Homens ao mar


MINITOCA: Não da para entrar, mas esta pequena gruta na água já vale a ida até a ilha das Couves

Texto e fotos por Christian Fuchs

NO EXTREMO NORTE DO LITORAL DE SÃO PAULO (km XX da Rio-Santos) está o núcleo Picinguaba, um dos únicos trechos praianos onde o parque estadual da Serra do Mar chega até o mar. Essa proximidade da enorme escarpa da serra faz desse litoral um lugar bastante recortado, com pequenas baías, muitas cachoeiras em rios limpíssimos, ilhas com praias desertas e um mar perfeito para navegar de caiaque oceânico. E é dentro de um barco que sugerimos você passar o próximo feriadão de três dias, explorando todos os cantinhos desse pedaço do paraíso.

1º dia – vila de Picinguaba até a ilha dos Porcos

Picinguaba é uma típica vila de pescadores ainda preservada, que tem uma convivência bastante pacífica com as pousadas e veranistas que lá se instalaram. Depois de preparar os caiaques, saia beirando o costão para a direita (sul) e já faça a primeira parada na praia da Fazenda, onde fica a sede do Núcleo Picinguaba do Parque Estadual da Serra do Mar. A praia é totalmente preservada. Continuando para o sul, passe pela praia Brava da Almada, que só permite uma parada quando o mar está tranqüilo – algo que nem sempre acontece. Mas, se for um dia de calmaria, aproveite: essa praia também faz parte do parque, é praticamente deserta e tem águas transparentes. O acesso por terra só é feito por uma trilha que leva cerca de meia hora, por isso ela se mantém vazia mesmo nos feriados mais muvucados.

Siga então até a ilha dos Porcos, uma ilha “particular” com uma praia linda, virada para o continente e totalmente abrigada, onde vale uma parada para fazer um belo lanche e botar as máscaras e nadadeiras em ação. Devido ao pouco movimento turístico na região, pode-se avistar belos corais, peixes coloridos e, se tiver sorte, topar com um cardume de golfinhos. Na última vez que fizemos essa remada, eles nos acompanharam durante uns 15 minutos, dando saltos e se revezando para respirar na superfície. Esses golfinhos são avistados com bastante freqüência nessa região da baía de Ubatumirim e são um show à parte, mas geralmente não permitem que você se aproxime demais.

Antes de retornar para Picinguaba, passe ainda pela ilha da Selinha, que parece que foi dividida ao meio por um raio. Ela também é linda para mergulhos, mas não tem praia.

2º dia – Núcleo, Casa da Farinha e poços do rio da Fazenda

Para dar uma variada no roteiro, reme até a praia da Fazenda e entre pelo rio de mesmo nome, no canto direito da praia (olhando do mar). Pare na hospedaria do Parque, deixe os caiaques e faça uma caminhada de pouco mais de uma hora até a Casa da Farinha. Preservando as tradições locais e história, o local foi reformado e voltou à ativa, produzindo artesanalmente por volta de 300 quilos de farinha de mandioca por semana. Talvez você encontre lá o seu Zé Pedro, produtor de farinha que vive há mais de 50 anos no local e tem histórias incríveis da época em que ainda não existia a estrada Rio-Santos e toda a produção de farinha era levada por trilhas, no lombo de mulas, para ser vendida em Ubatuba. Na casa também é produzido melado, caldo de cana e açúcar, em um engenho movido por uma roda d’água enorme, exatamente como há 40 anos – uma verdadeira aula de cultura caiçara. Continuando mais um pouco pela trilha, pare para tomar um banho nos poços do rio da Fazenda, pois ninguém é de ferro!

A trilha que continua seguindo o rio até Parati não é menos antiga e tem o nome de trilha do Corisco. O parque oferece monitores para essa trilha, que geralmente é feita em oito horas, em plena mata atlântica preservada.



PARAÍSO: Uma das minipraias desertas da ilha das Couves

3º dia – ilha das Couves

Uma das vedetes das redondezas é a ilha das Couves, com duas praiazinhas desertas lindas que convidam qualquer um a curtir uma preguiça ou um mergulho no mar cristalino. Em 90 minutos de remada chega-se à ilha e à praia das Couves, passando pela ilha Comprida. As duas ilhas formam um arquipélago lindo, ainda praticamente desconhecido pelos turistas. Claro que isso tem um preço: borrachudos estão sempre prontos pra te recepcionar!

ANOTA AÍ

Dificuldade: fácil, com até duas horas de remada ao longo do dia. As condições são de mar abrigado.

O que levar e vestir: uma camisa longa, boné e protetor solar são itens obrigatórios para proteger-se do sol em remadas de caiaque oceânico. Não se esqueça de um cantil, equipamento de mergulho e sunga ou biquíni.

Para chegar à Picinguaba: siga pela BR-101 sentido Santos-Rio até a entrada de Picinguaba, 42 km depois de Ubatuba. Depois são mais três quilômetros até a vila.

Quem te leva: A operadora Aroeira Outdoor oferece este roteiro com caiaques bastante estáveis e rápidos, não exigindo conhecimentos técnicos de canoagem. (aroeiraoutdoor.com.br, 11 4402 1541)

Onde ficar: a pousada Rosa de Picinguaba é uma opção bastante aconchegante. Ali funciona também um ateliê de cerâmica da própria dona, Rosa Penteado (pousadarosapicinguaba.com.br).

Quer mais? O núcleo Picinguaba oferece várias trilhas monitoradas, como a trilha do Jatobá (três horas), do Corisco (oito horas), da praia Brava da Almada (por um costão rochoso) e o picadão da Barra (por mata atlântica e mangue). Há também uma trilha fluvial, feita com um barco a remo e acompanhada de um monitor ambiental, para apreciação do ecossistema de mangue. O núcleo oferece ainda hospedagem e programas de educação ambiental para grupos de escola e pesquisadores. O telefone para agendamento de visitas é (12) 3832 9011.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2007)







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