Relátório adverte para mudanças urgentes para reduzir o risco de calor extremo, seca, inundações e pobreza

O planeta tem até 2030 para evitar um aquecimento global de 1,5 graus celsius em comparação com o período pré-industrial, com o risco de sofrer com fenômenos extremos como secas, inundações e dramáticos picos de calor.

A afirmação é do relatório de 400 páginas encomendado pelas Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira na cidade sul-coreana de Incheon, após uma reunião de cinco dias, em que participaram 570 representantes de 135 países.

No relatório as autoridades científicas globais dizem categoricamente que todos os Governos do mundo devem tomar “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes em todos os aspectos da sociedade” para evitar níveis desastrosos de aquecimento global.

Os cientistas descrevem, com base em seis mil estudos, os impactos de um aquecimento de mais 1,5º Celsius, um nível que a Terra poderá atingir já em 2030 (2030-2052) devido à falta de uma redução maciça das emissões de gases de efeito estufa.

“A janela para manter o aquecimento global abaixo de 1,5 graus C está se fechando rapidamente e as atuais promessas de emissões feitas pelos signatários do Acordo de Paris não se somam a nós alcançarmos esse objetivo”, disse Andrew King, professor de ciência do clima na Universidade de Melbourne, disse em um comunicado.

Efeitos desde já

O relatório deixa claro que a mudança climática já está acontecendo. E o que vem a seguir pode ser ainda pior, a menos que seja tomada uma ação política internacional urgente.

“Uma das principais mensagens que sai deste relatório é que já estamos vendo as conseqüências de 1 ºC de aquecimento global através de condições climáticas mais extremas, aumento do nível do mar e diminuição do gelo do Ártico, entre outras mudanças”, disse Panmao. Zhai, co-presidente do Grupo de Trabalho do IPCC I
à CNN.

As ondas de calor no verão europeu podem aumentar em 3 graus C, diz o relatório.
Secas mais frequentes ou intensas, como as que atingiram as torneiras da Cidade do Cabo, África do Sul, bem como os eventos mais extremos de chuvas como os furacões Harvey e Florence nos Estados Unidos, também são apontados como possíveis com os avanços do aquecimento.

Os recifes de corais também serão afetados drasticamente, com 70% a 90% de mortes, incluindo a Grande Barreira de Corais da Austrália.

Os países do hemisfério sul como o Brasil, estarão entre os piores, segundo o relatório. Essa área está “projetada para experimentar os maiores impactos no crescimento econômico devido à mudança climática, caso o aquecimento global aumente”.

Mudanças necessárias

O relatório da ONU é o resultado de três anos de preparação e com base no Acordo Climático de Paris de 2015. No acordo feito na capital francesa, 197 países concordaram com a meta de manter as temperaturas globais “bem abaixo” de 2 graus C acima dos níveis pré-industriais e de buscar esforços para limitá-las a 1,5 ° C.

No entanto, no ano passado Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, retirou o país do acordo alegando que era injusto para o país.

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), que divulgou o relatório, também mapeou formas para alcançar 1.5C. De acordo com o IPCC, o reflorestamento é essencial para todos eles, assim como as mudanças nos sistemas de transporte elétrico e maior adoção da tecnologia de captura de carbono.

Desde já é necessário reduzir as emissões de CO2, uma redução que em 2030 tem de ser de 45% em relação aos níveis registrados em 2030. Depois, em 2050, 85% da eletricidade global tem de ser fornecida através de energias renováveis, reduzindo o recurso ao carvão para bem perto do zero; e aumentar os campos de culturas energéticas, como biocombustíveis.