Atualmente, atletas do mundo inteiro estão usando inteligência artificial para monitorar — e regular — a própria respiração. Dispositivos como o Garmin (com modos como ‘Breathwork’ e ‘Tranquility’), o Oura Ring (usado por coaches de respiração) e o Apple Watch oferecem protocolos de respiração baseados em frequência cardíaca, sono, variabilidade da frequência cardíaca (HRV) e carga de treino. O app FivePointFive, por exemplo, sugere ritmos respiratórios com base nesses parâmetros.
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Sim — esses dispositivos realmente orientam quando inspirar, por quanto tempo reter e como expirar.
Mas a IA só reconhece padrões fisiológicos médios. Ela não sabe o que está passando na sua mente. Não sente o que pulsa no seu peito. Ela apenas compara seus sinais vitais com um mapeamento populacional. Lê o corpo — mas ignora a alma.
A respiração pode parecer correta. E ainda assim estar errada.
A frequência está boa. O gráfico estável. O alerta verde. Mas você sabe: algo não encaixa. O ar entra, mas não alivia. A tensão não cede. O pensamento não desacelera.
Porque às vezes, a alteração respiratória não vem do físico. Vem do medo. Da dúvida. Da história que sua mente está contando em silêncio — e que a IA não consegue ouvir.
A respiração, quando automatizada sem autopercepção, se torna mecânica. Vazia. E, em vez de regular você, ela esconde o que precisa ser sentido.
Quando o corpo aguenta, mas a mente desiste
Mesmo entre os ultrarresistentes, a mente cede antes do corpo.
Durante a ultramaratona Badwater 135, em pleno Vale da Morte, David Goggins — ex-SEAL, ultramaratonista e autor best-seller — relata momentos em que o corpo seguia correndo, mas a mente já havia colapsado. Em seu livro Can’t Hurt Me, ele descreve:
“Minhas pernas estavam mortas. Meus pés, quebrados. Mas minha mente estava em guerra… Eu estava desconectado da dor. Conseguia ver meu corpo correndo, mas eu estava em outro lugar completamente.”
(Can’t Hurt Me, David Goggins, p. 206)
Esse tipo de dissociação é mais comum do que se fala — e menos treinado do que se deveria.
A maioria dos atletas foca em músculos, métricas e VO₂.
Mas quase ninguém prepara o que fazer quando a mente entra em colapso antes das pernas falharem.
A ciência confirma: presença é mais poderosa que previsão
Estudos da Harvard Medical School e do Center for Anxiety and Traumatic Stress Studies mostram que a respiração consciente regula estruturas cerebrais críticas para o desempenho sob estresse. Ela ativa o córtex pré-frontal, reduz a hiperatividade da amígdala e promove clareza mental.
Mas isso não se aprende só com app.
Isso se treina com atenção. Com coragem. Com escuta interna.
A IA sugere. Mas é você quem sente. E decide
O que a IA ainda não sabe sobre você
Ela não sabe o quanto você já suportou.
Ela não sabe o quanto essa prova significa.
Ela não sabe que seu coração acelera não pelo esforço — mas por memórias.
Ela apenas responde ao que vê. Mas o essencial… ela não enxerga.
Protocolo de Alto Desempenho Respiratório: 6 RPM
Quando o caos bater:
- Inspire por 5 segundos
- Expire por 5 segundos
- Repita por 3 minutos
Esse ritmo ativa o sistema parassimpático, aumenta a variabilidade da frequência cardíaca (HRV) e proporciona foco com clareza. Melhora a coordenação entre cérebro e coração, fortalecendo redes neuronais ligadas à regulação emocional e flexibilidade comportamental. O corpo volta ao presente. A mente sai do modo pânico.
(Baseado em estudos da Harvard Medical School e de Paul Lehrer et al., Frontiers in Psychology, 2023)
Conclusão
A IA pode até respirar por você. Mas ela não sente por você.
Não sonha por você. Não carrega os porquês que movem sua jornada.
Você não é um dado. Você é história, pulso, instinto e decisão.
A tecnologia calcula.
O app vibra.
O gráfico brilha.
Mas só você sente o que pulsa por trás dos dados.
A IA respira por você. Mas aguenta a sua dor?
Respire e Reaja Diferente.
*Claudia Faria é praticante de Yoga há mais de 20 anos, escaladora e criadora do Método Yoga Adventure, que integra técnicas de respiração, meditação e biohacking para otimizar a performance mental e física em esportes de aventura. Já abriu uma via de 600 metros no maior monolito do Brasil em Pancas (ES), fez cume no El Capitan, em Yosemite.