um único grampo ao longo dos 900 metros de parede, utilizando proteções naturais e equipamentos móveis como friends (peças com eixo de mola que são colocados e retirados de fendas), que possibilitam a proteção de maneira rápida e eficiente sem alterar o estado natural da rocha. Com esses recursos, Matheus e Daniel escalaram o Pico do Baiano com mochilas nas costas, e fizeram ressurgir a procura por grandes vias de escalada. 10 :: Place of Happiness, Pedra Riscada (2009) O que esta via tem de difícil? São 850 metros de parede, com grau geral em torno do oitavo, mas com crux (lance mais difícil da via) graduado em 9a! São 18 lances de corda com graus que vão de IV a IXa, mesclando a dificuldade da escalada esportiva com o comprometimento da escalada tradicional.
Interessante notar alguns fatos sobre os protagonistas desta conquista. Primeiramente Edmilson, que além de ser um dos melhores e mais experientes escaladores do Brasil (já subiu o Fitz Roy, Cerro Torre, Salto Angel e outras montanhas gringas de renome), é dono de uma indústria de equipamentos de montanha. Uma indústria deste tipo só prospera em um país onde exista cultura e tradição no montanhismo, e o Brasil de hoje é um país assim. Outro fato interessante é que Edmilson era grande fã de Stefan Glowacz quando jovem e não imaginava que iria dividir corda com ele na conquista de uma das vias mais difíceis da história do montanhismo brasileiro.
A conquista da Place of Happiness colocou o Brasil na rota mundial das grandes escaladas. Vias com alta dificuldade livre são uma tendência da escalada e montanhismo extremo, e o fato de brasileiros estarem ao lado de grandes escaladores mundiais em conquistas deste tipo dentro do Brasil mostra que a escalada tupiniquim nada deixa a desejar diante do que há de mais desafiador e moderno no mundo do montanhismo contemporâneo. E pensar que ainda há gente que acha que o Brasil é um país sem montanhas! A próxima grande conquista do montanhismo nacional já tem data, local e nome: será em abril, no Rio de Janeiro, e se chamará Semana Brasileira de Montanhismo
NOVE DIAS de congressos, campeonatos, cursos, workshops, exposições e cinema. Para quem gosta de escalada, montanhismo e meio ambiente, o lugar para se estar no fim deste mês é a Urca, no Rio de Janeiro, onde acontece de 23 de abril a 01 de maio a primeira edição da Semana Brasileira de Montanhismo.
O evento foi idealizado e organizado pela escaladora e montanhista Kika Bradford com o objetivo de criar uma oportunidade para escaladores, diretores de clubes, associações e federações trocarem experiências e pensarem juntos os próximos passos para o desenvolvimento do montanhismo no Brasil. “Em 2012, comemora-se o centenário da conquista do Dedo de Deus, um grande marco e símbolo do montanhismo brasileiro. Resolvemos comemorar esses 100 anos com um grande evento que celebrasse a data e ao mesmo tempo olhasse pro futuro do montanhismo no país”, diz Kika.
Para conhecer a programação completa e apoiar o evento, acesse semanademontanhismo.com.br
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2012)
O Marumbi, na serra do Mar paranaense, é a montanha brasileira com o registro mais antigo de uma ascensão por razões esportivas. O boticário Joaquim Olimpyo de Miranda, o “Carmeliano”, da cidade de Morretes, começou a planejar uma ascensão ao Marumbi, “a montanha mais alta da província”, em 1872, quando acreditava-se que ela media 1.810 metros.
Carmeliano criou e cultivou a cultura do “marumbinismo”. Ele ascendeu esta montanha nos 23 anos seguintes e passou seus conhecimentos para novas gerações. A ferrovia foi concluída seis anos mais tarde e ajudou muito a transformar o montanhismo num esporte popular e tradicional no Paraná, pois permitiu um acesso fácil desde a capital.
Em 1912 o Dedo de Deus (1.692 metros), na serra dos Órgãos fluminense, já era uma montanha famosa no Brasil e no exterior. Sua forma de agulha, com contorno que se assemelha a uma mão com o indicador apontando para o céu, impressiona e convida os aventureiros a atingir seu cume. Foi o que aconteceu com os europeus que, no começo do século, tentaram duas vezes, sem sucesso, conquistar a montanha.
MILAGRE: A imponência do Dedo de Deus e Grampo de Arganel
instalado no local
PRIMEIRÃO: A crista da serra do Marumbi e a saída da chaminé
O primeiro clube excursionista do país, o CEB, foi fundado em 1919. A chegada ao Brasil de imigrantes europeus – que começaram a praticar o alpinismo em terras tupiniquins, explorando e escalando serras – elevou o nível técnico com o conhecimento trazidos dos Alpes. A influência era tanta que os montanhistas brasileiros dessa época vestiam-se com meiões, calças curtas e botas muito semelhantes à dos alpinistas da época, que por sua vez usavam roupas evoluídas dos camponeses e mineiros dos Alpes.
DIABÓLICO: Rapel no Penhasco Fantasma
O Pico Paraná, a montanha mais alta da região sul do pais, não é técnica como o Dedo de Deus e a Agulha do Diabo. Sua conquista, no entanto, demonstra o altruísmo dos montanhistas e é um capítulo em comum entre a história do montanhismo e das ciências no Brasil.
O Pico Maior de Friburgo, no Rio de Janeiro, é o mais alto de toda a serra do Mar, com 2.316 metros. É uma montanha rochosa, cujo cume só pode ser alcançado escalando, e sua conquista envolve dois montanhistas emblemáticos que certamente figuram entre os mais corajosos e empreendedores que o Brasil já teve: Sylvio Mendes e Índio do Brasil Luz. Sylvio foi protagonista em muitas montanhas e vias emblemáticas no Rio de Janeiro, como a Capacete, a Caixa de Fósforos, a Chaminé Stop e outras. A primeira tentativa dele no Pico Maior foi em 1942 (em plena Segunda Guerra), ano em que dois montanhistas do CEB foram presos sob a acusação de serem espiões alemães tentando instalar uma estação de rádio no cume da montanha.
MAIORAL: O pico Maior, no Rio de Janeiro
MAIORAL: Escalador encara a via leste desse pico
A região dos Três Picos de Friburgo, também chamada de Salinas, onde está o Pico Maior, ficou bastante tempo sem conquistas. Até que em 1974, os cariocas Guilherme Ribeiro, José Garrido, Waldemar Guimarães e Valdinar dos Santos venceram a face leste do Pico Maior, abrindo uma via que traduz o conceito de “escalada tradicional” no Brasil.
Repetindo a face leste hoje, podemos sentir a dificuldade das chamadas escaladas tradicionais do Brasil. É fácil se perder na via pela distância dos grampos e passar apuros nos lances menos protegidos. Na conquista, os montanhistas primeiro venceram os trechos difíceis escalando, para depois bater os grampos de proteção em locais mais fáceis, onde é possível ficar em pé para fazer os furos com a talhadeira de mão.
Nos anos 1980, os montanhistas passaram a procurar afloramentos rochosos para escalar com o objetivo de se preparar para conquistas mais técnicas. Isso fez surgir um novo conceito, que aos poucos distanciou a escalada do montanhismo tradicional: o objetivo da escalada deixou de ser o cume para ser a própria dificuldade da ascensão. Nascia a escalada esportiva.
O desenvolvimento da escalada esportiva no Brasil teve como palco a chamada Falésias dos Ácidos, perto da praia Vermelha, no Rio de Janeiro, onde foram abertas as primeiras vias graduadas em sétimo grau no Brasil. Entre os protagonistas deste movimento estão Sergio Tartari, André Ilha, Ralf Côrtes, Antonio Paulo Faria, Alexandre Portela e Paulo Macaco. Esses escaladores, que substituíram as roupas de alpinistas europeus por shorts e calças de lycra, conquistaram algumas das mais clássicas e belas vias de montanha no Rio de Janeiro, mas seu estilo enfrentou uma dificuldade.
A região de São Bento do Sapucaí, onde fica a Pedra do Baú, é o principal pólo de escalada no Estado de São Paulo. Na década de 1980, porém, era um local freqüentado por alguns poucos escaladores. Quando Eliseu Frechou se mudou para esta pequena e pacata cidade, não imaginava o legado que deixaria para o montanhismo brasileiro. A conquista da via Distraídos Venceremos – um big wall com lances de escalada artificial moderna na face Norte da Pedra do Baú – foi, sem dúvida um marco na escalada paulista e na divulgação do montanhismo no Brasil.
A popularização da escalada em rocha na década de 1990 disseminou o esporte no Estado brasileiro mais privilegiado para essa modalidade: Minas Gerais. E o país inteiro ganhou com a qualidade e diversidade das escaladas esportivas mineiras, principalmente em locais como Lapinha, Gruta do Baú e Serra do Cipó.
A Pedrita Meu Amor é uma rota de dificuldade média, mas com grande exposição e alto grau de dificuldade psicológica, exigindo experiência na leitura de via e no uso de proteções em móvel, além de comprometimento: a única saída da parede é pelo cume. Esta via só seria repetida em 2005.
Um dos ápices do montanhismo brasileiro aconteceu em 2009, com a conquista da via Place of Happiness (Lugar de Felicidade), na Pedra Riscada, em São José do Divino, norte de Minas Gerais. Os escaladores foram o paranaense Edmilson Padilha e o lendário escalador alemão Stefan Glowacz, junto com Holger Herber e o argentino Horacio Gratton.
>> O PRÓXIMO CUME