Dias selvagens na fazenda


ARTE: Show da banda norte-americana Animal Collective no palco The Park

Texto e fotos por Piti Vieira

É DIFÍCIL COMBINAR ESPORTE E BALADA. No dia a dia, quando tento conciliar uma agenda de treinos com uma rotina de noitada em bares e clubes, geralmente algum deles sai perdendo. Mas isso não significa que esportistas não gostem de festa e que a experiência em situações sem conforto não ajude – e muito – na hora da diversão. Um bom exemplo pra colocar em prática essa fusão é se jogar pra valer em um festival de música. Só que um festival de verdade, gigante, nada parecido com o que estamos acostumados a ver aqui no Brasil.

O Glastonbury Festival of Contemporary Performing Arts, conhecido apenas como Glastonbury ou Glasto, que acontece numa fazenda no sudoeste da Inglaterra, é o maior festival de música a céu aberto do mundo – mas também possui atrações de dança, humor, teatro, circo, cabaré e outras formas de arte. Na edição 2009, 160 mil pessoas compareceram ao evento (praticamente um Woodstock), que teve os ingressos esgotados em fevereiro, durou três dias e terminou em 28 de junho. Entre as centenas de bandas que se apresentaram, estavam Blur, Prodigy, Neil Young, Nick Cave, Yeah Yeah Yeahs, Friendly Fires, 2 Many DJ’s, Lady Gaga, Bruce Springsteen, Kasabian, Dizzee Rascal, Spinal Tap, Bloc Party, Franz Ferdinand… a lista vai embora.

A fazenda onde acontece o Glasto fica a uma hora e meia de trem de Londres. Aqui cabe um adendo importante: não tente levar nada ilícito para lá, porque a polícia faz uma varredura com cachorros em todos antes do embarque. Portanto, se você se interessou em ir no ano que vem e não pretende passar uns dias na capital inglesa antes de seguir viagem para economizar dinheiro (uma libra custa hoje 3,50 reais, aproximadamente), prepare-se então para, no mínimo, cinco dias sem tomar banho. É, meu caro, não existem chuveiros no local, só banheiros químicos – muitos, por sinal – e é bom chegar com antecedência (os portões são abertos ao meio dia de quarta-feira e os shows começam pra valer na sexta) para conseguir um lugar decente para montar a barraca.

Esse é um ponto crucial. O Glasto é mundialmente conhecido pela chuva que cai durante todos os dias, mas o tempo é muito instável. Pode chover pela manhã, fazer um sol desgraçado à tarde e chover mais no fim do dia (nessa época o sol se põe às 22h). Apesar dos extremos meteorológicos, ingleses de caras rosadas e bagagens gigantes não param de chegar. Imagine milhares de pessoas pisando na terra e na grama continuamente, de manhã até a madrugada. O resultado é lama, muita lama, que em alguns lugares chega até o joelho. Então, quem demora a chegar fica com os lugares que sobram, sempre os piores, junto às passagens, feitas com um tapete plástico extenso por onde a multidão se locomove. Como não cabe todo mundo andando em cima desse tapete, as pessoas vão pisando onde dá, inclusive em cima das barracas mal instaladas. Eu cheguei a ver barracas montadas quase no limite do permitido, enlameadas até o teto. É até aceitável não tomar banho por uns dias, mas não precisa acampar no chiqueiro.


SÍMBOLO: O símbolo do festival é uma vaca, mas esse ano resolveram colocar esse elefante na área vip

Na edição desse ano choveu apenas na quinta e na sexta, mas foi suficiente pra deixar o terreno totalmente detonado até domingo. Por isso, outro item indispensável são as galochas, que ficam imprestáveis ao fim do festival. Se você não tiver disposição de carregar um par até lá, dá pra comprar galochas usadas no ano anterior e abandonadas pelos donos por 5 libras na saída da estação de trem – o chulé vem de brinde.

Outros itens básicos para uma expedição ao Glastonburry são: corta-vento impermeável (quanto menor, melhor, pois você vai carregá-lo em todas as horas), calça para trekking (se for uma que dá para arrancar as pernas e virar bermuda, melhor, já que quando abre o sol faz bastante calor e à noite a temperatura despenca), lanterna de cabeça (para achar o que for dentro da barraca) e, se possível, um GPS. Não é brincadeira: achar a sua barraca no meio de milhares, todas montadas umas juntas às outras, é uma tarefa árdua, principalmente depois de várias cervejas. Se não tiver uma boa noção de navegação, vai ter trabalho. E para carregar tudo isso, uma mochila de ataque está de bom tamanho. Roupas íntimas e meias são as únicas peças de roupa que você deve levar na mesma quantidade de dias.

Quem está em forma vai tirar de letra a prova de resistência que são os três dias em que acontecem os principais shows. Os quatro palcos principais e as tendas da área de dance music ficam afastados uns dos outros, e no meio do caminho tem sempre um zilhão de obstáculos móveis – no caso, pessoas. Como os shows acontecem simultaneamente, todo mundo está sempre em movimento, correndo de um palco até outro para ver o máximo de atrações possíveis. Pra descansar, só mesmo sentando no chão – que ou vai estar enlameado ou cheio de lixo – ou numa cadeirinha portátil, dessas de camping. Mas parar vai ser a última coisa que você vai querer fazer, acredite.


MULTIDÃO: Olha a galera

Acampamento cinco estrelas

A Orange, uma das grandes empresas mundiais de telecomunicações, revelou recentemente o projeto da barraca Solar Concept Tent, criada em parceria com o estúdio de design Kaleidoscope. O objetivo das empresas foi chegar num modelo capaz de possibilitar todo o conforto ao espectador do Glastonbury Festival. O modelo possui três placas de captação solar, flexíveis e ajustáveis, localizadas sobre o teto. Depois de um dia inteiro montada sob luz, a Solar Concept Tent terá energia suficiente para carregar a bateria de um iPod ou de um celular, manter acesa as luzes internas e permitir ao usuário navegar na internet. Isso mesmo. Além de lâmpadas, a barraca conta com uma tela flexível de LCD, de onde é possível acessar a rede mundial de computadores via wireless.

Mas o diferencial mais importante, pelo menos para quem está curtindo um megafestival como o Glastonbury, é que a Solar Concept Tent se acende imediatamente ao receber uma mensagem via SMS, podendo ser vista a quilômetros de distância. Com isso, você poderá dançar e beber à vontade, sem a preocupação de não conseguir encontrar seus aposentos no meio da madrugada.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2009)







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