Escalda-pés

Por Erika Sallum
Fotos por Harry Borden

Areias em fogo, temperatura batendo nos 50º C, água racionada e o desafio de cruzar trechos de até 80 quilômetros num único dia. E tudo isso carregando sua própria mochila, que facilmente pode pesar mais de oito quilos. Por esses e outros obstáculos para lá de desumanos, o Sahara Race figura entre as ultramaratonas mais difíceis do planeta. A prova faz parte do circuito 4 Deserts, realizado nos quatro principais desertos do mundo.

Criado em 1996 pela corredora Mary Gadams, o circuito acontece nos desertos de Gobi (China), Atacama (Chile), Saara (Egito) e Antártica, no Pólo Sul – nada menos do que os lugares com as mais extremas temperaturas da Terra. Geralmente duram cerca de sete dias e percorrem mais de 200 quilômetros, que são divididos em etapas duríssimas, passando por paisagens fascinantes e sítios históricos. “Quando fundei o 4 Deserts, queria que atletas de todo o globo pudessem vencer desafios e, ao mesmo tempo, vivenciar antigas culturas e conhecer regiões e climas distintos”, diz Mary.

Cem corredores de 22 nacionalidades, com idades entre 21 e 73 anos, participaram da edição 2005 no Saara, que rolou entre os dias 25 de setembro e 1º de outubro, com a linha de chegada instalada estrategicamente nas famosas pirâmides do Egito. Foram seis dias que exigiram muita determinação e preparo físico dos atletas, já que as temperaturas diurnas excederam os habituais 30º C comuns nessa época do ano. A maioria dos trechos variou entre 32 kms e 42 kms – com exceção do quinto dia, que teve extenuantes 80 kms. “Nas três primeiras etapas tivemos picos de 51º C, sendo que à noite o termômetro baixava para menos de 15º C”, conta Mary.


A-LA-LA-Ô: Corredores atravessam o deserto do Saara

Para piorar, cada competidor tinha de levar seu próprio equipamento, roupa e comida, reabastecendo-se de água em poucos pontos disponíveis pela organização. “Esse tipo de exigência ensina os participantes a levarem apenas o essencial. Quem quiser terminar a prova tem de saber do que exatamente seu corpo necessita”, completa a organizadora. O canadense Ray Zahab, de 36 anos, chegou em primeiro lugar, com um tempo total de 26h24m45s. Teresa Schneider, uma americana de 44 anos, venceu entre as mulheres, completando a prova em 32h18m54s.

A próxima edição do 4 Deserts acontece em janeiro na Antártica, com largada no primeiro dia de 2006. Gelo, ventos fortíssimos e um frio de lascar aguardam os corajosos inscritos. Em julho de 2006, o evento segue para o Atacama. “É o lugar mais seco do mundo e isso torna tudo bem mais complexo”, diz o carioca Carlos Sposito, que participou da prova no Chile há dois anos. “Recomendo para quem gosta de correr, mas também curte sofrer.” Mais informações no site www.racingtheplanet.com.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2005)







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