Por Mariana Mesquita da Go Outside online Na última semana, o time formado por Carlos "Caco" Fonseca, Marisa Helena, Marcelo Sinoca e João Bellini terminou em oitavo lugar na competição. A décima edição da prova aconteceu entre os dias 14 e 22 de fevereiro e contou com a participação inicial de 19 equipes, sendo que apenas 10 atravessaram a linha de chegada. Depois de liderarem de ponta a ponta, os ingleses da Adidas Terrex subiram, pela quarta vez, ao ponto mais alto do pódio da competição.
Em 2011, a equipe Selva também participou da prova, mas não conseguiu cumprir as metas de tempo por etapa, e ainda sofreu com o incidente em que dois de seus integrantes tiveram os caiaques virados.
Entre estratégias mirabolantes, esforço físico extremo e o fato de apenas “acreditar que conseguiriam”, os brazucas se deram bem. Em entrevista à Go Outside online, o integrante da Selva, João Bellini, de 30 anos de idade, relata os momentos de tensão que passaram, como uma asma coletiva que foi superada graças à felicidade e vontade da equipe em terminar a prova. Esta foi a primeira participação dele numa Patagonian Expedition Race
GO OUTSIDE ONLINE: Qual foi a estratégia adotada pela equipe para concluir a competição e conquistar o título de primeira equipe da América do Sul a concluir a Patagonian? Como foi essa "asma coletiva"? Em situações extremas, de onde vem tanta motivação? Como foi a experiência de terminar a prova de aventura mais casca-grossa do mundo? Qual foi a sensação de cruzar a linha de chegada? Depois de uma prova dessa dimensão, você consegue pensar em planos futuros?
SELVA: Da esq. para dir. João, Caco, Marcelo e Marisa; no fim da Patagonian Expedition Race
No extremo sul da América do Sul, numa região da Patagônia conhecida como Terra do Fogo, os brasileiros da equipe Selva Kailash percorreram cerca de 630 quilômetros, distribuídos em pouco mais de oito dias e 14 horas de intensas e difíceis caminhadas, pedaladas e remadas. Eles enfrentaram temperaturas inferiores a -10ºC e ventos fortes por um "simples" motivo: terminar a Patagonian Expedition Race, a prova mais casca-grossa do planeta e, de quebra, receber o merecido título de "a primeira equipe latino-americana a realizar esta proeza".
JOÃO BELLINI: Além de 200 quilômetros de bike e 80 de canoagem, percorremos também dois trekkings: um “curto”, com 100 quilômetros de distância, e um longo de 140. Para isso, nossa estratégia foi “socar a bota” (ir o mais rápido possível) logo nos primeiros dias, como fez a equipe inglesa Adidas Terrex. Nas três primeiras noites nem dormimos — tivemos, no máximo, 2 horas de descanso. Isso nos deu uma margem razoável para o segundo trekking. Até que o grupo sofreu uma asma coletiva, e demoramos muito para nos recuperar. A partir de então, terminamos a prova sem preocupação com posição, mas de uma forma mais saudável.
Foi, de longe, o momento mais difícil da prova. Estávamos perto da Cordilheira de Darwin, e começava a amanhecer, quando o grupo teve um ataque de asma. Na verdade, o frio congelou o alvéolo do pulmão de toda a equipe. Tivemos essa reação ao frio extremo. Como o Caco (líder da equipe brasileira) tinha mais experiência, ele nos ajudou a manter a calma e, assim, conseguimos controlar a respiração.
Nos momentos difíceis, pensamos nas pessoas que gostamos, como namorada, família e amigos. Isso nos dá força para continuar. Particularmente, eu ganhei um santinho da Carol (minha namorada) e, quando as coisas apertavam, eu o segurava firme e pensava que ia dar certo. Acho que o importante é ter fé e não se esquecer das pessoas que estão ao seu lado e que te motivam em continuar.
A Patagonian Expedition Race foi o maior desafio esportivo que já tive na vida. A prova me deu certa paz, no sentido de que conclui um obstáculo importante. Meus objetivos foram alcançados. Mas a competição significou – principalmente – aquilo que todo atleta de aventura procura: um contato extremo com o meio selvagem. Eu estava exposto à natureza de um modo inédito para mim, estava de “calça curta”. Mas valeu a pena pelos momentos e o visual.
O esquisito é que não ultrapassamos a linha de chegada. Devido ao mau tempo, o último trecho de canoagem foi cancelado. Depois de quatro dias, terminamos o segundo trekking. Naquele momento, com aquele visual, nos abraçamos e estávamos muito felizes. Foi uma mistura de alegria e alívio. Mas, como eu disse, ainda não sabíamos que a última etapa havia sido cancelada. Então esperamos um dia até que a notícia fosse anunciada oficialmente e fomos até o ponto de chegada de barco. Mesmo assim, foi bom saber que tinha acabado.
Para ser sincero, não. Agora não tenho planos. Terminamos a competição com uma equipe boa para disputar o que aparecer pela frente. Ainda estamos anestesiados e não dá para pensar num próximo desafio. Mas, assim que a ficha cair, estarei pronto para uma próxima empreitada.
(FOTOS: SelvaAventura.com)