Bem na fita

Nesta semana, exibimos o documentário Jimmy Chin: On Assignment, sobre a vida do fotógrafo e diretor de aventura mais badalado do momento. A seguir, postamos uma reportagem extensa sobre a carreira de Jimmy, publicada na revista Go Outside de fevereiro de 2012.

Ninguém na história das filmagens de aventura conseguiu captar imagens de ação com tanto talento quanto a produtora Camp 4 Collective. Criada por três diretores-atletas e liderada pelo fotógrafo Jimmy Chin, ela tem produzido os mais insanos vídeos e fotos de escalada de todos os tempos. MARK SYNNOT acompanhou a equipe em uma viagem cheia de surpresas pelas agulhas de arenito do deserto do Ennedi, no Chade

Fotos: Michael Muller


O CABEÇA: O sino-americano Jimmy Chin, líder da produtora Camp 4 Collective

ESTOU PENDURADO EM UMA AGULHA de arenito podre, 60 metros acima do platô de Ennedi, no Chade, África, próximo à divisa oriental com o Sudão. Abaixo, em qualquer direção, estende-se um vazio de mais de 50 mil quilômetros quadrados de terra – o equivalente a 34 vezes o tamanho da cidade de São Paulo ou da ilha de Marajó – jamais explorado por escaladores.

Quinze metros verticais me separam do minúsculo cume, onde James Pearson, 24 anos, um dos mais audaciosos escaladores da Grã-Bretanha, está fazendo minha segurança. Arenito virgem como este costuma ser bem quebradiço, então eu cuidadosamente me puxo para cima com a mão esquerda, segurando em uma lasca de pedra do tamanho de um prato. Ela cede um pouco e – puf! – é arrancada, enchendo meus olhos e minha boca de areia. Quase exatamente no mesmo momento, minhas duas agarras do pé se desfazem, e eu fico pendurado apenas pela mão direita.

Nesse momento, ouço um risinho familiar. Olho por cima do meu ombro e vejo o fotógrafo Jimmy Chin, 37 anos, pendurado preguiçosamente numa corda, cerca de 1,5 metro atrás de mim. “Sensacional”, comenta Jimmy friamente enquanto alterna as funções de tirar fotos e gravar vídeo com sua câmera SLR digital. Dando uma olhada para baixo, por entre minhas pernas, consigo ver o fotógrafo e escalador Tim Kemple, 30, que lá do chão acabara de captar minha manobra à la Assalto Infernal, aquele filme em que Stallone dá uma de escalador. A 800 metros de distância está o alpinista do Colorado Renan Ozturk, 30, no teto de um jipe, gravando tudo com sua grande angular.

Não estamos gravando um comercial – bem, não exatamente. Os três homens por trás das câmeras, liderados por Jimmy, com quem venho escalando há mais de uma década, compõem a Camp 4 Collective, uma produtora independente que está introduzindo um novo estilo de cobertura e marketing de expedições. Graças a uma exclusiva combinação de talento atlético e sensibilidade artística, além de tecnologia de ponta em equipamentos digitais, o trio consegue realizar filmes tão bons quanto qualquer um produzido por grandes agências de propaganda. E ainda contam com uma altíssima credibilidade no mundo da aventura.


CAMELANDO: Chadeano cruza o deserto do Ennedi usando o meio de
transporte mais tradicional da região

Tão significativo quanto o processo criativo é a lista de clientes da produtora, composta quase que exclusivamente por algumas das principais marcas de equipamentos outdoor do planeta. Relatos de expedições vêm sendo publicados há tempos por meios de comunicação como a Outside e a National Geographic. No entanto, na era do Facebook e do YouTube, as empresas outdoor vêm construindo sua própria máquina interna de mídia para atingir diretamente os consumidores. Aqui no Chade, a Camp 4 está sob contrato da The North Face (TNF), que também patrocina a mim, a James e ao terceiro escalador oficial da expedição, Alex Honnold, mais conhecido por sua ascensão free solo do Half Dome, no parque californiano do Yosemite, sem nenhuma corda de segurança.

Todos os dias os três caras da Camp 4 baixam suas gravações nos laptops e, através de um modem via satélite, sobem fotos e postam no blog do site da TNF. Quando eles voltarem para casa, vão editar as fotos e reunir todo o material para a produção de clipes que o pessoal do marketing da The North Face irá dividir com públicos muito amplos, desde os 800 mil seguidores das mídias sociais da empresa às 200 lojas de varejo, passando por cinemas coreanos e outdoors em Nova York.

Por mim, tudo bem – afinal, sou pago para realizar viagens épicas de escalada. Mas a cada dia no Chade compreendo mais a nova situação: na fórmula atual, atletas patrocinados não estão mais no topo da aventura. Esse posto foi assumido pelo oriental de risadinha fácil pendurado na corda atrás de mim, que passa o tempo todo me oferecendo gentis sugestões de como me posicionar melhor para as imagens.

Cuspindo arenito, grudo meu pé de volta na rocha e volto a escalar. Um pouco abaixo do cume eu hesito, permitindo que Jimmy volte à posição de filmagem. Quando ele me dá o sinal, jogo uma perna por cima da borda, me levanto e cumprimento James, triunfante. Olho o infinito além da lente de Jimmy, fingindo que ele não está lá. “Foi perfeito”, diz Jimmy. “Mas será que vocês dois poderiam ficar em pé ali na beira, para que o Renan consiga gravá-los de longe?”

A arte de registrar expedições mudou muito desde que o grande montanhista inglês George Mallory enviou, por carregadores, cartas relatando suas aventuras no Everest nos anos 1920. Em 1953, as notícias de que sir Edmund Hillary e o sherpa Tenzing Norgay realizaram a primeira ascensão do Everest chegaram ao jornal londrino The Guardian com quatro dias de atraso. Trinta anos depois, em 1983, o cineasta de altitude David Breashears transmitiu as primeiras imagens ao vivo do cume da montanha. Tudo mudou novamente em meados dos anos 90, com o desenvolvimento dos telefones satelitais e a popularização da internet. Repentinamente, as expedições estavam sendo cobertas praticamente em tempo real por produtoras pioneiras como a Quokka Sports e a MountainZone – que pareciam incríveis até a hora em que você realmente participasse de alguma de suas viagens.


MESTRE: Alex Honnold escala uma torre do Ennedi


TUDO PELA FOTO: Renan Ozturk se estica todo para registrar a melhor imagem

Em 1999, a Quokka investiu quase US$ 100 mil para enviar a mim, Jared Ogden, do Colorado, e o falecido Alex Lowe, considerado o melhor alpinista do mundo naquele tempo, para escalar a Great Trango Tower, uma torre de 6.286 metros localizada na cordilheira do Karakoram, no Paquistão. Nós três – todos patrocinados pela TNF com aproximadamente US$ 30 mil – fomos acompanhados por dois cineastas de escalada.

A Trango era considerada a próxima fronteira em cobertura de expedições. Todas as noites, depois de nos recolhermos aos nossos portaledges (pequenas plataformas penduradas na encosta), sacávamos nossos minilaptops, escrevíamos relatos para jornais e editávamos fotos e vídeos de má qualidade – e depois mandávamos tudo para o campo base por meio de um modem via rádio. As coisas deram errado praticamente desde o começo.

Alex ficou doente e teve que descer a uma altitude menor para acelerar sua recuperação. Antes de ir embora, enviou um recado muito curto para a civilização: “Tem uma vibe ruim no acampamento”. Ele estava bravo principalmente comigo. Mais tarde, confessei em um diário online: “Alex e eu estamos sempre discutindo por bobagem. Infelizmente, chegamos à conclusão de que nunca escalamos juntos só por diversão. Tudo que fizemos foi em frente às câmeras, e isso tornou a convivência mais difícil para nós”.


PRIMEIRÃO: O britânico James Pearson chega ao
cume da primeira torre escalada pela equipe no Chade

À medida que a viagem prosseguiu, continuaram as discussões. “Nos comunicávamos só por meio de um website”, disse Jared. Acabamos nos tornando uma versão fajuta do programa de TV No Limite – o que era exatamente o objetivo da Quokka, cujo produtor, Brian Terkelsen, tinha sido o co-fundador do Eco-Challenge em 1993, ao lado de Mark Burnett, criador do Survivor (que no Brasil ganhou o nome de No Limite).

Os dois haviam passado anos desenvolvendo as fórmulas dos reality shows para TV, que focavam nas dinâmicas de relacionamentos. “No Survivor, as pessoas falam uma coisa na sua cara e depois fazem sua ‘confissão’ para a câmera”, conta Brian, que agora é presidente de uma empresa de propaganda em Nova York. “Nas torres de Trango, foi exatamente a mesma coisa, só que mais crua e real.” Para mim, a pior parte foi quando eu estava pendurado a centenas de metros de altura, enquanto um rato de escritório da Quokka lá em São Francisco, na Califórnia, me dava broncas através de um rádio. Eu tinha um jeito arrogante, ele disse. E perguntou se dava para eu trabalhar um pouco mais.

Alguns escaladores, observando de fora, ficaram ainda mais desapontados. O alpinista americano Steve House criticou nosso procedimento no American Alpine Journal de 2000, escrevendo que “patrocínios envolvendo uso pesado de câmeras, sites e filmes são incompatíveis com as táticas modernas e leves”.

Esse problema dissipou-se desde então, à medida que os equipamentos de vídeo digital se tornaram ao mesmo tempo eficientes e leves. Enquanto isso, o mundo todo começou a assistir pela internet a vídeos curtos – incluindo aí os escaladores dirtbag desgrenhados e meio hippies que povoam lugares como o Yosemite, na Califórnia. Ogros como eu ainda precisam representar em frente às câmeras, mas a verdade é que estamos mais felizes do que nunca com as imagens de hoje – porque desta vez são escaladores de verdade dirigindo o processo criativo.

O fato de a Camp 4 receber encomendas dos nossos patrocinadores só nos deixa mais relaxados: o trabalho deles é nos fazer aparecer bem na fita. “Todos os envolvidos com produção, roteiro e direção são atletas”, diz Jimmy. “Nós sabemos quando está tudo bem em produzir certas cenas e fazer as pessoas repetirem movimentos várias vezes, e quando é hora de mandar bala e escalar. Entendemos os atletas porque somos atletas.”

A PRIMEIRA VEZ QUE OUVI FALAR DO ENNEDI foi por um escalador italiano que havia visitado as montanhas Tibesti, no norte do país, no final dos anos 90. Pesquisei a região no Google Earth e achei fotos que confirmaram que a área era repleta de torres de arenito. Daí liguei para Jimmy, que comprou a ideia. Sugeri a viagem ao comitê de expedições da TNF, eles morderam a isca e, em novembro de 2010, lá fomos nós.

Em N’Djamena, capital do Chade, nosso guia local, um italiano de 66 anos chamado Piero Rava, nos ajudou a armazenar a bagagem em duas Toyota Land Cruiser e uma Range Rover. Partimos por uma das únicas estradas pavimentadas do país, passando por pequenas lojas e casas de barro que pontilhavam aquele mundo plano de argila. Estávamos na estrada há menos de 1 hora quando Piero apertou uns botões no seu GPS, virou para o leste e lançou-se no deserto. “Este é o meu caminho para o Ennedi”, explicou.

Durante os quatro dias que se seguiram, cruzamos 640 quilômetros de deserto, terminando num labirinto de torres, arcos e cânions de arenito. Passamos uma noite na base de uma torre de 60 metros e, pela manhã, James organizou os equipamentos de segurança (camalots e stoppers) que iria usar nas fendas para proteger nossas quedas. Alex, que só escala em solo (ou seja, sem nenhum tipo de equipamento de segurança), saiu para escalar algumas das torres ao redor – sem corda ou proteção alguma.

Enquanto isso, Jimmy e Tim escalavam formações próximas dali para pesquisar ângulos diferentes, e Renan montou uma grua de alumínio com 6 metros na base da via, de onde filmaria nossa escalada. Em 30 minutos, a Camp 4 havia estabelecido um estúdio remoto. Como diz Jimmy, uma equipe leve e rápida torna um projeto como este viável e único. “Se você grava com uma grande produtora, está fazendo um filme – não está numa expedição”, diz. Mais tarde, acomodamo-nos ao redor de uma mesa improvisada com uma placa de madeirite. James digitou um post no blog, enquanto os caras da Camp 4 transferiam as filmagens do dia para o HD. Eu me sentei atrás de Renan e tomei uma vodca enquanto ele olhava as imagens, salvando fotos do filme para postar.

Por volta das 22h, arrastei-me para dentro do meu saco de dormir, enquanto Jimmy e Renan saíram para montar seu equipamento fotográfico noturno. Quando dei por mim, já eram 4 da matina, e Jimmy estava me chacoalhando para eu acordar. Era hora de atuar em nossa primeira subida, com a luz perfeita. Jimmy não havia dormido.

Antes de se tornar o co-fundador da Camp 4, Jimmy conquistou fama como um dos mais importantes fotógrafos de aventura da sua geração, capaz de captar lindas imagens ao mesmo tempo que escalava ou esquiava no Everest – fazendo piadas o tempo todo. Nascido em Mankato, no Minnesota, em 1973, segundo filho de imigrantes chineses, Jimmy foi uma criança precoce: aprendeu violino clássico aos 4 anos, depois se tornou fluente em chinês e inglês, além de aluno nota dez. Depois de se formar no Carleton College em 1996, tirou um ano de folga em vez de fazer pós-graduação, como seus pais desejavam.

Um ano se transformou em dois, três, enquanto Jimmy se aproximava dos escaladores do famoso Camp 4 do Yosemite, a meca dos dirtbags e agora a origem do nome de sua empresa. Em uma manhã de abril de 1999, depois de terminar uma via no famoso paredão El Capitan, Jimmy e seu parceiro de escalada Brady Robinson estavam acampados no cume. Num gesto que se tornou um tipo de lenda entre os escaladores, Jimmy acordou, percebeu a bela luz e pegou a câmera de Brady para tirar uma foto dele dormindo. Brady vendeu a foto para a marca de equipamntos outdoor Mountain Hardware por US$ 500 e entregou o dinheiro a Jimmy. “Pensei então: eu só preciso tirar uma foto por mês e posso ficar escalando para o resto da minha vida”, relembra Jimmy.
Ele usou o dinheiro para comprar uma câmera, que levou para viagens de escalada no Paquistão. Quando voltou aos EUA, vendeu mais fotos para a Mountain Hardwear, e seu trabalho chamou a atenção do escalador Conrad Anker, patrocinado pela The North Face. Depois de uma viagem juntos ao Paquistão, Conrad convidou Jimmy, que tinha então 30 anos, para um trekking através do platô Chang Tang, no Tibete. A equipe incluía o falecido escalador e fotógrafo Galen Rowell, mentor e herói de Jimmy, o alpinista Rick Ridgeway, membro da equipe que realizou a primeira ascensão ao K2, e David Breashears, famoso por seu filme do Everest em formato Imax. Quando David desistiu do projeto, Jimmy tornou-se o câmera. “Comprometa-se e você vai se dar bem”, disse-lhe David.

Depois de ver o material de Jimmy, David contratou-o para uma expedição ao Everest em 2004 para gravar e fotografar, material este que se tornou o documentário Storm Over Everest, de 2004. Jimmy teve seu próprio momento Quokka naquele ano, com o canal a cabo Rush HD, numa viagem a Mali. “Os câmeras eram muito legais, mas os diretores e produtores não entendiam nada do que estava rolando”, lembra Jimmy. Eles ficavam tentando mandar em onde e como os escaladores deveriam escalar. “Foi péssimo.”

Em 2005 ele já era o fotógrafo dos principais projetos de escalada da mídia. Naquele ano, ele fotografou cinco expedições, inclusive a última escalada do lendário Ed Viesturs pelas montanhas com mais de 8 mil metros, no Annapurna. Jimmy logo conseguiu dividir seu tempo em terra entre seu novo lar em Wyoming, nos EUA, e uma cabana de surf em Sayulita, no México.
A evolução de Jimmy de escalador-cineasta-produtor foi possibilitada por saltos monumentais na tecnologia de câmeras. Em 2008, a Canon e a Nikon começaram a diminuir o volume das câmeras SLR compactas usadas pelos fotógrafos de aventura. “Antes você precisava de uma câmera de US$ 100 mil dólares e 20 quilos para fazer um bom vídeo”, diz Jimmy. “De repente, conseguíamos filmar e fotografar usando o mesmo equipamento, só que melhor e mais leve.”


SEMPRE EM FRENTE: Mais uma bela ascensão no Ennedi


CARAVANA: A equipe de escaladores, fotógrafos e diretores arma
acampamento no meio do deserto do Chade

Jimmy e Tim, que vêm fotografando as propagandas da The North Face há vários anos, já faziam parte dos mesmos círculos. Renan havia criado seu nome como um lobo das montanhas, pegando carona pelo oeste americano, escalando paredões em estilo alpino e desenhando belas cenas das escaladas em seu caderno. Ele se tornou atleta da TNF em 2005 e, em 2009, juntou-se a Jimmy e Conrad Anker para uma escalada no Meru Central, na Índia. Foi quando Jimmy lhe ensinou a filmar. A decisão de criar uma produtora surgiu numa reunião da TNF. “Toda empresa, desde a TNF até uma imobiliária, precisa de vídeos curtos para propagar seus feitos”, explica Jimmy. “Isso nos permitiu assumir projetos maiores.”

Eles juntaram seus equipamentos, preencheram a papelada e montaram a Camp 4 Collective. Tinham o luxo de possuir um cliente como a The North Face, mas rapidamente solidificaram uma lista de outros clientes, como os óculos de sol Revo e a loja de equipamentos Eastern Mountain Sports. Eles ficaram atarefados tão rapidamente que só no Chade é que os três conseguiram trabalhar juntos num mesmo projeto.

A CADA DOIS DIAS NO CHADE, Piero nos levava a uma nova área, e lentamente nos enfronhávamos mais profundamente no Ennedi. No 13o dia, subimos numa aresta e, pela primeira vez, conseguimos ver uma beira do Saara, onde a área de cânions terminava e começavam as dunas onduladas em direção ao Sudão.

Alguns dias depois, Piero nos levou a um cânion estreito e estacionou seu carro abaixo do Aloba Arch, uma das mais altas torres naturais em forma de arco do mundo. As paredes do cânion erguiam-se 200 metros acima da nossa cabeça. Alex Honnold, que havia escalado um arco menor no dia anterior, estava babando, porém quase não havia fendas para colocarmos nossa proteção.

Fomos absorvidos por uma discussão de possíveis vias, quando cinco jovens vestindo roupões brancos e turbantes se materializaram de dentro do cânion. Imediatamente começaram a gritar conosco em árabe. Nenhum de nós tinha a menor ideia do que estavam falando, mas ficou óbvio o que eles queriam quando um dos caras agarrou a mochila de Renan, que tinha US$ 10 mil dólares em equipamento fotográfico.

Quando Renan pegou-a de volta, os garotos sacaram uma faca e começaram a vir para cima da gente enquanto batiam no peito com o punho cerrado. Eles nos encurralaram naquele cânion estreito, e não tínhamos escapatória. O mesmo garoto se aproximou de Jimmy e arrancou seus óculos escuros. Renan, com a câmera, começou a gravar tudo – o que certamente não estava ajudando a acalmar a situação. Jimmy pegou uma pedra do tamanho de uma bola de beisebol e segurou-a ameaçadoramente. Eu peguei um galho e caminhei na direção deles. Encaramos os jovens, e dava para ver que eles se deram conta de que não sairiam dali sem lutar. De repente o garoto jogou os óculos de sol no chão. Segundos depois, desapareceram exatamente de onde vieram.

De volta aos veículos, Renan nos mostrou as imagens que havia captado. De alguma forma, ele conseguira segurar a câmera firmemente enquanto o cara da faca o ameaçava. O foco e o enquadramento estavam perfeitos, e o sol brilhava na ponta da adaga. “Isto definitivamente vai para o filme”, disse Jimmy, enquanto colocava de volta os óculos escuros e entrava na Land Cruiser.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2012)