Marta Empinotti: a base jumper dá a palavra de mestra

Por Mario Mele

APESAR DE SER quase desconhecida no Brasil, a gaúcha Marta Empinotti é uma das atletas mais importantes do base jump do mundo (entre homens e mulheres). Além de ter sido, de fato, a primeira pessoa nascida no Brasil a realizar um salto de base jump, ela ajudou a moldar o esporte como o conhecemos hoje: como sócia-fundadora da  Apex, uma renomada marca e equipamentos de base, Marta colabora até hoje com a evolução de seu esporte, no mais alto grau.

 

 

Morando nos Estados Unidos há algumas décadas, está sempre viajando o mundo para ensinar seu esporte. Mas recentemente, entre um compromisso e outro, ela falou com a Go Outside por e-mail e, entre outras coisas, contou como é ser pioneira em um esporte que vive na linha fina entre um feito impressionante e a fatalidade.

GO OUTSIDE: Como você descobriu o base jump e como aprendeu a saltar?
MARTA EMPINOTTI: Em 1985 eu comecei a praticar paraquedismo em um lugar perto de Porto Alegre, onde eu morava. Tinha acabado de completar 20 anos e adorei o esporte. Como morava no 10° andar, olhava para baixo e pensava que se eu soubesse que sobreviveria, gostaria de saltar do meu prédio. Mas leve em conta que, naquela época, eu nem sequer tinha ouvido falar em base jump. No final de 1985, decidi viajar o mundo por cinco anos. A minha primeira parada foi Miami, onde eu tinha planos de ficar por três meses antes de seguir para a Califórnia. Mas senti muito a falta dos meus amigos paraquedistas do Brasil e do próprio paraquedismo. Então em Miami eu procurei uma área para começar a saltar também. O amor pelo esporte cresceu ainda mais. Naquela época, o base jump engatinhava.

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Falaram-me de um evento que acontecia todo ano, o”Bridge Day”, em West Virginia, que era legal saltar da ponte naquele dia. No dia 10 de outubro de 1986, com 70 saltos de paraquedismo no currículo, eu fiz finalmente o meu primeiro salto de base. Foi com equipamento de paraquedismo com algumas modificações para o paraquedas abrir mais rápido, devido à baixa altura. Simplesmente me apaixonei. Naquele dia, o base jump virou prioridade na minha vida. Na época, não havia quem ensinasse o esporte e muito menos equipamentos específicos. Todos aqueles base jumpers foram pioneiros do esporte. Tivemos que inventar a roda, praticamente. Alguém ter 50 saltos era uma coisa incrível. Mas foi uma época maravilhosa, o começo de tudo.

Quais foram seus primeiros saltos no Brasil? Já era uma atleta experiente?
Meu primeiro salto de base jump no Brasil foi de uma ponte no Rio Grande do Sul. [O viaduto 13] , uma ferrovia de mais ou menos 130 metros de altura. Eu já era experiente quando saltei.

Ainda faz saltos pelo Brasil?
Não, nem quando vou visitar a minha família aí no Brasil. Geralmente não salto pois eles ficam preocupados. E, como eu sempre salto aqui nos EUA, acho que não há a necessidade disso. Mas daquela vez eu trouxe o meu equipamento, pois, sendo brasileira, achei que tinha que fazer pelo menos um salto no meu país. Anos depois fui convidada por um ex-aluno, o Flavio Jordão, para um evento de base jump que ele estava organizando, em um prédio em São Paulo. Foi um sucesso. Ele também me levou para saltar de uma antena, just for fun!

Por que decidiu ensinar?
O rumo que tomei na minha vida não foi nada planejado. Como eu era uma das poucas pessoas na época que praticava o esporte, alguns paraquedistas me pediam para ensiná-los. Eu topei, mas isso não envolvia apenas dar dicas de segurança — coisas que íamos aprendendo em cada salto –, mas também técnicas como dobrar o paraquedas. Quando a demanda ficou grande e começou a tomar até meu tempo de lazer, passei a cobrar: primeiro para dobrar o paraquedas e, depois, pelas aulas. Claro, eu adoro ensinar, e foi tudo natural. Logo vi a necessidade de se ter uma estrutura de ensino, e desenvolvi o meu curso de base.

E como começou a colaborar com novos equipamentos e tecnologias?
Percebi que era necessário desenvolver equipamentos especificos ao esporte e passei a testar ideias novas — não só minhas, mas de outras pessoas também. Em 1989, com o meu conhecimento e o de outros que saltavam, comecei a fabricar equipamentos para base. Foi quando surgiu oficialmente a minha primeira empresa, a Vertigo. Os cursos e a fabricação começaram oficialmente em DeLand, na Flórida. Como o base jump era totalmente ilegal, os saltos de formação do curso eram feitos de antenas de cerca de 300 metros de altura. Tínhamos que começar a escalar à noite, para não sermos vistos, e saltar ao amanhecer. Só fazíamos dois ou três saltos durante todo o curso, devido à fadiga e ao tempo limitado dos alunos. Estes saltos demoravam de cinco a sete dias para acontecer, e muitas vezes subíamos e não podíamos saltar devido à má direção do vento etc. Um dos meus primeiros alunos brasileiros foi o Sabiá.

No começo, por questões de segurança, você tinha medo de ensinar base jump?
Nunca tive medo de ensinar pois procuro conhecer bem meus alunos. E se eu vejo que a pessoa não “pertence” ao esporte, não ensino mesmo. Os riscos são conhecidos e aceitos, isso não é nenhum segredo.

Você já foi considerada a melhor base jumper do mundo. Quais foram seus maiores feitos?
Acho que os meus maiores feitos foram introduzir uma escola de base (de um jeito estruturado) e inventar e testar equipamentos próprio para esse esporte — já que, até então, usávamos equipamento de paraquedismo, apenas com algumas modificações. Outras pessoa cumpriam esta mesma função. Éramos, mais ou menos, em uns cinco. Acho que somos a segunda leva de pioneiros no esporte.

Por que você decidiu morar fora do país?
Em 1985, resolvi dar uma volta ao mundo. Meu plano era viajar durante cinco anos e então regressar. Levei uma mochila pequena para verão para verão, assim não precisaria ter muitas roupas. Minha primeira parada foi em Miami. O plano era ficar seis  meses e seguir à Califórnia, onde passaria outros seis meses. Eu tinha 20 anos, queria conhecer o Havaí e a Austrália também. Brinco dizendo que fiquei presa nos EUA porque lá me apaixonei pelo base jump — e um pouco pelo país também. Hoje ainda viajo o mundo, mas a minha casa são os EUA. Já faz 31 anos que moro aqui. Sou casada com o base jumper norte-americano Jimmy Pouchert, que está há 15 anos no esporte.

Você é adepta do wingsuit?
Sim, mas nos últimos anos deixei de saltar de base jump com wingsuit porque, entre os muitos amigos que perdi saltando, perdi um “irmão de coração” desta forma. Desde então, estou dando um tempo.

Você acredita que os base jumpers brasileiros vêm fazendo um bom trabalho para melhorar a imagem do esporte?
Sim, acho legal que vários base jumpers brasileiros têm se esforçado para levar e aplicar o conhecimento que existe aqui fora ao Brasil. É uma maneira de tornar o esporte o mais seguro. E há vários talentos no Brasil.

 

 







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