Sobre vulcões


VISUAL: Lu em um dos lugares que ele mais gosta: o paramotor

Por Mariana Mesquita

Imagine se tornar o primeiro piloto de paramotor a sobrevoar a cordilheira vulcânica do México. Agora imagine um recorde mundial da modalidade: primeiro vôo em uma altitude superior a 5 mil metros. Impossível? Não para o paulista Lu Marini, 41, que embarcou no último dia 14 para uma viagem que pretende reunir estas duas aventuras em um único desafio, na expedição batizada de Rastreando o México.

Pelos cálculos, Lu pretende viajar cerca de 1.000 quilômetros divididos em 25 dias, dependendo das condições climáticas. Além disso, 10 profissionais fazem parte da estrutura operacional do aventureiro, sendo que cinco darão apoio em terra. Devido às dificuldades da viagem, Lu estará equipado com um GPS durante o percurso.

Durante o desafio, o site oficial do piloto, Aventura Fantástica, será atualizado constantemente com imagens e novidades do voo.

Antes de embarcar neste desafio, Lu conversou com a Go Outside Online, e contou sobre a preparação para a viagem e as expectativas da expedição Rastreando o México.


AZUL DA COR DO MAR: Viagem pelo litoral do Brasil
(FOTO: Divulgação)

Como foi sua primeira experiência com o paramotor? E como isso evoluiu?
Sempre fui apaixonado por esporte de aventura e, principalmente, desafios. Em 1993, iniciei a prática do voo livre de parapente e, em 1994, adquiri meu primeiro paramotor, depois que um amigo me apresentou o novo brinquedo que acabava de chegar ao Brasil. Não perdi tempo: importei um da Espanha e comecei a voar. Era uma novidade no Brasil, não existiam escolas ou instrutores para ensinar o esporte. Aprendi na marra. Entre 2003 e 2005, apresentei um programa de ação e eventura, chamado Programa AUÊ, que me colocou de frente aos mais diversos esportes radicais. A vontade de conhecer ainda mais o paramotor me levou a buscar informações e aperfeiçoamento na Espanha — país com tradição no esporte — onde me formei instrutor de paramotor, em 2007. Lá tive a oportunidade de estar com os melhores pilotos do Mundo.

Qual momento da sua história foi determinante para direcionar sua vida para o paramotor?
O paramotor entrou de vez na minha vida quando caí na real de que um dia vamos deixar essa vida, e o que vai ficar será a nossa obra. O que movimenta a minha vida são as realizações, os desafios e as fortes emoções. Quero viver intensamente cada segundo que tenho, e descobri isso no voo com o paramotor. Olhar a vida do alto, estar mais próximo de Deus, escutar o "barulho silencioso" do vento. Quero sentar na cadeira de balanço com meus netos um dia e ter o que contar, dizer que valeu cada segundo vivido. O paramotor me faz ultrapassar fronteiras. Hoje faço o que amo e vivo do que amo fazer. Acho que sou um privilegiado.

Depois de tantas experiências, existe um voo preferido?
Não tenho voos preferidos, tenho experiências marcantes. Sobrevoar o litoral do Brasil de sul ao norte, cruzar os poucos raios de um pôr do sol mágico no Pantanal, olhar a natureza do alto e compartilhar o espaço aéreo com os pássaros são exemploes de momentos e experiências inesquecíveis.

Como você lida com os acidentes? Já passou algum momento de grande risco?
Pratico um esporte radical. Sofri um acidente na expedição Rastreando o Atlântico, quando caí de mais ou menos 10 metros, durante uma aproximação de pouso em um lugar de muito risco (sobre uma falésia no litoral da Bahia, com um vento forte e turbulento). Sofri uma leve lesão na coluna no meio da expedição. Tive que me superar e continuar, mesmo sabendo dos riscos de piorar. Superação é uma palavra sempre presente.

Como você se preparou para o desafio Rastreando o México?
Foi mais de um ano definindo rotas e o planejamento. Essa etapa é a mais difícil. Nos últimos quatro meses antes do início, fiz exercícios aeróbicos, para melhorar o condicionamento físico, e musculação. Além disso, faço voos para testar equipamentos e treinar reações em situação de risco.

Que tipo de dificuldades você está esperando encontrar?
São várias dificuldades. Uma delas é a altitude. Pela rota, na maioria das vezes, vou decolar de lugares acima dos 2 mil metros do nível do mar. Com isso, o ar é mais rarefeito, e você tem que correr mais para a decolagem, já que parto do chão. Imagina correr com aproximadamente 45 quilos de peso nas costas. O controle da meteorologia também é um problema. Muitas vezes, decolo e, depois de horas voando, o tempo muda. No México, temos muita influência de ventos fortes. Com o calor no interior do país, também vou enfrentar térmicas fortes. Isso torna o voo muito turbulento, o que pode ocasionar o que chamamos de colapso na vela (o velame fechar de repente).

Qual a expectativa para este novo desafio?
É superar o desafio que tracei para mim. Cruzar o México e ser o primeiro piloto das Américas a voar com paramotor acima de 5 mil metros. E depois dividir essa aventura com todos, de forma a torná-la fonte de inspiração para aqueles que, assim como eu, acreditam que a vida só tem sentido quando superamos nossos limites.

Veja a seguir algumas imagens de Lu em ação:




(FOTOS: Divulgação)