Sem marcha, do Atlântico ao Pacífico

Por Erika Sallum

Só entende quem pedala: não há liberdade maior que seguir seus desejos em cima de uma bike, rumo ao desconhecido, de preferência em terras distantes e com muitos desafios físicos e mentais pela frente. Nessa pegada, um grupo de ciclistas de Balneário Camburiú (SC) partiu na última sexta (20 de abril) para um aventura épica: pedalar do oceano Atlântico ao Pacífico (até Valparaíso, no Chile) de bike fixa — modelo de uma só marcha, com pinhão “fixo” (daí o nome), sem ou com quase nada de freios (você freia a bike com a força das pernas, ao lentamente parar de pedalar).

Serão 390 km em quatro dias de pedal, com altimetria acumulada de 2.500 metros, subidas casca grossa, descidas insanas, com trechos de clima inclemente de ventos que açoitam o rosto, tempo seco e frio. Uma boa parte do trecho, claro, eles farão de van, já que seria perigoso cruzar tudo de bike (e muito longo).

A viagem, que teve uma primeira e menor edição em 2015 (mostrada nas fotos que você vê aqui), ganhou adeptos de cinco países, todos “fixeiros” (que andam de bike fixa). No total, serão 27 pessoas, entre ciclistas e equipe de filmagem e de apoio, do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Bolívia. Neste ano, mais ambicioso, o trajeto aumentou 200 km e dois dias. Mais experientes, os catarinenses organizadores do rolê vão filmar tudo para transformar a empreitada em uma websérie e um mini-documentário, a ser lançado em breve. Você pode acompanhar toda a saga nos canais do grupo, batizado de La Liebre: @laliebrefixed Instagram; Facebook.com/laliebre; Medium.com/@desafiolaliebre.

Bati um papo com Aliakim de Sá, de 27 anos, produtor e diretor de conteúdo audiovisual que, ao lado dos amigos, está à frente da expedição — exemplo magnífico de como a bike une pessoas, constrói sonhos de liberdade, alimenta a vontade de conhecer o mundo e enche nossos corações de alegria. Palmas para os meninos do La Liebre!

Aqui e nas fotos abaixo, cena da aventura de bike fixa de 2015 pelos Andes (Foto: Divulgação)

Por que ir do Atlântico ao Pacífico com o tipo de bike mais difícil?
ALIAKIM DE SÁ: É uma ideia meio maluca mesmo, mas já tínhamos visto alguns relatos de pedais nessa região feitos por ciclistas de mountain bike, ciclocross e de estrada. Decidimos fazer da maneira mais “true” [verdadeira], mais difícil, usando apenas um pinhão, com uma relação de marcha para subir e outra para descer. Por conta de estudos e trabalho, eu fiquei afastado da bike dos 16 aos 22 anos. Quando voltei a pedalar e conheci o universo das fixas, eu me encontrei totalmente. É uma bicicleta fácil de ter, que exige pouquíssima manutenção. Eu e meu amigo Adam Souza, que começou a pedalar comigo, um dia decidimos fazer esse percurso nos Andes e chamar os amigos, e no final estávamos com uma galera.

Como vocês conseguiram um grupo de pessoas de cinco países?
Criamos o projeto e divulgamos nos grupos de bike fixa que conhecemos, como Fixed Gear Brasil, e outros no Chile e na Argentina. Começamos daí a entrar em contato com pessoas que não conhecíamos e que também toparam o desafio. Na primeira vez que fomos, em 2015, éramos em 17, agora somos 27.

Qual será a parte mais dura do trajeto?
A parte mais difícil são os últimos 10 km, entre o Parque do Atacama e Las Cuevas, na Cordilheira dos Andes. Na primeira vez, pegamos um vento contra bem difícil. Eram seis da tarde e começou a nevar. Agora queremos sair mais cedo para enfrentar melhor essas condições tão rigorosas. Os ventos do Pacífico que canalizam entre os túneis de Las Cuevas chegam quase a derrubar, por isso queremos passar ali mais cedo, para dar mais segurança a todos.

Vocês tiveram apoio para a viagem?
Contamos com apoio de marcas locais, que estão ajudando a fortalecer a cena da bike aqui na região. São elas: energéticos Nitrix, Veloma, 8Bike, Low Life e Hell Lane.

(FOTOS DE:  Ivan Tomio Dreher e Ricardo Vilela)

 







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