O discreto charme de Ibicoara

Cachoeira do Buracão é uma das atrações mais visitadas da Chapada Diamantina - BA

Por Fernanda Beck*

Com uma vibe bem diferente da badalada Lençóis, a “porta de entrada” da Chapada Diamantina (BA), a pequena cidade de Ibicoara, ao sudoeste do parque, não conta com lojas, restaurantes e bares voltados a forasteiros. Muito menos parece se importar com o cada vez mais frequente fluxo de estrangeiros por suas ruas. Quem vai até lá é convidado a mergulhar no pacato dia a dia local, com poucas opções de consumo oferecidas por singelos mercados e botecos.

O estilo de vida simples do lugar combina perfeitamente com a vibrante beleza natural que permeia o vilarejo de menos de 20 mil habitantes. É dali que saem as excursões com destino a duas das cachoeiras mais bonitas da Chapada: o Buracão e a Fumacinha. Uma das mais famosas da região, a cachoeira do Buracão, localizada no Parque Natural Municipal do Espalhado, impressiona principalmente por sua configuração geológica: são 85 metros de queda d’água enquadrados por uma imensa parede rochosa em formato quase cilíndrico – daí o “buracão” do nome. Para chegar à parte de baixo da cachoeira, você precisa pegar uma trilha relativamente fácil de cerca de uma hora, seguida de uma escolha entre duas opções – mergulhar e nadar pelo fundo de um cânion até o desembocar da cachoeira (sempre de colete salva-vidas, de uso obrigatório no lugar) ou respirar fundo e atravessar uma estreita ponte de madeira suspensa a quatro metros de altura. Do outro lado, a missão é andar cautelosamente sobre a rocha úmida que leva até o interior do “buraco”.

O entorno da região de Ibicoara

O visitante que se propõe a conhecer a cachoeira da Fumacinha precisa ter mais preparo físico e disposição. São 18 km de trilha (ida e volta), caminhando por horas dentro de um cânion com mais de 200 metros de altura. A trilha é bastante técnica e passa por muitas pedras soltas, exigindo cuidado redobrado. Se chover, as visitas ficam suspensas – a rocha molhada é traiçoeira, e resgates no interior do cânion são trabalhosos.

Passeio que agrega vários pontos de interesse, a trilha até a cachoeira do Licuri também pode ser um pouco desafiadora para os mais sedentários, por apresentar vários pontos de muita inclinação com presença de lama – em alguns momentos, é preciso usar as mãos para não escorregar morro abaixo. Mas o caminho que demanda atenção recompensa o aventureiro com uma série de quedas d’água de diferentes tamanhos que deleitam tanto os olhos quanto o corpo. Ao longo do percurso, é possível admirar e nadar nas cachoeiras das Raízes, da Escadinha, do Escorregador e no poço das Rosas, além da própria Licuri, com 70 metros de altura. As atrações são tantas que é fácil passar um dia todo aproveitando o complexo.

Entrada da Cachoeira do Buracão

Ibicoara também não decepciona em caso de tempo ruim. No caminho da entrada da trilha para o Buracão, é possível conhecer por dentro a cachaçaria Cachoeira Buracão, que produz dois tipos de cachaças feitas com cana local e envelhecidas em tonéis de carvalho. Uma visita guiada por um de seus funcionários mostra todo o processo pelo qual a cana passa até chegar aos alambiques. No fim do tour, é claro, o turista degusta o produto, servido gelado. As visitas são gratuitas, e a garrafa de cachaça prata de 670 ml sai por R$ 40 (cachoeiradoburacao.com.br). Na mesma estrada, no bairro do Campo Redondo, pare para saborear uma das concorridas coxinhas de jaca do bar do Sansão (R$ 5 cada uma).

Outra opção de passeio interessante partindo do centro de Ibicoara é o Sítio Monte Alegre, no bairro de Mundo Novo. Fundado em 2011, o lugar funciona como um centro de bioconstrução e agrofloresta, oferecendo cursos e vivências em permacultura e agricultura orgânica. Também é possível visitar o sítio apenas por um dia, conhecer os diferentes modelos de bioconstrução e desfrutar do cardápio de seu restaurante Mandioca, com quitutes feitos exclusivamente com os produtos orgânicos plantados ali (pratos a partir de R$ 20; sitiomontealegre.com).

Para se hospedar, o Hostel Ibicoara é uma opção simples e perto do centro e mantém em seu interior a mesma vibe tranquila da cidadezinha (diárias a partir de R$ 40 com café da manhã incluso; hostelibicoara.com.br). O albergue é comandado pelo carioca Fabio Mendonça. Foi no fim de 2015 que Fabio, que até então trabalhava como guia turístico no Rio de Janeiro, conheceu a Diamantina. Foi um caso de amor à primeira vista. Em dezembro daquele ano, ele comprou a casa que hoje é o hostel. Em janeiro de 2016, o estabelecimento já estava de portas abertas. “Não consigo mais sair daqui”, brinca Fabio. “Meu plano é investir cada vez mais na estrutura turística de Ibicoara. Quero criar festivais, como acontece em outros lugares da Chapada, para atrair mais gente para cá”, conta. Os aventureiros mais antenados não vão demorar a aparecer.

> Os passeios até as cachoeiras de Ibicoara são feitos apenas com a presença de um guia local, que pode ser contratado em diversas agências no centro da cidade. Mais informações pelo site da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo: ibicoara-chapada-diamantina.com

*Reportagem publicada na edição nº 148 da revista Go Outside, janeiro e fevereiro de 2018.







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