No embalo do skate

No embalo do skate
UNIÃO André e o filho Heitor passam um tempo juntos na Cavepool: o esporte aproximou a família (Crédito: GABRIEL REIS)

O único pedido de Leandro Miranda ao construir uma casa para morar era que deveria ter uma pista de skate. Ele só não imaginou que o lugar viraria um dos principais pontos de encontro de praticantes do esporte da capital paulista. Ele é proprietário do Cavepool, bar especializado em skate, mas também em gastronomia, educação e música. “Começou com uma reunião entre amigos. Assávamos uma carne aos finais de semana e deixávamos a pista de skate aberta para as pessoas usarem.

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Começou a encher e eu percebi que poderia investir em um lugar onde a molecada pudesse vir com a família, comer, beber e conversar”, revela Leandro. Deu certo. O espaço hoje conta com duas pistas de skate, dois restaurantes – que vendem hambúrguer e a tradicional comida havaiana Poke –, estúdios de tatuagem e de música, e mostra que o esporte está atrelado a um novo estilo de vida e um gigantesco mercado de consumo. Bares associados a uma pista, como o Cave, se espalham por todo o Brasil.

Quem soube deslizar nessa onda foi Pedro Barros, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Tóquio na modalidade. Há oito anos, junto com seu pai, André Barros, ele já observava o crescimento no número de praticantes e uma defasagem nos lugares de treinamento, que estavam abandonados. Muito deles ficavam em praças escuras e sem segurança: ou seja, um local onde nunca uma família poderia se reunir com tranquilidade para socializar. Nasceu ali a LayBack, empresa criada por pai e filho que tem como objetivo incentivar e apoiar atletas do skate e do surfe.

A marca, que abrange uma linha de cerveja, peças de confecção, sedia campeonatos mundiais e constrói pistas de skate, tem também mais de 16 estabelecimentos espalhados pelo Brasil em que une o esporte à gastronomia. “Hoje, dentro do complexo, temos estúdios de tatuagem, lojas de roupas, alguns restaurantes que vendem hambúrgueres e açai, e escritórios voltados para o segmento”, diz Rafael Alcici, CEO da LayBack.

Os novos ambientes seduzem os jovens praticantes de skate e seus pais. André de Souza, 43 anos, é um dos frequentadores assíduos do Cavepool. Ele gosta de frequentar o bar e comer na hamburgueria enquanto seu filho, Heitor de Souza, 9, treina.

Apesar da pouca idade, o menino já entrou para o time profissional da pista e ganhou recentemente a primeira etapa do campeonato paulista. “Eu o apoio e faço questão de vir todos os dias com ele, mesmo não entendendo muito. Sento, peço algo para comer, bebo uma cerveja, converso com outros pais”, revela. Segundo André, a Cave aproximou pai e filho, além de ter ajudado a moldar a postura do garoto. “Ele era bravo, teimoso e muito respondão. Nesse lugar ele ganhou disciplina ”, diz. Um dos principais diferenciais da Cave, segundo Leandro, é exatamente moldar e formar jovens mais respeitosos, atenciosos e campeões. Luizinho, por exemplo, primeiro brasileiro a se classificar para Tóquio e que acabou em quarto lugar, começou a treinar na Cave em meio a muitos hambúrgueres que comia ao lado do irmão. “Acho muito gratificante participar dessa mudança cultural no skate. Não estamos mais escondidos em praças”, afirma.

“Acho muito gratificante participar dessa mudança cultural no skate. Não estamos mais escondidos em praças, ganhamos espaço na arte, na música e no mercado” Luizinho, skatista profissional.

Essa mudança não é apenas cultural, mas comportamental. Apesar do mesmo boné para trás e das mesmas vestimentas: camisetas e calças largas com pelo menos dois números maiores que o corpo mede, o esporte não é mais o mesmo. Foi-se o tempo em que o skate era visto como algo marginalizado. Proibido no Brasil em 1986, por Jânio Quadros, ele é agora profissão reconhecida no Brasil, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), atualizada na última quarta-feira, 16.

O maior divisor de águas foi a inclusão da modalidade em Tóquio, quando Rayssa Leal, a fadinha do skate, conquistou a medalha de prata. Em 2019, mais de 8 milhões de pessoas praticavam o esporte, mas esse número aumentou depois dos jogos. Os novos bares de skatistas espalhados pelo País tendem a aumentar ainda mais a quantidade de praticantes e levar a cultura do esporte cada vez mais longe. Nos arredores das pistas, muitas crianças se familiarizam com o skate assim que dão os primeiros passos. É um ambiente propício para a formação de campeões.







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