Por Mariana Mesquita
Durante uma expedição de 60 dias pela Floresta Amazônica, o aventureiro Sandro Cardoso, 37, subiu no estilo barefoot — descalço — o Pico da Neblina (2.994 metros de altitude), no norte do estado do Amazonas, a montanha mais alta do Brasil. O carioca embarcou nesta viagem depois de ter traçado seu próximo objetivo: decolar de parapente das mais altas montanhas do mundo.
Nesta temporada, ele não conseguiu concluir o desafio no Pico da Neblina devido às condições do tempo. Sandro passou frio, emagreceu cerca de 10 quilos e quebrou um dente. Conheceu a comuniadade dos índios Ianomânis e prometeu: "Vou voltar para decolar de parapente."
Nos próximos anos, Sandro se prepara para escalar e viajar de parapente, o Aconcágua (6.997 metros), na América do Sul, o Kilimanjaro (5.895 metros), na África, e o Monte Vinson (4.892 metros), na Antártica.
Em entrevista à Go Outside online, Sandro contou sobre a experiência na Amazônia e falou sobre seus próximos desafios. Como foi essa experiência? Qual a sensação em não ter completado o desafio como previsto? Em que você pensa quando é preciso superar os perrengues?
VISUAL: Sandro curtindo a paisagem em uma de suas trips
NO AR:Sandro em um voo de parapente
SANDRO CARDOSO: Na verdade, sempre tive essa ideia. Porque acredito na troca de energia com a natureza. Além do que, com os pés desprotegidos, ficamos muito mais atentos onde pisamos. Tenho uma ligação com a natureza muito grande, e se pudesse andava pelado na mata (rs).
Acho que foi um pouco decepcionante em relação à vida indígena. Eu imaginava mais magia. A falta de respeito que vi contra esse povo é enorme. As autoridades e a sociedade como um todo tratam os índios dali como lixo. Para se ter uma noção, um simples CPF que tiramos em no máximo uma semana, os índios levam três semanas para tentar dar entrada. Muitos deles não sabem nem falar português. Acho que lá eu era a pessoa que mais andava pelada com os mais velhos. Os jovens da tribo estão usando roupas de marca e celulares, e ficam envergonhados de alguns rituais feitos pelos mais antigos. Fiz várias entrevistas com os índios, e eles me contaram que são obrigados a aceitar certas coisas para ter acesso aos recursos que são deles por direito.
Foi um misto de realização e frustração. Eu me senti realizado por ter conseguido subir, fiquei agradecido por os Iamomânis terem me adotado como um membro deles. Mas fiquei frustrado por não ter decolado de parapente devido à falta de segurança. Mas eu espero que isso sirva como referência para outros aventureiros. Porque muitos não sabem a hora de desistir e acabam sofrendo graves consequências. Já perdi muitos amigos por falta de prudência.
Procuro manter a tranquilidade e o bom humor. Não encaro aquilo como um problema. Se está ficando difícil, analiso a situação, sigo meus instintos e procuro meios para ignorar aquilo. Por exemplo, na descida do Pico da Neblina, eu estava com o joelho machucado, e ainda tinha que andar cerca de 10 quilômetros. Peguei dois pedaços de madeira para servir de apoio e imaginei que sempre havia vivido daquela forma. Quando começo a encarar a situação como se fosse algo rotineiro, administro bem a dificuldade.
Quais seus planos futuros?
Meu plano é decolar de parapente dos cumes das mais altas montanhas do mundo. A próxima será o Kilimanjaro (com 5.895 metros de altitude – a maior da África). Já comecei a estudá-la e analisar o clima. Espero conseguir fazer essa expedição no meio do ano. E é claro que pretendo voltar ao Pico da Neblina e terminar por completo meu desafio.