Lista de ano novo (e vida nova)

ARQUIVOS GO OUTSIDE
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2011)

Aproveite o astral de começo de ano para pensar nas coisas que você deseja realizar não somente em 2012 – mas na vida toda. A gente ajuda sugerindo alguns itens que nós, da Go Outside, temos em nossas listas. Escolha alguns para este ano, planeje outros para o futuro próximo ou, melhor ainda, crie a sua própria lista de sonhos possíveis e experiências para enriquecer a sua vida

Tenha um filho
“É claro que isso não se aplica a todo mundo, mas, para os que pensam no assunto, quase sempre digo SIM, TENHA UM FILHO. Um filho seu, um filho adotado, um enteado que te escolhe como pai ou mãe. Não existe projeto maior, nem amor mais intensamente belo. A chegada da minha filha, Isabel, atualmente com 5 anos, me jogou ainda mais na vida, como se agora as coisas fossem realmente para valer. Por ela, preciso fazer um check-list periódico para ver, de tempos em tempos, quanto eu ‘cresci’, e para conferir se estão equilibrados os níveis de sanidade, saúde, felicidade, independência, diversão. Me sinto na obrigação de estar em dia com a vida e correr atrás dos eventuais prejuízos, para poder repassar a ela tudo o que eu conquistar de melhor. Durante os nove meses de gravidez, e até hoje, toda vez que me surpreendo com o que brota espontaneamente da minha filha sinto que vou passar boa parte da minha vida assistindo a formação desse pequeno mundo novo.”
(MARIA CLARA VERGUEIRO, repórter da Go Outside)

Leia um clássico
“Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”, diz o autor italiano Italo Calvino, no ensaio Por que ler os clássicos. De fato, a gente só entende o valor de um quando está diante dele. Os maiores gênios da literatura não são imortais por acaso: elaboraram linguagens, teorias, tramas e personagens que atravessaram séculos, sobreviveram a guerras mundiais, a novas tecnologias e ao motor da história, porque cabem em todos os tempos e dialogam com todas as culturas. Maquiavel, Shakespeare, Dostoievsky, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Saramago, Orson Wells, Fitzgerald, Hemingway, Simone de Beauvoir, Virginia Wolf, Clarisse Lispector… Escolha uma edição caprichada, a melhor tradução, ou o texto original. Se você não quiser encarar um russo barbudo do século 18, não tem problema: existem clássicos atuais, que praticamente nasceram nessa categoria e que ainda trazem boas narrativas de aventura, como é o caso de Na Natureza Selvagem (de Jon Krakauer), Tocando o Vazio (de Joe Simpson) ou Na Patagônia (de Bruce Chatwin), por exemplo.

Viaje sozinho para um lugar onde falam outra língua
Bilbao, Osaka, Moscou, Oslo, Mianmar, Túnis, Vólos… Não faltam lugares onde a língua local é totalmente incompreensível para você. Só fala português? Nadinha de inglês? Depois de um par de dias em uma dessas cidades, você, na melhor das hipóteses, terá se tornado um perito da mímica. Como um gringo vermelho de sol numa vila de pescadores do Ceará, vai descobrir a sonoridade da língua, pagar uma penca de micos e se sentir “o cara” quando for capaz de montar uma frase inteira como “a conta, por favor”. Por que você precisa passar por essa? Porque é divertido, te põe mais em contato com as pessoas e a cultura local, e te obriga a ser mais espontâneo e humilde. Se nada disso soa bem para você, que na verdade é um cara tímido e acha este cenário uma tortura, veja por outro lado: dá para ficar em silêncio por dias, sem se comunicar com ninguém, como se estivesse em Marte.

Abra mão de algo
Desapegar-se de um vício ou hábito é um clássico entre as resoluções de Ano Novo. Há quem aproveite para se reeducar: deixar de comer tanto chocolate, parar de fumar, de beber, ou largar mão da preguiça. Seja qual for o seu “vício”, abrir mão de algo de que você não gosta – mas que é muito presente em sua vida – é uma experiência fortalecedora e libertadora. O ex-jogador Raí de Oliveira, 45 anos, tomou uma dessas decisões ao voltar de uma temporada em Londres: ele passaria um ano sem carro, vivendo em São Paulo. A tarefa acabou se mostrando menos difícil do que ele imaginou e hoje ele se encaminha para o terceiro ano sem carro. “Resolvi experimentar porque o trânsito me deixava muito estressado. Hoje, tenho mais contato com o mundo real e com as pessoas”, conta o craque, que é pedestre inveterado, usa a bike, e quando tem que ir mais longe, pede carona ou vai de taxi.

Esquie e surfe no mesmo dia
Luxo para poucos, esquiar e surfar no mesmo dia é uma experiência inesquecível. Sair de uma queda no mar, entrar no carro, pegar a estrada e dropar uma montanha de neve fresca (ou fazer o percurso inverso, da montanha pra praia) é comparável, para os amantes dos esportes de prancha, ao Nirvana. E isso ainda vem combinado às paisagens incríveis de lugares como Marrocos, Chile, Califórnia e Canadá. Neste último, é possível surfar na ilha de Vancouver e seguir para uma session de snowboard em Whistler. Quem preferir a América do Sul, pode apostar nas esquerdas épicas de Punta del Lobos, em Pichilemu (Chile), somadas aos picos nevados de Chillán. Nos Estados Unidos, o ideal é surfar em San Diego e seguir viagem até Big Bear ou Snow Summit, todos na Califórnia. E se você quer agregar uma dose extra de exotismo à experiência, dá para botar para baixo nas ondas de Casablanca e depois esquiar nas Montanhas Altas, no Marrocos.

Vá dançar na África
A maioria esmagadora das pessoas tende a entender que o continente africano é uma coisa só, e não a riquíssima soma de culturas e etnias que na verdade é. Para piorar, a África é muito mais lembrada pelos conflitos e pela miséria do que pelas belezas naturais, cores, ritmos e história milenar. Uma boa chance de enterrar alguns mitos e descobrir uma das faces deste continente é se jogar no Festival de Música de Mali. Ali, no meio do deserto, perto do oásis Essakane, rola este que passou a ser considerado o principal festival de música africana do mundo. Desde 2001, na sua primeira edição, cerca de seis mil pessoas se reúnem ao longo de três dias, em meio a tuaregues (grupo étnico típico da região), às cores do Saara e à ampla sonoridade da música africana. Numa dessas, você pode descobrir que ama a banda Tinariwen (myspace.com/tinariwen) fundada na década de 1970 por membros rebeldes da comunidade tuaregue, e que é conhecida pelos amantes da world music por causa do “blues do deserto” que tocam. Ou então talvez entenda que a música africana não é só e necessariamente “étnica” ao se deparar com um rapper fazendo rimas e levantando a multidão com a energia de um mestre de cerimônias norte-americano. Descubra mais da música do Mali em raizeseantenas.blogspot.com.

Prepare um jantar para seus amigos mais queridos
“Comida feita com amor alimenta mais do que o estômago”, diz a chef de cozinha Daniela França Pinto, dona do restaurante francês Lola Bistrot, em São Paulo. “O barato do cozinheiro é exatamente manifestar o que sente preparando refeições, o resto é alegoria. Tem que começar pelo amor.” Daniela garante que qualquer um pode se aventurar nessa viagem – não precisa ser perito. Os ingredientes são o seu convite, a escolha daquilo que você quer oferecer, a compra inspirada dos ingredientes, o capricho da mesa posta, o clima da casa, um playlist especial e, claro, a bebida certa para tudo isso. O tempero é o carinho colocado em cada uma dessas etapas. Se você não é um exímio cozinheiro, escolha um prato que você se sente seguro preparando, e capriche na qualidade dos alimentos. Massas costumam ser simples de fazer, não te prendem na cozinha por muito tempo e agradam a quase todo mundo. Um bom peixe assado também é simples e pode ser incrementado com um molhinho diferente. Para se animar, escolher o prato e até aprender a montar uma mesa bonita: panelinha.com.br.

Veja o mundo de cima
Não dá para sair dessa vida sem ter visto o mundo de cima. Não, de dentro do avião ou do alto de uma montanha não vale. Estamos falando aqui de se jogar no vazio, com vista para um novo horizonte, como uma das nossas repórteres, que tem praticamente fobia de altura, mas mandou ver num salto duplo de paraquedas em Búzios com o recordista em permanência no ar, Gui Pádua, numa linda manhã de sol. Ela garante que vale a pena. Se jogue: brasilparaquedismo.com.br; airadventures.net.

Faça uma jornada espiritual
Em algum ponto da vida, todos precisam fazer um mergulho interior mais intenso, até para eventualmente enxergar o próprio caminho com mais clareza. Cada um, é claro, pode e deve buscar a própria maneira de fazer essa busca. O preparador físico e corredor de aventura João Bellini escolheu passar dez dias participando de um Vipassana, um retiro promovido em vários lugares do mundo por uma organização sem fins lucrativos chamada Dharma. São dez dias de muita meditação, descanso e silêncio absoluto – tão difíceis de serem suportados por nossas mentes aceleradas que João, que fez o Vipassana na Nova Zelândia, na época em que morava no país, batizou o retiro de “Ecomotion Pro das meditações”. “O grande ensinamento deles, por meio da meditação, é aceitar o momento como ele é, sem querer escolher sensações ou provocá-las, apenas observando o que acontece consigo, sem aversão ou apego a nada, vivendo o presente”, traduz ele. Muita gente que encara o Vipassana não consegue permanecer os dez dias. “A corrida de aventura me ajudou, porque eu já tinha a cabeça forte para aguentar desafios longos, com desconforto físico. Depois que dominamos o corpo, a mente e a alma trabalham com mais tranquilidade, menos revoltas”, diz. Se você está precisando de um mergulho assim – não importa se o que busca está dentro de um templo ou em cima de uma montanha –, não esqueça que o objetivo final não é somente atingir o desejado, mas se conhecer e voltar uma pessoa melhor de lá. Portanto, pode começar a treinar já. (dhamma.org)

Passe uma noite acampado na floresta
Você conhece os sons noturnos de uma floresta? Um dos repórteres dessa revista, perito na arte de acampar e definitivamente um homem da natureza, diz que um dos maiores baratos de um pernoite desses é ter a atenção voltada para as vidas que despertam e se recolhem. Neste momento, as coisas mais simples do cotidiano têm o seu momento de gala. Os sentidos se apuram, o tempo muda seu ritmo, e preparar uma refeição, dormir ou ficar em silêncio passam a ser ações mais profundas. Dicas de um especialista no assunto: escolha o lugar onde montar o acampamento antes do cair da tarde. Em muitos lugares, às 18h já está escuro e você corre o risco de armar a barraca do lado da toca da onça. Esteja devidamente equipado, não apenas das ferramentas essenciais, mas também de ingredientes que componham um bom jantar. De preferência, guarde os alimentos fora da barraca e acima do chão (eles atraem animais e insetos). Por falar em insetos, em algumas florestas é melhor dormir numa rede com mosqueteiro do que na barraca, que por ficar em contato com o chão pode ser invadida por formigas e até (socorro!) escorpiões. Se você não é muito adepto da solidão, leve um acompanhante porque na floresta a própria existência pode falar alto demais.

Proporcione uma noite inesquecível a quem você ama
Aposente os clichês de “noite inesquecível” – velas aromáticas, incensos amarra-amor, lingeries de lojas de sex shop e o playlist cheio de sucessos mela-cueca – e bote a criatividade para funcionar para divertir e apaixonar o seu “alvo”. Vale sequestro relâmpago no meio de um dia de trabalho (não esqueça de perguntar se ela/ele tem uma reunião importante), bate e volta para a praia, maratona de fantasias sexuais, uma noite no barco, festa secreta, ou tudo isso combinado. O importante é fazer diferente e muito bem feito. Camila Junqueira é colaboradora VIP desta revista e atleta de mão cheia. Na primeira viagem que fez à Espanha para encontrar o atual namorado, Juan, foi surpreendida de uma forma que nunca vai esquecer. No caminho entre o aeroporto em que desembarcara e a casa dele, ele sacou um caiaque duplo de cima do carro e lá foram os dois remando numa represa linda, às oito da noite de um verão muito quente, ainda com a luz do sol. “Num certo ponto me dei conta de que havia um cordão laranja amarrado num dos pedaços de cortiça que se espalhavam na água, vindas das árvores típicas da região. Curiosa e incentiva pelo Juan, comecei a enrolar o cordão no pedaço de cortiça, e qual não foi minha surpresa ao ver uma garrafa de cava espanhola na outra ponta! Foi maravilhoso: jantamos pão, queijo de cabra e bebemos a garrafa inteira. Tudo numa ilhota no meio da represa, com por do sol ao fundo.”

Realize o sonho de alguém
Mais do que testemunhar uma reação de extrema felicidade, imagine fazer um projeto secreto e proporcionar a uma pessoa aquilo que ela sempre quis. É quase como brincar de Deus, fada madrinha ou Silvio Santos (lembra da Porta da Esperança?). O alvo mais fácil são as crianças, que ainda não tiveram muito tempo de elaborar sonhos complexos. Mas se você for um estrategista de mão cheia, pode mover mundos e fundos, pessoas e organizações, para materializar um desejo mais elaborado. Talvez até seja mais simples: realizar o sonho de alguém pode exigir, simplesmente, generosidade e compreensão para darmos ao outro aquilo que ele tanto deseja.

Reúna um grupo de treino
Pegue um bom horário (as manhãs costumam ter os melhores) e trace um caminho gostoso de ser percorrido. Convide seus parentes, colegas de trabalho e amigos. Em breve vocês estarão encomendando camisetas personalizadas.

Invente um jargão
Vai colar se servir a um propósito. É por isso que “falar pelos cotovelos” continua na boca do povo. Mas tem que ser conciso, impactante e ritmado. Não deixe que manjem de cara. Por exemplo: você pratica slackline e quer que as pessoas saibam, então escreva “É nóis na fita” em uma camiseta e divulgue o quanto sua diversão vale a pena ser experimentada.

Aprenda a tocar um instrumento
Comece pelo violão, é fácil. Nomes como Eric Clapton, Bruce Springsteen e Bob Dylan não precisam de mais do que três acordes, então você também não vai precisar. Comece com sol, dó e ré, e aprenda a tocá-los sem palheta – vai estar escuro, você vai estar bêbado e as chances de perdê-la são enormes. Não escolha sons muito obscuro – as pessoas precisam cantar junto –, mas também não precisa cantar só aquela do Bob Marley. A prática leva à perfeição, então escolha um bom repertório e cuidado para não castigar os ouvidos alheios. Acha sua voz péssima? A do Nando Reis também é. Tome um gole de uísque e abra a garganta.

Vá atrás do seu herói
“Eu não sou budista, mas de todas os seres humanos na Terra, a pessoa que eu mais gostaria de ver era o Dalai Lama – ele esteve no topo da minha lista por mais de uma década. Alguns dos meus heróis morreram antes que eu conseguisse conhecê-los: Edmund Hillary, Evel Knievel, James Brown, mas eles não são o Lama. Em maio deste ano, decidi parar de esperar, chequei a agenda dele, resgatei algumas milhas de viagem e peguei um inconveniente vôo noturno para Indianópolis, nos Estados Unidos, para ouvir o guia espiritual de 75 anos de idade falar por uma hora, para uma multidão de mais de nove mil pessoas, em uma remota e calma quadra de basquete. Sim, eu poderia ter assistido o discurso pela internet, mas não teria sido a mesma coisa – havia algo mais operando naquela arena, algo único que não é possível traduzir por meio de nenhum veículo, não consigo dizer o que, você simplesmente tem que estar lá”. (JUSTIN NYBERG, editor assistente da Outside)

Desligue-se por duas semanas
Quando dizemos “desligue-se”, estamos falando sério. Nada de telefone, computador, televisão ou relógio. Um dia totalmente desconectado equivale a dois dias de férias com iPhone ou Blackberry no bolso.

Vença uma prova na categoria da sua faixa etária
Comece por baixo. Uma prova curta de mountain bike, com apenas alguns competidores da sua faixa etária, é muito mais fácil de vencer do que um Cape Epic. Para encontrar uma prova dessas na sua região, procure em sites como ativo.com e webventure.com.br (em breve, o novo site da Go Outside também terá um calendário supercompleto). Dica: provas novas, ainda não consolidadas e famosas, costumam ter menos competidores e um nível mais baixo. Se puder ir mais longe e não fizer questão de uma prova oficial, procure no active.com, que, entre outras coisas, lista eventos menos conhecidos, como a Northwest Passage Marathon, na ilha de Somerset, no Canadá. Em 2010, a corrida teve 13 corredores – ao todo!

Faça o trekking de Torres del Paine – sozinho
Aproximadamente 130 mil turistas visitam anualmente o parque nacional chileno de Torres del Paine, mas a maioria não sai do circuito de 75 quilômetros conhecido como Rota W, que oferece vistas espetaculares do maciço Paine (3.050 metros). Os vales esquecidos – valle del Silêncio, valle Bader e valle del Pingo – são três áreas com formações de granito e glaciares, perfeitas para serem conhecidas à pé, entre os meses de setembro e outubro ou março e abril (fora da alta temporada). As únicas pessoas que você encontrará lá serão escaladores durões nas espirais do Paine. A Antares Patagônia Adventure, agência de viagens local, oferece uma viagem de nove dias pela região, que inclui sete horas de vigoroso trekking diário, duas noites em campos de escalada e algumas noites de recuperação em refúgios rústicos e alojamentos clássicos. A partir de US$ 1.785. antarespatagonia.com

Cruze um oceano velejando
Pode ser o Pacífico, de maio a setembro, quando o vento está a favor da Califórnia ao Havaí. O clima vai esquentando a cada dia, plânctons fosforescentes iluminarão o mar durante as noites e a música havaiana tocará no seu rádio. Mas antes de você vender sua casa para comprar um barco, converse com alguns profissionais. É preciso ter um grande conhecimento de mar e de navegação para fazer uma viagem dessas. A escola de vela BL3, em Ilhabela, estado de São Paulo, é uma boa opção para começar a concretizar esse sonho.
bl3.com.br

Pedale no Alpe d’Huez
É a subida mais famosa do mundo, local da primeira chegada em topo de montanha do Tour de France, e constitui uma das etapas da prova quase que todos os anos desde 1976. O trecho se estende por tortuosos 14 quilômetros, com 21 curvas fechadas (todas batizadas a um vencedor dessa etapa), uma graduação média absurdamente dura de 7,9% e elevação total de 1.109 metros. Traduzindo: uma subida interminável, que pode acabar com você. Prefere algo menos sofrido? Existem operadoras, como a Cycling Classics, que oferecem roteiros de ciclismo em rotas clássicas como essa e com outras ascensões famosas. O role pelo vale de Oisans dura cinco dias e custa US$ 805. cyclingclassics.com

Pise na Antártica
O continente ingenuamente conhecido como “cubo de gelo” é o que temos de mais próximo em relação a visitar outro planeta, em termos de experiência. Cada vez mais companhias de viagem estão operando na região, mas escolha uma responsável, como a Intrepid Travel.

Cumpra suas promessas
“Eu a vi pela primeira vez em uma revista quando tinha 16 anos e anotei em um diário: uma casa de fazenda no final de uma estrada remota em Provença, Itália, com um pequeno restaurante elogiado pelo guia Michelon. Escrevi o nome, La Bastide de Moustiers, e jurei que um dia levaria uma mulher maravilhosa para lá. Depois de 18 anos depois, cumpri a promessa. Valeu a pena esperar – e encarar a conta ridícula. A cama da nossa suíte era como uma nuvem, a refeição – um pombo que foi caçado naquele dia era o prato principal – preparada com ervas e vegetais colhidos em uma horta particular e o vinho, um Krug Rose safra 1998, foram uma revelação. Na manhã seguinte, eu e minha mulher jogamos bocha com os cozinheiros, depois caminhamos sem compromisso pela cidade medieval e subimos até colinas amaciadas pelo vento. O lugar era tão sedutor que abandonei meus planos de escalar paredões de calcário em um pico de escalada famoso ali perto. Em vez disso, fiquei sentado ao sol, massageando minha pança, me imaginando velho e contente, e fazendo viagens como essa sempre. Quartos duplos a partir de US$ 246: bastide-moustiers.com
(ERIC HANSEN, colaborador habitual da Outside)

Faça um safári a pé
Assistir a um leão se refestelando com a carcaça de um gnu no banco de trás de uma Land Rover aberta é mole demais. Testemunhar esses magníficos animais a pé – o que é permitido em apenas alguns lugares da África, como no delta do Okavango, em Botsuana – é que é o bicho. Você irá sentir na pele o perigo ancestral com que nossos ancestrais tiveram de viver acelerar seu coração. Feche a sua viagem com os especialistas em África da Uncharted Outposts e exija ter como guia Ralph Bousfield. unchartedoutposts.com

Voluntarie-se depois de um desastre
Mas faça direito. Cair de paraquedas em uma zona de desastre como a do Haiti ou do Paquistão, sem habilidades ou missão específica, vai causar menos impacto do que doar R$ 10 por SMS para a Cruz Vermelha. Primeiramente, faça um curso de primeiros socorros – o Senac oferece um com carga horária de 16 horas (senac.com.br). Depois, acesse o World Volunteer Web (worldvolunteerweb.org), um site vinculado à ONU que reúne uma quantidade enorme de oportunidades de trabalhos de campo em áreas que precisam de ajuda. Então, espere. A maioria das regiões em que ocorrem tragédias recebe muita ajuda em um primeiro momento, mas depois de um tempo precisam desesperadamente do socorro –que deixa de existir.

Não pare nunca
“A leveza de andar de esqui é realmente intoxicante”, diz Klaus Obermeyer, 90, bávaro que fundou a marca de equipamentos de esqui Obermeyer. Ele se viciou no esporte aos 3 anos de idade, utilizando esquis feitos de caixotes de laranja. Desde que se mudou para Aspen, em 1947, Klaus perdeu poucos dias bons de neve. “Os dias que você perde não voltam mais”, diz ele. Até recentemente, ele gostava de despencar nas pistas, esquiando na mesma velocidade de quando era mais jovem – aos 85 ele foi pego esquiando a 136 km/h. Atualmente, Klaus sai de seu escritório furtivamente para esculpir curvas mais suaves na neve. “Elas são rápidas e agradáveis e suaves e maravilhosas”, conta ele. “Faça tudo com amor e agradeça o maravilhoso presente que é o seu corpo. Tenho 90 anos e continuo constituindo músculos”. (STEPHANIE PEARSON, colaboradora habitual da Outside)

Troque de elemento
Além de a mudança de ambiente por si só já ser uma novidade, cada esporte guarda algo peculiar. “No paraquedismo, você aprende a ficar sensível às frações de segundo, enquanto no mergulho é possível permanecer quase uma hora admirando o mesmo ambiente”, diz o multiesportista Luis Roberto Formiga, que se reveza entre o ar, a água e a terra como quem troca de roupa. Formiga também surfa, anda de skate e de snowboard, e se arrisca no kart, que, segundo ele, ensina a pessoa a desenvolver a “concentração endurance”. “O esporte é a minha religião. Consegui tudo por meio dele: determinação, objetivo, persistência”, diz ele. Algumas poucas “preces” em modalidades que não sejam a sua já surtirão bons efeitos. Mas vá com calma e humildade na hora da transição. “Aprendi, a duras penas, que não é por que eu surfava e andava de skate que já sabia andar de snowboard também”, finaliza Formiga, que pagou com um pé quebrado o atrevimento.

Conheça todos os parques nacionais brasileiros
“Sempre tive uma relação com os parques nacionais semelhante àquela que se tem, religiosamente, com templos e santuários. Para mim, a partir da linha quase sempre imaginária que marca a fronteira de um parque, adentra-se um mundo verdadeiramente natural, livre das influências humanas. E isso me traz uma sensação de paz. Não se trata, evidentemente, de uma visão totalmente realista – há parques que não passam de decretos governamentais e outros repletos de problemas fundiários. Ainda assim, gosto de alimentar essa ilusão de pureza. E, de fato, há parques ou regiões específicas de parques em que essa percepção corresponde à verdade (pelo menos aos meus olhos), como alguns vales profundos da Chapada Diamantina e certos trechos do rio Jaú, no Parque Nacional do Jaú (AM), só para mencionar dois lugares que muito me encantam. Mas, depois de tanto rodar o Brasil e seus parques, não sinto mais necessariamente um mal-estar ao ver alguma interferência humana – pequenas comunidades ribeirinhas, por exemplo – nesses “meus” espaços sagrados. Às vezes, fico até esperançoso de que seja possível um mundo em que natureza e humanidade convivam em harmonia. Um mundo em que aquelas fronteiras imaginárias se tornem o que realmente são: linhas fantasiosas – e desnecessárias.”
(MARCELO DELDUQUE, editor da editora Bei)

Aprenda a fotografar
A função automática das máquinas digitais pode facilitar a vida dos fotógrafos amadores. Mas se você quiser realmente se sentir autor dos disparos, fuce as funções manuais do seu equipamento para fazer com que ele funcione como uma máquina analógica. “Pense em brincar com as variáveis da sensibilidade da câmera (o filme, nas analógicas), a velocidade, e a abertura de diafragma”, diz o colaborador da Go Outside, Edison Russo. “Se você pretende paralisar um beija-flor, precisará de sensibilidade elevada (ISO 1200, por exemplo), alta velocidade do obturador (1/2000) e diafragma F8 (uma abertura média, onde “F” é a abreviação do diafragma).” Quanto maior a escala numérica do diafragma, mais fechado ele estará, e a foto terá maior profundidade de foco. Com ele muito aberto, o fundo da foto começa a borrar logo depois do foco principal. Pode começar a brincar.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2011)