Conversamos com atletas outdoor que conhecem bem o medo. Aqui eles nos contam como aprenderam a ouvi-lo, quando devem ignorá-lo e de que maneira manter o foco e a calma diante do perrengue.

Prepare-se para o pior

CONRAD ANKER, MONTANHISTA

Por que não fico com transtorno de estresse pós-traumático? Acho que na guerra, por exemplo, você não está lá por vontade própria. Nas montanhas, conheço as artimanhas da morte. De certa forma, isso me cura.

Eu li um livro uma vez sobre sobreviventes, pessoas que estiveram envolvidas em missões de guerras e bombardeios. Quando uma delas visualizava antes a pior hipótese possível que poderia ocorrer, tudo saía melhor. Quando estou escalando, faço isso: se eu não usar direito determinado equipamento, posso falhar; se eu armar minha tenda em uma zona de avalanche, talvez eu morra.

O lance é como você reage quando algo dá errado. Se eu estou andando perto de um lugar exposto na montanha e um pedaço enorme de gelo se solta, para que lado eu vou? Prepare-se para as piores situações. Isso te dará resistência para enfrentar o caos.

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Lembre-se de sua paixão

JEB CORLISS, BASE JUMPER

O medo é o fator motivador da minha vida. Eu já estive em situações nas quais tremia incontrolavelmente, tinha vontade de vomitar, chorar. E ainda assim me jogo em minhas aventuras, mesmo que seja uma experiência horrível. Você nunca supera o medo de verdade. Mas sempre quis entendê-lo e chegar do outro lado desse sentimento. E, geralmente, do outro lado está a vida.

Eu não corro atrás da morte. Corro atrás da vida. Não vou deixar o medo me impedir de fazer as coisas que amo. Na vida, você precisa descobrir quem é, qual sua paixão, a razão pela qual você acorda de manhã. Aí, então, você precisa ter a coragem para se lançar nessa paixão. Todos nós temos sonhos. Só que os meus são os pesadelos da maioria das pessoas.

Esteja sempre presente no aqui e agora

KAYA TURSKI, ESQUIADORA

Não conheço nenhum atleta que se livre do medo totalmente. Nem sei se eu quero, já que o medo também ajuda a nos manter seguros. Forçar a si mesmo a um desafio tem muito a ver com encontrar o equilíbrio entre o que você pode fazer e o que sua intuição está te dizendo, que é para ser cuidadoso.

Em 2011, comecei a trabalhar com o psicólogo dos esportes Michael Gervais. Uma das primeiras coisas que ele me disse foi: “Nossa, você é muito ansiosa”. Agora medito todos os dias. É muito útil principalmente na largada de uma prova. É um momento no qual, se você bobear, fica fácil pensar sobre patrocinadores, fracassos e lesões do passado. O truque é trazer a si mesmo para o presente.

Respeite seu processo de recuperação

GREG LONG, SURFISTA

Eu voltei a surfar menos de um mês depois de quase me afogar, em 2012. Ainda amo o surf de grandes ondas, mas sinto medo todas as vezes que enfrento mares gigantes. Você precisar ter um desejo enorme e uma chama interna profunda para se desafiar assim, e não tenho essas coisas como antigamente. É nesse ponto que eu me encontro agora.

Uma das razões pelas quais surfo ondas grandes é para aprender a controlar minha mente. Dá uma sensação de superação da adversidade e de conquista de objetivos. Toda vez que me coloquei em meio a grandes ondas, essas emoções estavam lá. Você precisa aceitá-las e saber usá-las. Agora sou mais seletivo quando surfo. Se você não está sentindo essa chama, se ela não está ressoando com você, se você não está se divertindo de verdade, então precisa repensar seus objetivos.

Respire

ALEX HONNOLD, ESCALADOR FREESOLO

Se você não está se desafiando, não vai evoluir. As pessoas usam a palavra medo para se referir a um enorme espectro de coisas. Se você tem medo porque está meio inseguro, esse tipo de medo é uma coisa boa – ele significa que você está forçando seus limites. Se você está realmente em perigo, aí já é outra coisa. Nesse caso, você precise avaliar a situação e ver se pode mesmo encará-la.

Já caí um monte de vezes. Posteriormente essas quedas tornaram mais fácil eu controlar meus medos. A parte racional do meu cérebro pode reconhecer: “Ei, você está entrando em pânico”. Quando sua visão se estreita, você fica todo agitado. Então me centro de novo. Uma respirada profunda é a melhor maneira de isso acontecer para mim.







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