Corrida barefoot: quatro dicas para quem quer experimentar a modalidade

Por Daniela Fescina, com fotos de Diego Cagnato

corrida barefoot

A corrida barefoot tem ganhado adeptos, que literalmente correm na contramão de tênis com cada vez mais amortecimento e tecnologia. A ideia é que a tecnologia de corrida mais poderosa é a própria estrutura do nosso corpo, desde que treinada correta e gradualmente para a corrida. A corrida barefoot é literalmente correr de pés descalços. Os praticantes correm de pé no chão ou com sandálias minimalistas, deixando de lado o tênis.

“Eu estava participando da Dez Milhas Garoto, em Vitória (ES), quando um corredor com deficiência visual e o seu guia passaram por mim, e os dois estavam descalços.” Foi depois dessa cena, em 2015, que o baiano Claudio Rocha aposentou os tênis de corrida, pelo menos em parte dos treinos.

Ele começou a correr descalço uma vez por semana e logo sentiu que passou a aterrissar com a parte da frente do pé, em vez de com o calcanhar, trabalhando assim os músculos da panturrilha. “Eu ganho mais velocidade e dinâmica nas passadas. O pé respira melhor e não carrego peso extra. Fora aquela sensação de que estou livre”, diz. Por outro lado, ele explica que, quando usa tênis, consegue forçar um pouco mais a passada sem medo de pisar em algum pedaço de vidro, por exemplo, ou de machucar o pé.

Um estudo da Universidade de Harvard liderado pelo norte-americano Daniel Lieberman mostrou que, com o tempo, praticantes de corrida barefoot descalços têm tendência a aterrissar com o mediopé ou antepé em vez de com o calcanhar. Isso tende a gerar uma corrida mais eficiente e uma menor propensão a lesões. Entretanto a corrida descalça ainda está longe de ser uma unanimidade entre pesquisadores e treinadores. Diversos especialistas defendem que não há evidências conclusivas sobre as vantagens e as desvantagens da prática. Além disso, muita gente alega que a nova forma de correr pode gerar outras lesões na parte inferior da perna, como nas panturrilhas.

Desde que começou a correr no fim de 2014, Kauzinho, como é conhecido entre os amigos, já teve fascite plantar e canelite, mas isso se deu antes de ele aderir à corrida descalça. “Foi excesso de volume e intensidade nos treinos, além de falta de fortalecimento”, justifica. Por precaução, ele vem incluindo pequenas mudanças na rotina. “Antes eu fazia tratamento para tirar o excesso de calosidade dos pés, mas hoje não mais, pois ajuda a proteger a sola. E faço massagem para evitar a temida fascite plantar e outras lesões na região.”

Atualmente, Kauzinho deixa os tênis em casa em um ou dois treinos na semana, entre os seis que ele faz. “Como aeroportuário, trabalho em escala: três dias à noite, três à tarde e três pela manhã. Treino quando dá, e não importa se faz chuva ou sol.” Quando está descalço, ele costuma alternar entre grama sintética, areia e asfalto. “E, como tenho pisada supinada [para fora], é necessário colocar uma fita para proteger o dedão, pois ele atinge o solo primeiro quando aterrisso e, sem essa proteção, podem surgir bolhas”, explica. E não pense que ele reduz o volume quando tira os tênis. Como geralmente treina para provas acima de 10 km, ele chegou a atingir 35 km no longão “calçado” e 34 km descalço. “Saí às 5h, sem meta, fui pela areia e voltei pelo calçadão. Fiz um excelente treino de 34 km em 2h44”, conta.

Já na hora de escolher as provas para correr descalço, ele prioriza as mais curtas, de até 10 km, sempre em locais onde já conhece o terreno. “A Marginal Pinheiros, em São Paulo, por exemplo, tem menos pedriscos, pois o grande volume de carros que circula diariamente ali joga os vidros e pedrinhas para a lateral da pista.” Ele também evita correr sem tênis em dias frios. “O risco de ficar resfriado é maior”, conta. Sua melhor marca nos 10 km correndo descalço é 39min15, enquanto que com tênis ele corre em 38min22.

Kauzinho conta que só não dispensa de vez os calçados porque os percursos das provas nem sempre são “amigáveis” – há ruas de paralelepípedos, buracos, cacos de vidro e pedras. “Em uma prova de 10 km, já no primeiro quilômetro, eu pisei com o dedão em uma pedrinha. Corri o restante da prova com uma bolha de sangue, mas só percebi depois de terminar, pois não senti muita dor”, relembra. Mesmo com as possíveis adversidades, o baiano nem cogita parar. “Minha meta agora é correr a São Silvestre descalço e em menos de uma hora.”

Corrida natural ou Barefoot running: veja dicas

1/ Em primeiro lugar, procure um educador físico e um médico para que eles acompanhem o processo.

2/ Quando começar os treinos, caminhe descalço em gramados ou na areia para ir acostumando os pés. Com o tempo, vá aumentando o ritmo.

3/ Depois de se acostumar com a nova pisada, mude para terrenos mais rígidos (asfalto) e repita o processo anterior. É tudo uma questão de treino.

4/ Escute os conselhos de corredores mais experientes que praticam a corrida descalço de forma saudável.


Ilustres pés descalços
Conheça outros corredores que abriram mão dos tênis

1 – Chico Águia

Dono do “melhor pé do mundo”, como ele mesmo diz, Francisco de Assis – o Chico Águia – completou sua 14ª maratona aos 76 anos. Ele treina descalço todas as manhãs, no Rio de Janeiro.

2 – Os tarahumara

Os membros da tribo mexicana Tarahumara são os ultramaratonistas descalços mais famosos do mundo. Até já ganharam algumas provas!

3 – Abebe Bikila

Nas Olimpíadas de 1960, o etíope Abebe Bikila fez história ao conquistar o ouro e bater o recorde mundial da maratona – sem nada nos pés.

4 – Scott Jurek

Ultramaratonista e defensor do estilo de vida saudável, o norte-americano Scott Jurek costuma treinar descalço para fortalecer pés e panturrilhas.

 







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