Lembranças da Brasil Ride 2011


DESAFIO: Durante 7 dias atletas do mundo todo enfrentaram trilhas da Brasil Ride 2011
Foto: Alexandre Cappi


MOTIVAÇÃO: Companheirismo entre Adriana e sua parceira, Sabrina Koester

Estava precisando de férias, de um retiro espiritual para renovar as energias, então fui para o acampamento da Brasil Ride 2011, na Chapada Diamantina, entre os dias 23 e 30 de outubro.

Para começar, quem vai para esse acampamento precisa ter um parceiro para dividir os momentos na bike — e eu tinha uma companheira de equipe desde o início do ano, que me inspirou a treinar bastante para conseguir acompanhá-la nessa longa jornada. Porém, faltando pouco tempo para iniciar a Brasil Ride, ela se machucou, e de última hora a atleta Sabrina Koester Gobbo recebeu o convite para formar a dupla Ladies Brasil Soul / RC Bikes. Quando Sabrina respondeu ao convite de forma imediata e muito motivada, tive a certeza de que com ela também haveria o companheirismo necessário para enfrentar o desafio.

O caminho até Mucugê, onde fica a primeira base do acampamento e onde a prova começa, é longo. Já no aeroporto de Salvador contamos com o transfer da organização, que reuniu os atletas em três ônibus e uma carreta para transporte das bikes, seguindo em comboio e começando os bons momentos de integração entre todos nós.

Nesse ônibus também viajou a equipe médica, mostrando que segurança é prioridade para a organização e que estaríamos bem assistidos pelo time, que há bastante tempo trabalha em eventos como Rally dos Sertões e corridas de aventura. Tratam-se de socorristas especializados em altura e áreas remotas, além de bombeiros e pilotos de moto capazes de nos acompanhar nas trilhas mais técnicas.

Chegamos ao acampamento cientes da programação, que começava com a retirada do kit de prova e a mala do evento, onde deveria caber tudo de que precisaríamos para os sete dias. Essa seria nossa única bagagem transportada pela organização. Na sequência, vieram a escolha da barraca, a montagem das bikes, o jantar e, enfim, a hora de dormir.


VISUAL: Percurso da prova conta também com uma paisagem maravilhosa, na Chapada
Foto: Bruno Senna

No amanhecer de domingo foi interessante observar a expressão de quem saia da barraca e se deparava com o belo visual da pequena Mucugê. Café da manhã, reconhecimento do percurso do prólogo, briefing para receber as boas-vindas e informações da etapa, um lanche e, às 12 horas, largava o primeiro atleta.

Essa primeira etapa teve um percurso de 12 quilômetros para definir a ordem de largada do dia seguinte e as camisas de líder. Além de divertido e técnico, o prólogo ajudou a espantar a ansiedade, o nervosismo e mostrou a “pedreira “ que teríamos pela frente.

Depois da brincadeira do dia, começava a rotina de tomar banho, cuidar da bike, organizar tudo para o dia seguinte e curtir um dos momentos mais bacanas: os jantares. Além da comida deliciosa, farta e de ótima qualidade, o jantar reunia todos os atletas para a premiação e a emocionante apresentação de fotos e filmes do dia. Nem sei como descrever a emoção por receber a camisa de líder.

A segunda etapa foi longa, com 140 quilômetros. Por isso acordamos às 4 horas para tomar café da manhã, entregar a mala no caminhão e largar às 6h em ponto. Nesse dia até que São Pedro foi generoso, mantendo algumas nuvens no céu por um bom tempo, o que permitiu a mim a à minha dupla sairmos da temida "trilha do Vietnã" sem “ferver o radiador”.

O Vietnã é um single track bem técnico, de aproximadamente 18 quilômetros, e que fica mais duro por estar do meio para o final dessa etapa longa. Demoramos quase 2 horas para percorrer esse trecho. Reabastecemos no último ponto de apoio e, sob um sol escaldante, conseguimos vencer a dura serra de 12 quilômetros para chegar ao próximo acampamento, em Rio de Contas, após 9 horas e 48 minutos pedalando.

Ao final do jantar, não sabia dizer se estava mais feliz por ter conseguido vencer o dia difícil, pela refeição maravilhosa, por manter a camisa de líder, ou se por saber que poderia dormir até tarde já que a largada no dia seguinte seria às 10h.


DAI-ME FORÇAS: Até passagens por igrejinhas locais enfrentaram os atletas da prova
Foto: Alexandre Cappi

A terceira etapa foi novidade: cinco voltas em um circuito de XCO de 7 quilômetros com subidas por estrada de terra, trechos de single track divertidos, um curto empurra bike para passar pedalando dentro de uma capela linda no alto do morro, onde alguns aproveitaram para tomar água benta e pedir proteção para o downhill técnico digno dos melhores circuitos de XCO. Outro ponto interessante dessa etapa foi a regra de cada um por si, e depois a soma dos tempos individuais para a classificação da dupla.

Mas o dia de descanso que a maioria esperava durou 2h29min na média da minha dupla.Porém para compensar não teríamos que levantar acampamento nos próximos dois dias.

Decidimos que precisávamos de recuperação. Portanto o ritmo seria um pouquinho mais tranquilo nos 81 quilômetros da quarta etapa. E esse foi um dia lindo, agradável e divertido com mais um longo single track , trechos de estradão que, segundo a Sabrina, “quando começava a queimar as pernas vinha uma descida para compensar”, e como sempre uma subida dura sob sol escaldante no final, mas que foi amenizada pelo ponto de apoio estrategicamente posicionado no meio dessa “fogueira”.

As adversárias chegaram perto, mas nossa estratégia funcionou, e após 5h24min seguiríamos vestindo a camisa de líder.

A quinta etapa foi literalmente uma pedreira, com um trecho técnico bem longo em single track de pedra, o super visual da Serra das Almas, um empurra bike para cruzar a serra e percorrer o vale por um trecho de estradão e forte calor até a serra de 10 quilômetros em asfalto, para subir e retornar a Rio de Contas.

O presente do dia foi o visual da imponente cachoeira do Rio do Brumado. E aqui passamos da metade da prova depois de pedalar 93 quilômetros em 6h39min.

Sexta etapa: 128 quilômetros sem nada técnico para passar o tempo, e como a Brasil Ride é democrática para muitos foi o percurso para acelerar, andar em pelotão e fazer o dia render no retorno para o acampamento em Mucugê.

No meu dia de cansaço e mau humor, a Sabrina soube lidar muito bem com a situação, assumindo o comando da dupla com um ritmo adequado e me levando de roda nos trechos em que dava desespero olhar para frente e não ver o fim da estrada. Foi o dia da superação, companheirismo e humildade, provando a importância da dupla em uma ultramaratona.


AJUDA: "Foi o dia da superação, companheirismo e humildade, provando a importância da dupla na ultramaratona", afirma Adriana (à esquerda)
Foto: Ivan Padovani

O presente do dia veio após o jantar, com o anúncio de que a última etapa teria o percurso diminuído para 50 quilômetros e com o trecho do prólogo fechando o dia.. .que maravilha!!!

Enfim veio a sétima e última etapa, começando em alta velocidade no meio do pelotão, que foi se fragmentando até terminar o trecho de 17 quilômetros em asfalto, seguido por um single track plano do tipo “vídeo game”, mais asfalto em pelotão e o amado ou odiado percurso do prólogo para encerrar a semana no acampamento de férias da Brasil Ride.

Cruzar a linha de chegada e vencer foi um momento mágico! Muito obrigada, Sabrina, grande atleta e parceira de verdade!

Tudo bem que voltei para casa fisicamente esgotada, mas com a alma lavada e trazendo na memória os novos amigos, a rica convivência, as emocionantes seções de fotos e vídeo, os jantares, homenagens, café da manhã com tapioca, frutas e granola Tia Sônia, o trabalho dos anjos azuis do apoio neutro da Shimano, dos anjos de vermelho da equipe médica, dos anjos da cozinha, a competência da Roma Comunicação e uma infinidade de bons sentimentos que só participando desse desafio para saber.

Fica a admiração pelos atletas de elite, que fazem a festa pegar fogo com grandes disputas, e espero ver mais atletas da elite brasileira na disputa da próxima edição, afinal temos aqui em casa uma das melhores provas de ultramaratona do mundo!

Parabéns a todos que enfrentaram a Brasil Ride!

Próximo acampamento de férias começa no dia 23 de setembro de 2012.

Adriana Nascimento foi nove vezes campeã brasileira de mountain bike. Já participou de várias provas de ultramaratona, como a Cape Epic e a Claro Brasil Ride. É treinadora de sua própria assessoria esportiva, que leva seu nome. Seu site oficial é www.anmtb.com.br