A igualdade é rápida


PANTERA DO MAR:No primeiro campeonato para os monotipos S40, venceu o trabalho da tripulação uruguaia do Negra

Por Fernanda Franco
Foto por Hector Echebaster

QUAIS OS INGREDIENTES PARA UMA BOA DISPUTA em qualquer esporte? Condições ideais – quer seja na água, no ar ou na montanha –, competidores bem preparados e, principalmente, equipamentos em condições semelhantes. Foi exatamente nesses fatores que os organizadores da Mitsubishi Sailing Cup pensaram ao elaborar o primeiro campeonato de vela oceânica exclusivo para veleiros S40, de 40 pés. Os barcos, idealizados por Eduardo Souza Ramos e projetados pelo argentino Javier Soto, já haviam participado da Rolex Ilhabela Sailing Week por duas vezes, mas ainda não tinham tido o gostinho de se enfrentarem em uma raia somente para eles.

Os S40 têm uma característica que já existe em outras categorias e que revolucionou a vela oceânica: são monotipo, ou seja, têm um único desenho. Como são iguais entre si, o que prevalece na disputa é o trabalho da tripulação. Além disso, não há a necessidade de handicap – cálculo feito ao final de cada disputa para o ajuste do tempo de chegada quando os barcos são diferentes. Ganha quem passar pela última boia primeiro, aumentando a adrenalina da competição. Outra novidade na Mitsubishi Sailing Cup foi o fato de haver um juiz na água, e as penalizações serem cumpridas durante a regata, evitando recursos em terra. Emoção garantida.

Para comandar esses superveleiros ¬– leves, rápidos, feitos com a mais alta tecnologia (incluindo mastro de carbono) e com uma área vélica de 100 m2, similar a de um veleiro de 57 pés –, nove tripulações. Quatro brasileiras (as dos veleiros Pajero, Mitsubishi/Gol, Ogum e Carioca), duas argentinas (dos veleiros Mercenário 5 e Cusi), uma chilena (do Celfin Capital) e, por último, a uruguaia (do Negra). A certeza da qualidade da disputa chegou com os nomes dos seus comandantes, como Torben Grael e seu irmão Lars Grael, o uruguaio Nicolas Gonzalez, os brasileiros Alan Adler, Eduardo Souza Ramos, Roberto Luiz Martins e Zeca Revoredo, e o argentino Norberto Alvarez.

Com condições tão iguais – as mesmas oportunidades na raia, barcos idênticos e tripulações tão bem comandadas –, nem os organizadores previam que a disputa seria tão acirrada. Com quatro etapas realizadas (Rio de Janeiro, Angra, Ilhabela e Florianópolis) ao longo três meses, até o penúltimo dia da competição quatro barcos ainda tinham chance de ganhar a maior premiação já entregue na vela: uma Pajero Dakar.

LOGO NA PRIMEIRA ETAPA, no Rio de Janeiro, ficou evidente que a disputa seria mastro a mastro. Nos três dias de regata, sete dos nove barcos em disputa conseguiram figurar nas primeiras posições, conquistando pontos importantes. O tom do campeonato seria definitivamente de equilíbrio e regularidade. Uma garoa fina e um vento sudoeste oscilante na baía de Guanabara complicaram a vida das equipes que não estavam acostumadas com essas condições, como os argentinos do Mercenário e do Cusi, favorecendo os brasileiros do Mitsubishi/Gol e do uruguaio Negra, que saíram na frente no campeonato.

As duas etapas seguintes, Angra dos Reis e Ilhabela, seguiram com disputas equilibradas nas raias, e com os ventos oscilando ente muito fortes ou bem fracos. As mudanças e surpresas eram constantes. Os destaques foram os veleiros Celfin Capital, do Chile, e o brasileiro Pajero, mas o Negra e o Mercenário mantiveram a constância nas regatas e chegaram a Florianópolis nas primeiras colocações, prontos para não deixar escapar o carro.

No final, prevaleceu a sintonia e a regularidade entre a tripulação do Negra, que fez uma regata estratégica e ultrapassou os argentinos do Mercenário apenas na última bóia. Em número de pontos, os dois barcos ficaram empatados, mas prevaleceu o número de vitórias do veleiro do Uruguai. “Foi um trabalho de equipe e de muita dedicação, treinamento e aprendizado. Arrancar a vitória na última perna da última regata da competição tem um sabor realmente especial”, comemorou Nicolas Gonzalez.

Roberto Luis Martins, comandante do barco brasileiro Carioca, avalia a importância da tripulação em uma prova como essa. “Todos do Negra estão de parabéns. Não dá para destacar algum deles. Eu troquei de tripulação em todas as etapas, e isso comprometeu muito nosso desempenho. Se você perde o timing de alguma manobra, perde a regata”, reflete.

Mesmo assim, Roberto faz um balanço positivo da prova e fala da importância de velejar ao lado de grandes nomes da vela. “É estimulante estar ao lado de feras, como numa prova dessas. O benefício de estar velejando já é enorme, ganhar é bônus. A prova foi perfeita”, conta ele, já empolgado para 2011, quando a competição deverá contar com três etapas, e cerca de quinze barcos. Será adrenalina na certa.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2010)







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