“Para se ter uma ideia de como é fascinante a paisagem ali, o leitor deve imaginar em conjunto tudo o que a natureza tem de mais encantador: o céu de um azul puríssimo, montanhas coroadas de rochas, cachoeiras majestosas, águas de uma limpidez sem par, o verde cintilante das folhagens e, finalmente, as matas virgens, que exibem todos os tipos de vegetação tropical.

Dali, pode-se descortinar a mais vasta extensão de terras que os meus olhos já viram desde que nasci. Num lado, a serra limita o horizonte, mas em todo o resto unicamente a fraqueza dos meus olhos restringia o meu campo de visão”.

As palavras acima são do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire, que no começo do século 19 visitou a Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais. Ainda hoje, dois séculos depois, a descrição histórica continua sendo um retrato fiel da paisagem bem preservada dessa região de mais de 200 mil hectares (o tamanho de Luxemburgo ou 200 mil estádios do Morumbi) que abrange as cidades de São Roque de Minas, Vargem Bonita, Sacramento, Delfinópolis, São João Batista do Glória e Capitólio, e que é perfeita para se aventurar.

Pouco explorada e misteriosa, a região da Serra da Canastra guarda uma das mais deslumbrantes e desconhecidas paisagens do Brasil. Durante muito tempo, aquelas plagas mantiveram-se isoladas por precárias estradas de terra e só há poucos anos entraram nos roteiros de viagem como lugar privilegiado para a prática de esportes radicais, vivência ambiental e turismo ecológico.

serra da canastra
Vista da Serra em meio à vegetação do cerrado (Foto: Shutterstock)

Fica na região do cerrado mineiro, mas apresenta uma vegetação bem variada que inclui campos rupestres e florestas. São mais de seis mil espécies vegetais, oitocentas espécies de aves e quase duzentas de mamíferos.

Espécie de berçário de rios situado bem no divisor de duas bacias hidrográficas, a do rio Paraná e a do rio São Francisco, a Serra da Canastra é um parque de diversões para quem adora atividades outdoor.

É perfeita para trekking e mountain bike e tem bons trechos de corredeiras para rafting e canoagem, mas estes esportes ainda são pouco explorados por lá. As cavalgadas combinam perfeitamente com o clima da região. O rapel e a escalada são proibidos na área do parque nacional, o lugar mais visitado da Serra da Canastra, mas as propriedades do entorno estão repletas de cachoeiras com até 300 metros de altura e algumas vias abertas.

O Parque Nacional da Serra da Canastra é um capítulo à parte na região. Criado em 1972 com o objetivo de proteger as nascentes do rio São Francisco, o parque abrange as cidades de São Roque de Minas, Sacramento e Delfinópolis.

A falta de vegetação de maior porte, combinada com os contrastes de relevo, deixa abertas grandes vistas panorâmicas do Parque e da região além de seus limites. Cachoeiras de tirar o fôlego e espécies animais ameaçadas de extinção, como o tamanduá-bandeira, o lobo-guará e o veado-campeiro, que podem ser vistos facilmente com silêncio e paciência, são as grandes atrações. O melhor horário para avistar os bichos é de manhã cedo ou no final do dia, mas há locais estratégicos, onde os animais já foram avistados, que só os guias conhecem.

Arco-íris dando as caras na cachoeira (Foto: Shutterstock)

Uma estrada corta todo o Parque e vias secundárias dão acesso de carro a algumas das principais atrações, como o cânion do rio São Francisco e a parte alta da Cachoeira Casca D’Anta, com impressionantes 186 metros de altura, a primeira queda do “Velho Chico”. O nome vem da árvore Casca D’Anta que tem propriedades medicinais cicatrizantes. Segundo os pesquisadores, a anta se esfrega no tronco da árvore para curar ferimentos superficiais, daí a inspiração.

É interessante fazer a travessia do parque na direção Sacramento-São Roque de Minas, pois a viagem terminará no final da tarde, exatamente na hora em que é possível observar os animais silvestres. Os pássaros são fáceis de avistar. Os veados-campeiros também. Eles ficam sempre perto da entrada para a Cachoeira do Rolinho, nos campos ao lado da estrada.

Os tamanduás e os lobos-guará são mais difíceis – é preciso uma certa dose de paciência para diferenciá-los no meio da vegetação do cerrado, mas é provável que sejam encontrados ao longo da estrada que leva até a Casca D’Anta (parte alta). Mas se você não quiser muito esforço, o mais certo é ficar esperando na portaria de São Roque, por volta das 19 horas, quando alguns lobos-guará vêm atrás de comida.

Existem quatro portarias, a principal é a de São Roque que chega à parte alta do parque, onde fica a nascente do São Francisco, a cachoeira do Rolinho (300 metros) e as primeiras quedas d’água da Casca D’anta, cartão postal da Canastra. A entrada para a parte baixa fica na cidade de Vargem Bonita. Existe uma trilha que liga a parte alta à parte baixa da cachoeira.

A entrada via São João Batista é pouco frequentada, mas vale a pena visitar a cidade, pois ela esconde cachoeiras encantadoras. A entrada por Sacramento é mais utilizada por aqueles que vêm de Delfinópolis e pretendem fazer a travessia do parque de carro. São 95 km de estrada de terra que atravessam o parque de Sacramento até São Roque de Minas. Fique esperto, pois não existe restaurante ou lanchonete dentro da área do parque.

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O queijo da Serra da Canastra é um ícone da região (Foto: Shutterstock)

De abril a outubro é a melhor época para ir à Serra. O céu é sempre azul e há pouca possibilidade de chuva. No verão chove praticamente todas as tardes. É aconselhável se informar quanto à condição das estradas e contratar um guia local – para quem não conhece as trilhas, é fácil.

A gastronomia mineira é um capítulo à parte, um festival de sabores para os corpos castigados pelas andanças. Se você prefere sossego, evite os feriados, pois o parque costuma ficar cheio. Caso não tenha outra chance a não ser nos feriados, a melhor opção é conhecer os atrativos fora da área do parque, que não deixam nada a dever.

Um rio de cachoeiras

A maior e mais conhecida gruta da Canastra, a gruta do Tesouro, fica numa fazenda a 18 km de São Roque de Minas, próximo ao distrito de Sobradinho. Tem belas formações de estalactites e estalagmites, rio subterrâneo e uma pequena cachoeira. São quase duas horas de visita, com trechos difíceis onde é preciso rastejar ou ficar com água até a altura do peito. Pode ser perigosa no verão, devido às chuvas que podem elevar repentinamente o nível do rio.

As visitas são monitoradas pela própria família do proprietário, Sr. Miguel, que aluga até lanternas. É recomendável estar acompanhado também de um guia local contratado em São Roque de Minas. Como equipamento de segurança, exija no mínimo capacete e lanternas reservas. E não esqueça as pilhas.

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Poço da cachoeira do Fundão (Foto: Shutterstock)

Para quem é amante do cascading e quer aproveitar mais intensamente as cachoeiras da serra, algumas valem muito a pena serem descidas e aproveitadas.

CACHOEIRA DO CERRADÃO

Uma queda de 125 metros, com os primeiros 40 metros em positivo, seguido por um negativo de 65 metros e depois em positivo bem escorregadio e com água até o final. Os praticantes já devem ter experiência em técnicas verticais e é preciso fazer um fracionamento de corda no meio da descida. Não existem trilhas para retornar ao topo. O resgate é feito por carro.

CACHOEIRA DO NEGO

Ideal para quem não tem muita experiência. A cachoeira tem 45 metros e uma trilha fácil e curta de retorno ao topo.

DESFILADEIRO DOS FERNANDES

Durante o inverno a cachoeira fica seca e é boa para iniciante; no verão fica com muita água e requer mais experiência. Tem 40 metros de altura e uma trilha com dificuldade média para retorno ao topo.

Atenção: mesmo se as chuvas estiverem distantes, não se deve entrar no desfiladeiro, pois a água aumenta de uma vez, sem aviso, e o risco de acidente é grande.

CACHOEIRA DO FUNDÃO

Com 60 metros de altura, é quase toda negativa, tirando os 7 metros iniciais. A saída é muito difícil e é preciso utilizar técnicas específicas que deverão ser treinadas antes da descida. A trilha de retorno ao topo é de dificuldade média e é preciso saber nadar.

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Casa em comunidade rural de São Roque de Minas-MG (Foto: Shutterstock)

Onde ficar

São Roque de Minas é a cidade com mais infra-estrutura e onde fica a entrada principal do parque e uma central turística com todas as informações de que você precisa. Na Tamanduá Ecoturismo você pode conhecer os diversos roteiros, pousadas, fazendas, casas para alugar, contratar guias de toda a região e ficar sabendo daqueles lugares especiais, fora dos roteiros turísticos mais procurados. Informações pelos sites serradacanastra.com.br e canastra.com.br.

O próprio parque conta com uma infraestrutura completa para aqueles que querem dormir perto da Casca D’Anta. Mas é preciso reservar com antecedência, pois são 50 lugares disponíveis e a procura é muito grande. A área fica a 40 quilômetros de São Roque de Minas, a 27 quilômetros de Vargem Bonita e a 10 quilômetros do distrito de São José do Barreiro.

No entorno do parque estão diversas propriedades particulares. É aconselhável o acompanhamento de um guia local para não ficar perdido, não abrir novas trilhas e conhecer o que os locais têm de melhor. Os proprietários são pessoas simples e a entrada é feita mediante uma pequena taxa ambiental.







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