Recorde brasileiro nos Andes

Entrevista com Pedro Hauck, que recentemente escalou sua 40ª montanha acima dos 6 mil metros

 

No começo de agosto, o montanhista Pedro Hauck, 34 anos, pisou no cume do Tocllaraju (6.032 metros), no Peru, a 40ª montanha com mais de 6 mil metros que ele escalou nos Andes. É um feito inédito ao montanhismo brasileiro (veja no fim desta matéria a lista de brasileiros que mais têm conquistas em montanhas andinas com mais de 6 mil metros)

Segundo um levantamento feito pelo montanhista Maximo Kausch, amigo e parceiro constante de Pedro nessas expedições, existem pouco mais de 100 montanhas desta altitude na extensa cordilheira sul-americana. Maximo já se propôs há algum tempo a escalar todas, e teve seu nome impresso no Guinness Book depois de escalar a 59ª montanha acima dos 6 mil.

Tanto os feitos de Maximo quanto de Pedro são de grande valor expedicionário. Pedro nunca contratou um guia, indo sempre à montanha por conta própria. Hoje, ele acumula mais de 70 cumes em seu currículo (somando montanhas de 5 mil e 6 mil metros) em três países – Bolívia, Argentina e Peru. É um número bem expressivo! A seguir, conversamos com ele para saber mais sobre essas escaladas e se ele pretende superar a marca de seu amigo.

GO OUTSIDE: É impossível bater o recorde do seu amigo Maximo Kausch ou você ainda é capaz disso?
PEDRO HAUCK: Acho meio difícil, e também não estou atrás disso. Escalar montanhas tão altas não é fácil. Escalar estas 40 montanhas, apesar de estar 30 abaixo do Maximo já é algo raro. Devem existir umas 10 pessoas somente no mundo que escalaram tudo isso. Acho que posso chegar a escalar umas 70 montanhas também, pois ainda tenho muito que fazer na Argentina e Chile, falando em montanhas com nível técnico não muito difícil. Só que depois disso vem as montanhas do Peru, onde as coisas são extremas. Não basta ter talento, experiência e coragem, é preciso se dedicar de verdade. Preparar-se fisicamente e ainda ter a sorte de pegar as montanhas com boas condições. E caso você não consiga, corre o risco de morrer. Meu projeto não é escalar todos os 6 mil andinos, mas sim envelhecer escalando. Quero chegar aos 70 anos fazendo trilha, escalando em rocha e em alta montanha.

Por que para você é tão especial escalar montanhas menos conhecidas?
Um dos grandes baratos é que as montanhas andinas não têm estrutura nenhuma, o que te obriga a ser autônomo e independente. Se, por exemplo, for escalar o Everest, contratará uma empresa que terá guias, te fornecerá comida, transporte, carregadores, a rota será definida e você terá até corda fixa. Na maioria das montanhas que escalei nos Andes, não havia sequer trilha e muito menos informações na internet. Cheguei a escalar montanhas sem nome e sem registros de ascensão, assim como também escalei montanhas que haviam sido escaladas pouquíssimas vezes. Tudo isso caracteriza o montanhismo de exploração. É cada vez mais raro fazer algo pela primeira vez, mas não nos Andes. Já dei nome a duas montanhas andinas e conheci lugares onde pouquíssimos estiveram, lugares fantásticos e maravilhosos que são realmente indescritíveis. Já vi o sol nascer de dezenas de montanhas, céus estreladíssimos, animais selvagens e espetáculos naturais que não têm preço.

Tem uma que foi realmente especial?

Várias, mas posso citar duas: uma é do Nevado Quewar, no norte da Argentina com minha mulher, Maria Tereza. Uma montanha no meio do deserto, mas que é um oásis. Ali há registros de presença humana que datam 10 mil anos. Há água por todos os lados, animais selvagens e, no cume, uma ruína inca impressionante, com escadas e tudo. Outra, pelo significado, foi a conquista do Vulcão Parofes, que tem 5.845 metros mas era uma montanha virgem e sem nome – nome, aliás, que foi uma homenagem ao nosso amigo Parofes, que faleceu em 2014.

Como você descobre a existência dessas montanhas?
Boa parte delas foram descobertas por um programa que o Maximo e a Suzie descobriram que roda os dados topográficos do sistema de radar SRTM, da NASA. Outra parte a gente descobre em campo mesmo. Escalamos uma montanha e, do cume, avistamos outra. Uma das minhas motivações é escalar um volume grande de montanhas., portanto, se subo uma e vejo outra, vou pesquisar para ver se existem informações disponíveis e depois volto para escalar. Se não tem, entro no Google Earth para planejar a escalada, descobrindo os acessos e desenhando as rotas.

Veja a seguir os brasileiros que mais têm conquistas em montanhas acima dos 6 mil metros de altitude nos Andes:
– Pedro Hauck (40 montanhas)
– Waldemar Niclevicz (31 montanhas)
– Marcelo Delvaux (15 montanhas)
– André Dib (8 montanhas)
– Eduardo Tonetti (8 montanhas)
– Vinicius Vieira (7 montanhas)







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