Excesso de barulho aumenta risco de problemas no coração

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Foto: shutterstock

Exposição constante a barulho de carros, trens, aviões e até de baladas têm efeitos além dos ouvidos e que podem ser comparados aos do fumo passivo

Apesar de normalmente ser associada a problemas auditivos, a exposição crônica a ruídos e sons altos também tem impacto direto na saúde do coração. A poluição sonora, especialmente aquela provocada pelo barulho de tráfego de carros, ferrovias e aeroportos, é um fator gerador de um grande estresse fisiológico, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.

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Segundo a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein, desde a década de 1970 os cientistas estudam a associação de ruídos altos com problemas no coração, mas as evidências eram poucas. Nos últimos dez anos, entretanto, vários estudos têm comprovado essa correlação – o que torna essa exposição mais um fator de risco a ser considerado pelos médicos. As pesquisas mostram que os efeitos da poluição sonora são comparáveis ao do fumo passivo.

“A exposição a ruídos não é um questionamento comum em uma consulta de rotina. Mas, se o paciente relatar que tem problemas com o sono, por exemplo, essa é uma questão que deve ser considerada. O sono é um importante regulador das funções do organismo e a sua interrupção constante é prejudicial e está relacionada ao surgimento de doenças”, afirmou a cardiologista.

Uma recente revisão de estudos publicada na revista científica Nature avaliou o impacto dos ruídos na saúde cardiovascular e confirmou que o excesso de barulho durante a noite causa a fragmentação do sono e a elevação dos níveis dos hormônios do estresse. Isso pode levar a disfunções cardiovasculares, inflamação e hipertensão – todos fatores de risco para doenças cardiovasculares.

“Quando o som passa de um certo limite, ele acaba estimulando mecanismos cerebrais responsáveis pelas emoções. Isso acaba levando à produção de uma série de hormônios, mais destacadamente a adrenalina e a cortisol [hormônios do estresse], que provocam um desbalanço no organismo e um processo inflamatório dentro do endotélio, a parede dos vasos sanguíneos” explicou Juliana.

De acordo com a cardiologista, esse quadro leva ao enrijecimento da parede dos vasos e favorece a deposição de placas de gordura, culminando com a doença cardiovascular. Além disso, diz Juliana, o excesso de adrenalina e de cortisol no organismo prepara o corpo para o mecanismo de luta e fuga, o que também causa um enrijecimento vascular – aumentando o risco de hipertensão arterial – e um aumento do nível de glicose no corpo, podendo causar diabetes.

Mas qual seria o limite adequado de som? Segundo Juliana, uma conversa normal tem cerca de 60 decibéis. O barulho de carro e caminhões gira em torno de 70 dB a 90 dB, e o ruído de sirenes e aviões alcança cerca de 120 dB, assim como sons de baladas e shows.

“Níveis de ruído acima de 70 dB já são considerados prejudiciais”, alertou a cardiologista, que ressalta que o volume do som não precisa ser tão alto, mas o fato de a pessoa estar cronicamente exposta ao barulho acaba se tornando um problema. “O som tem uma influência muito grande no nosso organismo. A gente chora com uma música, por exemplo. E uma exposição constante a barulhos, mesmo que não sejam muito altos, é como se a gente sempre causasse um estresse diário no organismo. Um pequeno machucadinho todos os dias. Ao final, isso vira uma ferida grande. É o que acontece com a exposição sonora no nosso organismo”, disse.

O excesso de ruídos tem um impacto tão importante na saúde que em 2018 um relatório da Organização Mundial da Saúde estimou que, a cada ano, os europeus ocidentais estão perdendo coletivamente mais de 1,6 milhão de anos de vida saudável por causa do barulho do trânsito, que a maioria das pessoas estão constantemente expostas.

Higiene do som

E o que fazer para evitar problemas no coração, caso a pessoa viva numa cidade grande ou perto de áreas de tráfego intenso? Segundo Juliana, os fatores ambientais, como a poluição do ar e mais recentemente a poluição sonora, estão cada vez mais sendo descritos como potenciais agressores à saúde do coração. E esses estudos servem de alerta para a população, pois mostram outros fatores correlacionados às doenças cardiovasculares.

“Temos que tentar fazer uma higiene do som, como o uso de protetor auditivo nas situações em que identificamos que o som é irritante ou ruidoso demais; reduzir o uso de fone de ouvido por tempo prolongado para diminuir os estímulos de som muito alto; evitar lugares com muito barulho. São medidas gerais e multifatoriais para que o ambiente tenha menor influência dos ruídos”, concluiu.







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