Só que, para chegar até eles, só mesmo num carro off-road

Por Fernanda Franco

Saber aquele lugar meio difícil de chegar? Com certeza ele guarda trilhas de bike que estão reservadas somente para aqueles que não têm medo de um estradão de terra.

Pegue seu capacete, sapatilha e bike, coloque tudo num 4×4 e se prepare para encarar muita lama e pedra solta. Em compensação, descanse no fim do dia em pousadas aconchegantes, após repor as energias com deliciosos jantares caseiros. Afinal, não tem sensação melhor do que chegar num lugar acessível para poucos, explorá-lo de bike e depois descansar como se deve.

Trilhas dos céus: serra da Bocaina (SP e RJ)

A serra da Bocaina é uma das únicas regiões do Brasil onde é possível encontrar, num mesmo ambiente, Mata Atlântica e floresta de araucárias – vegetações típicas do Sul do país e da Mantiqueira. Partindo do nível do mar e chegando a mais de 2.000 metros de altitude, a serra se localiza na divisa dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, abrangendo as cidades de Areias, Cunha, São José do barreiro, Ubatuba, Angra dos Reis e Paraty.

TUDO DE BOM: Trilha na serra de Bocaina (Foto: Divulgação)

O local é perfeito para a combinação “sossego e imersão na natureza” – neste caso, dias inteiros de pedal em meio à floresta, campos de altitude, cachoeiras e nascentes de rios. A sugestão é a parte alta da região, saindo de São José do Barreiro, a 550 metros de altitude, e subindo a 1.710 metros, onde fica a pousada Ventos da Bocaina. Só a chegada à pousada já justifica a necessidade de um carro off-road: a estrada de 21 quilômetros é esburacada e cheia de pedras, sendo difícil vencê-la em épocas de chuvas. Tamanho perrengue vale a pena: você estará, literalmente, nos céus – e vai perceber isso pela manhã, quando acordar acima das nuvens.

Depois de apreciar o visual e tomar um bom café da manhã, a sugestão é partir, agora sobre duas rodas, em direção ao Parque Nacional da Serra da Bocaina, que exige autorização de entrada e voltou recentemente a ser assunto quando o prefeito de Paraty esboçou a bizarra intenção de desativá-lo. A primeira cachoeira, batizada de Santo Izidro, fica a apenas 5 quilômetros de distância da portaria do parque. Na sequência, vêm as cachoeiras das Posses (13 quilômetros) e a do Inácio (16 quilômetros). Se quiser seguir pela estrada principal, a ideia não é ruim. Com trânsito de carro controlado, você terá a tranqüilidade que procura em cima de sua magrela, mas precisará de pernas fortes no caminho de volta, onde encontrará mais subidas que na ida.

Uma boa opção é ir até a base do pico do Tira Chapéu – o ponto mais alto da Bocaina, com 2.088 metros, de onde é possível enxergar o parque todo, além da baía de Paraty e a serra da Mantiqueira. Você não vai conseguir chegar de bike até o topo. Encontre um canto para deixar as magrelas em segurança e encare a subida de cerca de 1h30 de caminhada, para ser recompensado com uma vista de 360 graus. Outra ótima alternativa fora do parque é visitar o que sobrou de uma luxuosa residência do século 19. A Casa de Pedra, uma estrutura em ruínas ainda com janelas e traços clássicos do uso da pedra em construções, é mais um indício de que a região tinha um importante papel durante o Império.

Onde ficar: Pousada Ventos da Bocaina. Com um deque dos sonhos, que dá para uma vista deslumbrante da serra, essa pousada é tudo o que você precisa depois de um belo dia de pedal. Diárias a partir de R$ 524.

Como chegar:

* De SP ou RJ: Pegar a Via Dutra (BR 116) até Queluz. Depois continuar no sentido São José do Barreiro e seguir 21 quilômetros na SP 221, no sentido do Parque Nacional da Bocaina.

* MG: Seguir pela BR 040 até o RJ por 334 quilômetros. Pegar a BR 116 (Dutra) até Queluz. Seguir 21 quilômetros na SP 221, no sentido do Parque Nacional da Bocaina.

Vales dos sonhos: Serra da Mantiqueira – Alagoa – Aiuruoca – Matutu (MG)

ESTRADÃO: Se jogue pelas trlhas da serra da Mantiqueira (Foto: Divulgação)

Visuais de vales, rios que serpenteiam a estrada e muitas subidas e descidas. Esse é o cenário ideal para quem gosta de pedalar – e, felizmente, é o que mais se encontra neste belíssimo pedaço da serra da Mantiqueira. As chuvas do último verão castigaram bastante as cidades no sul de Minas Gerais, mas a região, que é protegida pelo Parque Estadual Serra do Papagaio e pela APA Serra da Mantiqueira, não perdeu o encanto.
O ponto inicial sugerido é a pousada Campos de Altitude, a 25 quilômetros de Itamonte, já no sentido de Alagoa. A estrada entre Itamonte e a pousada já está com blocos de concreto em quase sua totalidade, mas os 5 quilômetros finais farão com que você acione a tração de seu 4×4. A pousada tem nove chalés, e a casa principal onde acontecem as refeições – deliciosas, por sinal – conta com lareira, compondo um ambiente muito aconchegante para um bate-papo regado a vinho. Tudo isso cercado de mata de araucárias e com vista para o pico do Garrafão, ou Santo Agostinho, a 2.230 metros.

Para chegar pedalando em Alagoa, são 15 quilômetros de descida leve com cascalho solto, praticamente só apertando o freio traseiro. Fique esperto, pois algumas curvas são fechadas e a estrada tem um fluxo local intenso. A pequena Alagoa possui menos de 3.000 habitantes e foi brutalmente atingida pelas chuvas do último verão. Chegando lá, a proposta é seguir pedalando em direção a Aiuruoca (a 30 quilômetros). O caminho alterna subidas e descidas e é praticamente todo margeado pelo rio que dá nome à cidade. Da estrada já será possível observar o pico do Papagaio – um maciço de pedra imponente com 2.100 metros de altitude. Cerca de 6 quilômetros antes da entrada da cidade, há uma bifurcação à esquerda que leva ao vale do Matutu (17 quilômetros de estrada), um cantinho especial e praticamente intocado da Mantiqueira.

Quando chegar em Aiuruoca, procure pela cachoeira dos Garcias, que fica no vale de mesmo nome. A queda d’água tem uma queda de 30 metros de altura e um farto poço. A subida de volta à pousada Campos de Altitude vai doer, mas a sauna seca e o mergulho no riacho serão os companheiros perfeitos para você aguardar o jantar de trutas, uma especialidade da região.

Onde ficar: Pousada Campos de Altitude. Situada no bairro do Garrafão, em Alagoa, ela oferece acomodações em chalés de madeira, com vistas para os belos morros da região. 

Como chegar:

* De SP: Pegar a rodovia Dutra até o trevo próximo à cidade de Cruzeiro (SP). Seguir até Passa Quatro (já em Minas), Itanhandu e descer um pouco até Itamonte. De Itamonte até a pousada Campos de Altitude são 25 quilômetros.

* Do RJ: Pegar a Dutra até a cidade de Engenheiro Passos. A partir daí seguir pela BR354 na direção do Circuito das Águas, em Minas Gerais. Chegue até Itamonte e, de lá, são 25 quilômetros até a pousada Campos de Altitude.

* De Belo Horizonte: Pegar a BR381 (rodovia Fernão Dias) até Três Corações e, dali, seguir as indicações para a cidade do Rio de Janeiro. Você vai passar por Cambuquira, Caxambu e Pouso Alto e, na sequencia, chegará a Itamonte. Aí são mais 25 quilômetros até a pousada Campos de Altitude.

QUE VISU: Vista da pousada Campos de Altitude, em Alagoa (MG) (Foto: Divulgação)

Passeios pelo passado: Prudentópolis (PR)

Imagine um local com cachoeiras gigantes e uma maciça presença de descendentes de ucranianos, a maioria vivendo na área rural da cidade e reproduzindo a cultura de seus antepassados, com muito plantio e criação de animais. Pedalando pelas estradas de terra, você certamente será surpreendido pelas abóbadas das igrejas em estilo bizantino (cada Linha, nome dado às comunidades, tem a sua) e ouvirá a língua nativa sendo falada pelas crianças, já que até hoje é ensinada nas escolas.

A pedida para a hospedagem é a Reserva Privada do Patrimônio Natural (RPPN) e a pousada Ninho do Corvo, que fica a 24 quilômetros do centro da cidade. O local abriga diversas trilhas, oito quedas d’água e guarda espécies da flora e fauna em risco de extinção. Não perca por nada o pedal até o Salto São Francisco. Você vai percorrer 38 quilômetros de estrada de terra, sendo os últimos 8 quilômetros de pura subida. Em compensação verá uma maravilha da natureza despencando de um paredão de 196 metros de altura. Na mesma rota há duas outras cachoeiras conhecidas como gêmeas, a Barra Grande e Fazenda Velha, com 130 metros e 100 metros, respectivamente.

Voltando ao Ninho, no próximo dia você pode fazer um pedal mais light para o Salto São Sebastião (28 quilômetros) e aproveitar para comer as iguarias típicas ucranianas no Recanto Perhousky (é preciso reservar com antecedência). Nessas quedas imensas, não se consegue dar um mergulho, mas a região é tão rica em atrações naturais que isso não será um problema. Mudando um pouco o foco para o lado cultural, aproveite para conhecer de perto uma igreja típica da região, a Linha Esperança (10 quilômetros), quase tão grande quanto a matriz no centro da cidade, mas com um colorido incrível. Para finalizar, se você ainda tiver pernas e fôlego, encare a subida da serra da Esperança, que te levará até a cidade vizinha de Gurapuava. A Páscoa é um excelente período para visitar a região. Além do clima já mais seco, também é a época em que as tradições ucranianas revelam-se ainda mais fortes.

Onde ficar: Pousada Ninho do Corvo. O local onde fica a pousada conta com oito quedas d’água, com direito a técnicas verticais. Comida na brasa e quartos quentinhos completam o programa.

Como chegar:
* De SP: Seguir pela BR 101 até Curitiba (411 quilômetros). Depois mais 117 quilômetros até Ponta Grossa pela BR 373 e, na sequencia, mais 110 quilômetros pela BR 376 até Prudentópolis.

* De RJ: Seguir pela BR 101 até Curitiba (911 quilômetros). Percorra 117 quilômetros até Ponta Grossa pela BR 373. Depois mais 110 quilômetros pela BR 376 até Prudentópolis.

* De MG: Dirija na Fernão Dias (BR 381) por 602 quilômetros até São Paulo. Pegue a BR 101 por 411 quilômetros até Curitiba e, depois, 117 quilômetros até Ponta Grossa pela BR 373. Na sequencia, mais 110 quilômetros pela BR 376 até Prudentópolis.

ALTOS PICOS: O famoso deque da pousada Ninho do Corvo, em Prudentópolis (PR) (Foto: Divulgação)