Outsiders 2015

Todos os anos, desde 2006, a equipe da Go Outside seleciona um seleto grupo de atletas, expedicionários, inovadores e ativistas que têm contribuído diretamente para alavancar os limites dos esportes e da vida outdoor no Brasil. Em 2014, nossos atletas canarinhos fizeram bonito na água – e ninguém brilhou tanto nesse meio quanto o paulista Gabriel Medina –, no ar e na terra. Eles expandiram as fronteiras do esporte, batalharam por um país melhor e de bem com a natureza, enfrentaram preconceitos e provaram que superação é marca registrada de todos os homenageados nas páginas a seguir. Com vocês, os 12 maiores aventureiros do ano, em áreas como surf, base jump, slackline, cicloviagem e muito mais.

Por Adriano Vasconcellos, Bruno Romano, Fernanda Beck e Mario Mele

Colagens Renato Breder

Gabriel Medina

Modalidade:Surf

Nascido em: São Paulo (SP)

Idade: 21 anos

Principais feitos: Primeiro brasileiro campeão mundial de surf (2014); campeão mundial júnior (2013) e surfista mais jovem a vencer uma etapa do mundial, com 15 anos de idade.

Após uma temporada de treinamentos duros, muito foco e performances arrasadoras nas competições, o prodígio paulista conquistou o sonhado título de campeão mundial de surf – é o primeiro brasileiro da história a chegar ao topo

“QUERO SER CAMPEÃO MUNDIAL.” Desde pequeno, Gabriel Medina repetia essa frase. Seu pai e treinador, Charles Saldanha, que ficou conhecido como Charlão Medina, botou fé no sonho do garoto e a parceria alcançou o topo do mundo em 2014. Foi uma temporada marcada pela excelência. Aos 20 anos, o paulista que cresceu em Maresias manteve-se líder em 10 das 11 etapas do Circuito Mundial. Bem preparado técnica (por Charles) e fisicamente (pelo treinador Allan Menache), ele deixou para trás nomes como o do australiano Mick Fanning e o do norte-americano Kelly Slater, para se sagrar campeão do WCT. E tudo aconteceu na última etapa, disputada em Pipeline, no North Shore de Oahu, no Havaí – o maior palco do surf mundial.

Depois de soltar o grito de “É campeão!”, chegou à final do Pipe Maters e foi protagonista de uma final épica ao lado do australiano Julian Wilson, campeão do evento. Com um desempenho impecável em Backdoor (a direita de Pipe), calou os críticos ao provar que também domina a arte de entubar de backside, com uma nota 10.

Os feitos de Gabriel Medina em 2014, contudo, não se resumem a Pipe Masters. Ele venceu a primeira etapa do campeonato, em Gold Coast, na Austrália, seguida por grandes atuações nas duas outras etapas na terra dos cangurus, que o catapultaram ao topo do ranking. Perdeu a liderança por uma derrota precoce no Rio Pro, mas a recuperou logo no campeonato seguinte, com uma vitória espetacular em Fiji. Daí em diante, ninguém conseguiu alcançar o fenômeno brasileiro, campeão também na onda mais desafiadora do Tour: Teahupoo, no Taiti. Segundo Kelly Slater, vice-campeão da etapa, foi o melhor campeonato da história do Circuito Mundial. Durante todo o ano, salvo a pressão que pesou sobre o brasileiro no funil do Tour, o jogo técnico e psicológico de Medina foi insuperável, tendo como desfecho final uma performance de gala no Havaí.

Os trunfos de Gabriel começaram desde a infância, com títulos em todas as divisões pelas quais competiu. Assim que entrou na divisão principal, no segundo semestre de 2011, faturou de cara duas etapas: em Hossegor, na França, e São Francisco, na Califórnia. O brasileiro passou então a ser cotado para se tornar um nome de peso no esporte. Era questão de tempo. O momento chegou em 19 de dezembro de 2014: Gabriel Medina, o primeiro brasileiro campeão mundial de surf.

Patrocínios: Rip Curl, Guaraná Antártica, Oi, Samsung Galaxy, Mitsubishi Motors, Oakley, Vult Cosmética, Coppertone Sport, Gorilla, FCS, Cabianca Surfboards.

Yuri Cordeiro

Modalidade: Wingsuit

Nascido em: Brasília (DF)

Idade: 40 anos

Principais feitos: Atual vice-campeão mundial de wingsuit, com mais de 400 saltos, e primeiro brasileiro a integrar a World Wingsuit League

Maior expoente nacional em arriscados saltos de wingsuit, este brasiliense é o atual vice-campeão mundial da modalidade – e tem provado diariamente que brasileiros também podem voar muito bem

YURI CORDEIRO NASCEU EM BRASÍLIA, uma cidade plana, para se tornar vice-campeão mundial de wingsuit, a vertente mais extrema do base jump, onde “roupas de morcego” permitem que corajosos aventureiros se joguem de montanhas e lugares altíssimos e rasguem os céus, brincando de voar. Não desmereça o termo vice-campeão:o brasileiro superou lendas do wingsuit na Europa, berço do esporte, ficando apenas 13 centésimos de segundo atrás do norueguês pentacampeão mundial Frode Johannessen na decisão do título de 2014.

“Quando eu comecei,não havia sequer um lugar no Brasil para praticar base jump, mas,graças ao desenvolvimento do esporte por aqui,hoje temos bons locais para treinar e evoluir”, conta Yuri, que descobriu o wingsuit em 2008, 14 anos depois de seu primeiro voo de paraquedas. Aos40 anos, ele já soma mais de 400 saltos – quase sempre de penhascos, seu ponto de partida favorito.

Yuri alimenta a paixão por voar de várias formas:há 10 anos também trabalha como piloto de helicóptero.Atualmente, já é considerado um dos maiores especialistas do mundo em proximity, vertente em que os atletas de base jump passam tirando fina de montanhas. Adepto da escalada, da corrida de aventura, do mountain bike e do surf, ele mora no Rio de Janeiro e segue abrindo caminho para o país na modalidade. No fim de 2014,foi o primeiro brasileiro a integrar a World Wingsuit League, o circuito de provas que reúne os grandes nomes do esporte. “Sinto que estou abrindo portas, sim, e que as pessoas estão começando a se interessar mais pelo wingsuit, ajudando o Brasil a chegar cada vez mais longe.”Para Yuri, o céu está longe de ser o limite – ele é sua segunda casa.

Apoios: Phoenix-Fly; Adrenalin BASE.

Aleixo Belov

Especialidade: Expedição

Nascido em: Merefa (Ucrânia)

Idade: 72 anos

Principais feitos: Três voltas ao mundo de veleiro em solitário; uma volta ao planeta em um veleiro-escola com estudantes brasileiros

Grande nome das expedições náuticas ao redor do mundo, este ucraniano que adotou o Brasil como lar já deu quatro voltas completas ao redor do planeta e, aos 72 anos, nem pensa em parar de navegar

O SOTAQUE BAIANO não deixa dúvidas:Aleixo é um legítimo brasileiro – mesmo que tenha nascido na Ucrânia, com o nome de Alexey Belov, e desembarcado no Brasil aos6 anos, como refugiado da guerra,ao lado dos pais e da irmã. A família logo foi trabalhar na Bahia, de onde Aleixo nunca mais saiu, a não ser para dar quatro voltas ao mundo em veleiros, três delas em solitário. “Eu não tinha dinheiro e nunca havia nem içado uma vela, mas descobri que contava com o principal: o amor pelo mar”.

A “culpa” é de um par de óculos de mergulho que Aleixo ganhou de presente aos 17 anos e que o aproximou das belezas do oceano. Decidiu então conhecer lugares incríveis e dedicou-se ao novo projeto de vida, estudando línguas e aprendendo a navegar. Em 1981, aos 37 anos, finalizou sua primeira volta ao mundo,considerada pela Marinha como viagem pioneira em solitário de um navio com bandeira brasileira. Aleixo se formou engenheiro, virou empresário, teve filhos, escreveu livros e ainda deu mais duas voltas completas no planeta.

Na quarta expedição ao redor da Terra, decidiu: “Queria dividir toda minha felicidade e meu conhecimento do mar com outras pessoas”. A nova aventura começou assim em 2011,a bordo de um “veleiro-escola” construído pelo próprio Aleixo, com mais 26 tripulantes rotativos, todos jovens brasileiros. No ano passado, Aleixo completou mais uma epopeia, desta vez pela Antártica, ao lado de outros nove parceiros de viagem. Aos 72 anos, Aleixo acabou de finalizar seu sétimo livro e decidiu motorizar as catracas do seu barco Fraternidade, facilitando as manobras das velas para uma nova expedição no fim deste ano. “É tudo culpa daqueles óculos de mergulho”, brinca.

Narbal Andriani

Especialidade: Cicloviagens

Nascido em: Florianópolis (SC)

Idade: 40 anos

Principais feitos: Expedições de bicicleta por 65 países; uma travessia africana pedalando da África do Sul ao Egito; 15.000 km ligando comunidades indígenas entre Minas Gerais e o México

Nos últimos 20 anos, o aventureiro catarinense rodou 65 países sobre duas rodas e descobriu o mundo (e a si mesmo) pedalando por aí

SEGUNDO A MÁXIMA, TODA GRANDE expedição de bike começa com uma única pedalada. Que o diga Narbal Andriani, catarinense de 40 anos que, logo no giro de estreia, em 1996, percorreu cerca de 8 mil quilômetros pela América do Sul ao lado de dois amigos, ligando o Peru ao extremo sul argentino. “A partir dali surgiu uma paixão, e eu já não conseguia mais fazer viagens curtas. Vi que era possível ir para onde eu quisesse de bike.”

Nos anos seguintes, Narbal desbravou o Brasil, ligando os principais parques nacionais do país de bicicleta, desvendou a Europa e a Ásia sobre duas rodas e ainda pedalou da África do Sul até o Egito. “No continente africano, vi de perto a força da natureza e observei a vida selvagem realmente livre. Porém o que mais me marcou foram as pessoas: a humildade delas foi meu combustível nessa travessia inesquecível”, conta o cicloviajante, que segue mantendo o mesmo estilo de viagem: baixo custo e velocidade mansa, alto esforço e muito aprendizado. E lá se vão 20 anos e 65 países em seu currículo.

Em Tijucas (SC), onde mora, ele também trabalha como oceanógrafo. É de lá que finalizou seu último projeto, um inédito documentário sobre sua expedição de 15 mil quilômetros entre Minas Gerais e o México buscando comunidades indígenas, feita ao lado da esposa (e nova parceira de viagens), Christiane. Enquanto planejam a próxima travessia épica, os dois celebram a chegada do pequeno Pedro, primeiro filho do casal, que completou 2 anos – para Narbal, o pequeno já está quase pronto para viajar.

Apoio: Della Bikes

Igor Amorelli

Modalidade: Triathlon

Nascido em: Belo Horizonte (MG), apesar de morar em Santa Catarina desde um ano de idade

Idade: 29 anos

Principais feitos: Campeão da etapa brasileira do Ironman 2014, em Florianópolis;é dono do melhor tempo e da melhor colocação já obtidas por um brasileiro na final mundial da prova, no Havaí

Este Homem de Ferro do triathlon se tornou o primeiro brasileiro a vencer um Ironman no Brasil e cravou seu nome como o melhor atleta do país no Mundial do Havaí

IGOR É UM TRIATLETA EM ASCENSÃO: ele, que nos últimos anos vem obtendo resultados cada vez mais expressivos, tornou-se em 2014 o primeiro brasileiro a ganhar uma etapa nacional do Ironman – prova disputada em Florianópolis (SC) e que consiste em 3,8 quilômetros de natação, 180 de ciclismo e 42 de corrida. “Apaixonei-me pelo triathlon através do Ironman, portanto vencer essa prova foi ver um sonho realizado”, disse. “Também acabou sendo o momento de maior orgulho da minha carreira: conquistei um título inédito para o Brasil.”

Em 2013, Igor foi o brasileiro que cravou o melhor tempo numa final do mundial de Ironman: 8h34m59s. E, em 2014, com um 25º lugar, obteve a melhor classificação nacional na mesma prova.Não satisfeito, em 2015 ele quer melhorar seu resultado no Havaí. Para chegar com força máxima ao evento, ele planeja encarar provas classificatórias do Ironman e do Ironman 70.3 (o famoso “meio Ironman”), que acontecem em praticamente todos os continentes.

Resultados à parte, Igor exala alegria e realização quando o assunto é “vida de atleta”. “Aprendo muito com o esporte e as competições. O triathlon me ensinou demais sobre o que podemos alcançar com trabalho sério e também sobre respeito, por si mesmo e pelas outras pessoas.”

Patrocínios: CPH Brasil, Red Bull, Mizuno, Garmin, Exceed; apoios: Oakley, XTerra Wetsuits

Chico Santos

Modalidade: Corrida de montanha

Nascido em: Conquista (CE)

Idade: 35 anos

Principais feitos: O brasileiro melhor colocado na categoria solo do Cruce de Los Andes 2014 (8ª colocação geral), vencedor do X Terra Ilhabela 2013 (80 km) e do La Misión Brasil 2013 (80km).

Persistência, treino pesado e muitas provas têm sido o trinômio de sucesso deste cearense, que cada vez mais consolida seu nome entre os grandes corredores de montanha do Brasil

QUANDO CHICO SANTOS era apenas uma criança, a corrida servia como meio de locomoção. Nascido e criado no interior do Ceará, ele mal sabia que sua atividade favorita se transformaria em profissão. Apaixonado por corridas de montanha em longas distâncias, Chico já participou das provas mais expressivas da categoria.

Em 2014, alcançou alguns de seus resultados mais expressivos: foi o melhor brasileiro na categoria solo do El Cruce Columbia, que cruza os Andes argentinos e chilenos em três dias e soma 100 km de percurso. Já na etapa de corrida do Rocky Man 2014, prova multiesportes organizada pela revista Go Outside no Rio de Janeiro,Chico ficou com o terceiro lugar, atrás somente do neozelandês Daniel Jones e do norte-americano Marshall Thompson “Foi um ano de experimentos para mim. Fiz muitas provas e passei a me dedicar exclusivamente às ultramaratonas e às corridas de montanha”, disse. Em agosto, Chico também participou da duríssima Ultra-Trail du Mont-Blanc (ele disputou os 100km), em Chamonix, na França.

Chico já foi mountain biker anos atrás, mas foi mesmo na corrida que sua carreira deslanchou. E ele não perde a chance de aprender e evoluir. “É um orgulho poder correr provas ao lado da elite mundial do esporte, faz parte do meu amadurecimento como atleta”, reconhece. Sempre simpático e sorridente, ele se empolga com o crescimento da corrida de montanha no Brasil, sem deixar de aproveitar os prazeres indiretos que o esporte o proporciona. “Viajo pelas regiões montanhosas do país inteiro levando apenas um tênis, uma mochila e meia dúzia de roupas. Conheço pessoas tão simples e lugares tão lindos que considero isso um dos maiores presentes trazidos pela corrida.”

Apoios: Intense Bike Shop; Lunetterie Sportif; La Sportiva Brasil; Everson Mendonça Fisioterapia

Caio Afeto

Modalidade: Slackline

Nascido em: Vitória (ES)

Idade: 27 anos

Principais feitos: Abriu o primeiro spaceline do Brasil, além de abrir vários highlines em todo o país.

Como um dos pioneiros do highline no Brasil, o capixaba derruba as fronteiras desse esporte: de norte a sul do país, une a comunidade de praticantes em travessias tão lindas quanto desafiadoras

 

CAIO TEVE UM ANO OCUPADÍSSIMO. Em 2014, este engenheiro – que desistiu da profissão para se dedicar exclusivamente às montanhas – se equilibrou sobre desfiladeiros de diversos estados brasileiros. Com os amigos que costuma fazer por onde passa, ele inaugurou mais de 20 travessias de highline (vertente do slackline praticada a dezenas de metros de altura do chão). Uma delas, nas Agulhas Negras, dentro do Parque Nacional do Itatiaia (RJ), bateu o recorde de altitude da modalidade no país: cruzou 28 metros na fita a 2.750 metros acima do nível do mar. No Cânion do Talhado, no interior de Alagoas, Caio também abriu o primeiro spaceline do Brasil. “O spaceline é uma montagem com três ou mais linhas de highline (cada uma iniciada em um ponto da borda de um penhasco), que se encontram no centro”, explica. Esse esquema possibilita que pelo menos três praticantes possam andar simultaneamente na fita.

Determinado a explorar o país, no ano passado Caio também se tornou o primeiro brasileiro a atravessar pelo menos um highline em cada região – feito concretizado durante uma viagem à Chapada dos Guimarães (MT). “Com o projeto High Vibe, já estiquei a fita do sul ao norte do Brasil, o que tem sido especial pelo privilégio de conhecer diferentes regiões. Sem contar que fiz amizades que marcaram demais minha vida”, comemora.

Além de ser uma das maiores referências do highline no Brasil, Caio é escalador e está sempre tentando conciliar os dois esportes durante suas expedições. Tanto que, recentemente, conquistou os 500 metros da via A Última Cartada, em Castelo (ES). Para esse capixaba, é importante estar sempre em busca de algo novo e desafiador – desde que seja na montanha.

Apoios: Furnas, Landcruising Slacklines e Hippytree Brasil

Fellipe Kizu

Modalidade: Canoagem em ondas (caiaque surf e waveski)

Nascido em: Belo Horizonte (MG)

Idade: 27 anos

Principais feitos: Campeão sul-americano de paracanoagem de velocidade na categoria K1 200m em 2013

 

Paraplégico após um acidente, este mineiro encontrou na canoagem oceânica seu caminho de volta ao esporte – e nem imaginava que viraria uma referência na modalidade

A VIDA DE FELLIPE “KIZU” LIMA mudou após um acidente trágico. Em 2006, ele cursava biologia em Belo Horizonte e, depois de um estafante dia de aulas, foi à casa de um amigo. Sentou-se no parapeito da varanda, mas o cansaço era tanto que acabou cochilando e caindo para trás, de uma altura de três metros. O descuido custou caro: o rapaz fraturou três vértebras lombares e teve danos na medula. Aos 18 anos e com um diagnóstico de paraplegia confirmado, era hora de reaprender a viver.

Acostumado a surfar desde criança, o mineiro radicado no Rio de Janeiro nem cogitou ficar longe do mar: nascia então seu relacionamento com a canoagem em ondas – tanto no caiaque surf (embarcação com cockpit), quanto no waveski (seu preferido, praticado em caiaques sit-on-top). Hoje totalmente readaptado à nova realidade, Fellipe dá belos exemplos de superação. Em 2014, realizou uma expedição de 40 dias pela Indonésia. “Foi incrível encontrar ondas tubulares e perfeitas, que contribuíram com a minha evolução no surf”, conta.

No ano anterior, Kizu já havia se tornado um dos grandes nomes da paracanoagem de velocidade ao conquistar o campeonato sul-americano na categoria K1 200 metros e ficar em oitavo lugar no Mundial da Alemanha. Nas ondas, porém, seus resultados se tornam ainda mais expressivos ao se descobrir que ele compete contra atletas sem quaisquer limitações, já que não há categoria para deficientes físicos. Em 2010, na Austrália, foi nessa condição que ele conseguiu um heroico quinto lugar durante a etapa do Mundial de Caiaque Surf.

Kizu não quer parar de remar tão cedo. Para 2015, já estão em seus planos uma travessia entre Angra dos Reis (RJ) e Ilha Grande (RJ).E já tem programado um retorno à Indonésia para ir atrás das ondas dos sonhos. “O esporte trouxe minha felicidade de volta. Além de amigos, a canoagem me dá a oportunidade de eu me sentir bem todos os dias.”

Patrocínios: Hammer Extreme Sports e Cirta

Barbara Brazil

Modalidade: Stand-up paddle

Nascida em: Salvador (BA)

Idade: 41 anos

Principais feitos: Tetracampeã brasileira de stand-up paddle race

Barbara sempre curtiu o mar e os esportes de longa distância e se encontrou no stand-up paddle, modalidade que está proporcionando sua projeção mundial

NA ÚLTIMA DÉCADA, o Brasil se revelou um dos lugares mais propícios para o stand-up paddle (SUP), e como resultado o país viu diversos atletas alcançando o topo de rankings mundiais. Entre eles, uma baiana arretada que tem feito bonito para assegurar seu espaço no esporte.

Em 2014, depois de vencer quatro das cinco etapas do campeonato nacional, ela se tornou tetracampeã brasileira de stand-up paddle race. “Profissionalmente foi o meu melhor ano”, vibra a moça. Em julho, Barbara chegou ao Havaí confiante para disputar a prestigiada e disputadíssima Molokai2Oahu e, logo em sua primeira participação nesse desafio (cujo objetivo é cruzar remando os 52 quilômetros do temido canal de Ka’awi), terminou em quarto lugar.

Criada à beira-mar – entre Salvador e a Ilha de Itaparica (BA) – e amante dos esportes aquáticos, Barbara aprendeu a nadar aos 2 anos de idade. Ainda adolescente, fez mergulho, vela, esqui aquático, surf e windsurf. Também competiu em provas de maratona aquática por vários anos. Ao subir na prancha, foi ainda mais longe. “Amo a autonomia proporcionada pelo SUP”, justifica. “No começo, eu simplesmente remava uns 60 quilômetros por pura diversão.” Em competições Barbara também sempre preferiu as longas distâncias. No último ano, com a ajuda do treinador Marcelo Afonso e do nutricionista Daniel Cady, deu um gás na planilha e progrediu como atleta endurance.

Na folga, a atleta ainda arruma tempo para colaborar com o projeto Remo sem Fronteiras, uma iniciativa de inclusão social da Escola de Remo de Salvador que ajuda a tirar crianças e adolescentes carentes de atividades como o tráfico de drogas. “A ideia é oferecer uma alternativa de vida por meio do esporte. E, com isso, já identificamos pequenos talentos”, garante a baiana, que neste ano quer fazer mais bonito no Havaí.

Apoios: Hobie, Waterman, Quickblade Paddles, Yatch Clube da Bahia

Silvio Zonatto

Especialidade: Esporte de aventura como inclusão social

Nascido em:Encantado (RS)

Idade: 61 anos

Principais feitos: Pioneiro no uso de esportes de aventura voltados a portadores de necessidades especiais

Ao deparar com uma triste realidade brasileira, este gaúcho não virou as costas e decidiu se desdobrar para mudar a vida de milhares de deficientes físicos

FOI EM 1999 que o gaúcho Silvio Zonatto viu uma reportagem na TV em que o montanhista brasileiro Manoel Morgado guiava um grupo de amputados e paraplégicos pelo Nepal. Na mesma hora, sentiu que precisava fazer algo diante de uma triste realidade. “No Brasil, grande parte das pessoas portadoras de deficiência é pobre ou está abaixo da linha pobreza”, constatou.

Três anos depois Silvio finalmente conseguiu lançar seu projeto de esportes outdoor voltado para portadores de necessidades especiais. Desde então, em seu Refúgio Explorer – um centro de esportes de aventura localizado na cidade de Vespasiano Corrêa (RS) –, ele vem realizando um trabalho pioneiro de inclusão social.

De acordo com o último Censo do IBGE, realizado em 2010, quase 46 milhões de brasileiros (cerca de 24% da população) apresentam algum tipo de deficiência (mental, motora, visual ou auditiva). Por meio de atividades como rapel, trekking e rafting, o projeto de Silvio tem sido uma boa oportunidade para essas pessoas viverem sensações que trazem benefícios que vão além da curtição do momento: recentemente, psicólogos constataram melhoras significativas na autoestima e na capacidade intelectual de seus alunos, que ao encararem os próprios medos e limites passam a ter mais confiança para resolver problemas do dia-a-dia – como qualquer outra pessoa.

Hoje, aos 61 anos, Silvio continua praticando os mesmos esportes de que quando tinha 20 e poucos: rema, corre e, em 2014, foi campeão gaúcho de corrida de montanha. “Mas sei que a melhor marca que posso deixar é ter sido o pioneiro em usar esportes de aventura como inclusão social no Brasil”, diz.

Apoios: Curtlo, Salomon, Camelbak, Oakley

Ana Marcela Cunha

Modalidade: Maratona aquática

Nascida em: Salvador (BA)

Idade: 22 anos

Principais feitos: Tricampeã da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas e recordista da Travessia Capri-Napoli

Obstinada, a nadadora baiana dá show em maratonas aquáticas, trabalhando dobrado para conseguir fincar seu nome entre os talentos olímpicos da modalidade em 2016

EM 2007, AOS 13 ANOS, Ana Marcela Cunha já fazia bonito em maratonas aquáticas: foi medalha de prata nos Jogos Pan-americanos do Rio e, um ano depois, estava nas Olimpíadas de Pequim. Na China, descolou um nobre quinto lugar na competição e, dois anos depois, venceu a primeira etapa do Circuito Mundial de Maratonas Aquáticas.

Em 2014, essa nadadora foi praticamente imbatível. Ana Marcela conquistou o tricampeonato da Copa do Mundo de Maratonas Aquáticas com um feito inédito na modalidade: subiu ao pódio em todas as oito etapas disputadas no ano.

Em setembro, também encarou a tradicional Travessia Capri-Napoli, na Itália, uma dura prova de 36 km que integra o Circuito do Grand Prix de Águas Abertas da Federação Internacional de Natação (Fina). Completou o desafio em 6h24m47s, não só vencendo como diminuindo em sete minutos o tempo recorde da prova.

A Fina teve bons motivos, portanto, para elegê-la a “melhor atleta de maratona aquática da temporada”, outra grande conquista de sua vitoriosa carreira. “A verdade é que, quanto maior foi o comprometimento e a dedicação aos treinos, maiores as chances de se alcançar os objetivos”, diz.

O foco de Ana Marcela agora está voltado para o Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos 2015, que acontece em julho, em Kazan (Rússia), e que funcionará como seletiva para os jogos olímpicos de 2016. “Com isso, deixarei de participar de algumas provas que gostaria, mas será por uma boa razão. Só assim posso continuar sonhando em competir no Rio de Janeiro”, justifica.

Patrocínios: Atleta SESI-SP; Correios/CBDA; Embratel; Bolsa Pódio/Ministério do Esporte; Speedo; Nissan; Englishtown

HOMENAGEM

Ricardo dos Santos

Talento e coragem eternizaram este jovem surfista brasileiro – reconhecido mundialmente como um dos maiores freesurfers da sua geração – que nos deixou em janeiro, morto por motivo fútil e de forma cruel na Guarda do Embaú (SC). O Prêmio Outsiders 2015 faz um tributo ao seu espírito autêntico, digno e livre

Ricardo dos Santos tinha apenas 24 anos, mas já impunha respeito entre os maiores freesurfers do planeta. Fazia parte de uma seleta trupe capaz de transformar mares quebra-coco em um tranquilo e divertido parque de diversões. Era reconhecido por ser atirado, destemido, alegre, confiante e dono de um coração que representava a essência do surf. Ricardinho estava puxando a fila da sua geração, até ser covardemente assassinado, em janeiro deste ano, após uma breve discussão com um policial militar (bêbado e de folga) próximo à casa de seu avô na Guarda do Embaú, no litoral catarinense.

De Pipeline, no Havaí, ao rio da Madre, na Guarda, surfistas se reuniram para homenagear o jovem brasileiro – vítima da violência infelizmente corriqueira no nosso país. Sua personalidade já o havia transformado não apenas em uma referência dentro d’água, mas em um verdadeiro líder da comunidade que defendeu até o fim trágico e precoce de sua vida. Com a prancha nos pés, era um monstro, chegando a ser conquistar o prêmio Billabong Andy Irons de melhor performance em Teahupoo durante uma etapa do WCT, além do Wave of the Winter, dado pelo site Surfline.

“Ricardinho era alegre, confiante, esperto e ao mesmo tempo humilde. Um amigo verdadeiro e um cara genuíno. Foi com muito orgulho que vi Ricardo tornar-se um homem digno, correto e leal. Sua morte prematura deixa uma cicatriz profunda no coração de todos que o conheceram”, relata Steve Allain, editor internacional da revista Hardcore. O Outsider nem sempre é o campeão, o dono da medalha ou do troféu. Há coisas que valem mais na vida. Ricardo dos Santos valorizava várias delas. É por isso que sua perda deixa tanta saudade. E é por isso que sua passagem nunca será esquecida. Seu espírito outsider já faz parte de todos nós.

Matéria originalmente pubicada na Go Outside 116, de março de 2015.







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