Conversa de campeão


MEDALHA DE OURO: Reinaldo Colucci é nossa maior esperança no triathlon nas próximas olimpíadas

Por Mario Mele

No fim de outubro, o triatleta brasileiro Reinaldo Colucci ganhou o ouro no Pan-Americano de Guadalajara. Com isso, garantiu a presença do triathlon brasileiro na Olimpíada de Londres, em 2012, vaga que ele mesmo deverá preencher. Com o tempo de 1h48min02seg no México, Colucci superou o norte-americano Manuel Huerta (prata) em 14 segundos e o canadense Brent McMahon (bronze) em 21 segundos. No feminino, a brasileira Pamella Nascimento ficou com o bronze.

Aos 26 anos, Colucci já é o maior nome da história desse esporte no Brasil. Este ano, ele foi um dos Outsiders, uma premiação anual promovida pela revista Go Outside com os melhores atletas do Brasil em várias modalidades (leia abaixo). Logo após a conquista do ouro em Guadalajara, o triatleta conversou com a Go Outside online.

GO OUTSIDE: Quanto foi importante o período de aclimatação para este Pan-Americano no México, já que você chegou ao país com um mês de antecedência?
REINALDO COLUCCI: Logo após o evento-teste da Olimpíada de Londres, no início de agosto, eu iniciei uma preparação voltada especificamente para a prova do Pan. Todas as fases de treinamento foram cumpridas com êxito, e isso em minha opinião foi a grande chave para o sucesso. As últimas semanas em San Luis Potosí foram de grande importância, pois, além da estrutura de alto nível que o COB disponibilizou para os atletas, eu tive tempo suficiente para me adaptar à altitude. Ainda desenvolvi algumas semanas de mais intensidade, e só então descansei para a prova. Com certeza, todo esse processo foi fundamental para meu desempenho no dia da competição do Pan.

Você declarou posteriormente à competição que fez uma “prova perfeita”. Mesmo assim, se pudesse melhorar alguma coisa, o que seria?
Talvez eu pudesse ter forçado um pouco mais o ritmo no início da corrida, para ter uma tranquilidade maior no final. Porém não tenho 100% de certeza que isso seria o ideal, já que o calor estava muito forte. Eu poderia me desgastar muito e, consequentemente, perder o ritmo nos últimos quilômetros. Por isso acho que a melhor opção foi ter mantido minha estratégia exatamente como foi feita.

Quantos dias você se permite de descanso depois de uma competição como o Pan até voltar de fato aos treinos?
Desde a prova do Pan estou descansando dos treinos. Pretendo voltar às atividades na segunda quinzena de novembro. No entanto, como minhas provas importantes serão apenas no ano que vem, a intensidade dos treinos também irá aumentar em 2012.

Como você vê o nível do triathlon brasileiro depois desse Pan? Acredita que houve uma evolução no esporte?
Sem dúvida. Este foi o melhor desempenho do triathlon brasileiro numa edição dos jogos pan-americanos, uma vez que nunca tínhamos conquistado duas medalhas numa mesma edição de um evento desses.

Você acompanhou a prova da Pamella Nascimento? O que achou do desempenho dela?
A Pamella fez uma prova de bastante coragem e garra. Ela teve a oportunidade de ganhar medalha [de bronze] e não a desperdiçou, o que já deixou nós, atletas masculinos, mais motivados para a nossa prova, que foi logo em seguida
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No dia em que você ganhou ouro no Pan, sua filha Luana completou 1 ano de idade. Você pensou muito nela durante a competição?
Coincidentemente, a Luana fez 1 ano em 23 de outubro, o dia em que ganhei o ouro. Com certeza ela é a minha maior inspiração hoje. Penso nela não só durante a competição, mas em todos os momentos. Naquele dia, quando cruzei a linha de chegada e fui falar com minha esposa, Mariana, só conseguíamos pensar em nossa filha, que estava no Brasil, na casa da minha sogra.

REINALDO COLUCCI, OUTSIDER 2010

O QUE FAZ: Triathlon
DE ONDE É: Descalvado (SP)
POR QUE ESTÁ AQUI: Campeão do Ironman de Pucón, no Chile, com significativa quebra de recorde. Após um jejum de mais de uma década, o Brasil se viu novamente no pódio de uma etapa da Copa do Mundo da modalidade, na Hungria

NA OPINIÃO DO TRIATLETA Reinaldo Colucci, 25, muito mais difícil do que nadar, pedalar e correr por horas a fio é treinar a paciência durante seu passatempo predileto: pescar. “É um ótimo exercício mental, principalmente quando não fisgo nada”, brinca.

Na vida desta que é hoje a maior promessa do triathlon brasileiro, o mar sempre esteve para peixe. Aos 15, Colucci conseguiu bons resultados logo nas primeiras provas e, três anos depois, já tinha patrocínio. “Desde o início acreditei no meu potencial para ser um atleta de alto nível”, admite, com naturalidade.

Completando uma década de fartura, a maré foi especialmente boa para ele em 2010. Em janeiro do ano passado, Colucci venceu o Ironman de Pucón, no Chile, diminuindo em cinco minutos o recorde da prova, que pertencia ao argentino Oscar Galindez. Outro momento ilustre foi no segundo semestre. Em agosto, ele levou a etapa húngara da Copa do Mundo, válida pela União Internacional de Triathlon (ITU). “Só vislumbrei mesmo a vitória a 400 metros da linha de chegada. Estava confiante no meu sprint, então arranquei e deixei para trás dois adversários que vinham na minha cola.” Fazia 12 anos que um brasileiro não ganhava uma etapa do principal tour do triathlon mundial, desde que o brasiliense Alexandre Manzan se consagrou no Japão. “Agora quero sentir o quanto posso melhorar até 2016.”

De olho nos Jogos do Rio, Colucci decidiu focar sua carreira na modalidade olímpica. Em números, vai encurtar as distâncias de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida do Ironman para, respectivamente, 1,5 km, 40 km e 10 km. Mas nem por isso ele pode descansar um pouco mais – agora o trabalho é conquistar o pódio daqui a cinco anos. “Além da felicidade de competir no Brasil, será o auge da minha carreira. Terei 30 anos, idade média entre os medalhistas olímpicos do triathlon.”

A transição para as distâncias olímpicas tem sido trabalhosa. “Meus treinos passaram a priorizar a intensidade. Tenho agora de ser constantemente veloz e agressivo”, explica Colucci, orientado desde o começo da carreira pelo técnico Antonio Carlos Moreira do Amaral, o Cali.

O atleta sabe que, antes do Rio, ainda há Londres. Apesar dos ótimos resultados em competições internacionais, Colucci terá de ralar para garantir seu lugar na próxima Olimpíada. “Escrevi meu nome no triathlon brasileiro, mas ainda é pouco perto do que posso conquistar”. Pelo visto, Colucci quer ser um peixe cada vez maior.