Mude para ficar mais forte

Segundo estudiosos, a variação de exercícios físicos não é boa apenas para você sair da rotina: seu corpo também será recompensado

Por Mario Mele

SE JÁ É MAIS DO QUE SABIDO que a rotina é a inimiga da criatividade e da motivação, em matéria de treinamento isso não muda muito. Um estudo publicado pelo Journal of Strength and Conditioning Research revelou que a variação de atividades, além de ser o segredo para você se manter estimulado a treinar, também otimiza o ganho de força. “A diversificação de exercícios físicos resulta em benefícios maiores do que quando simplesmente aumenta-se a carga de um treino já existente”, constatou o estudo, publicado no ano passado.

Se rotina de treinos te faz pensar em academia, saiba que cada vez mais as pessoas estão percebendo que há lugares bem mais divertidos para se exercitar do que a sala de musculação. Para Everson Carlos Silva, bacharel em esporte pela Universidade de São Paulo (USP) e atualmente técnico responsável pelo ginásio de crossfit Rústica, o ser humano é movido por novos desafios. “E o crossfit é uma ginástica de desafios”, defende. “Nós nascemos para nos expressar intelectual e fisicamente, e por isso treinamos não apenas para ter um corpo forte, mas para desafiar nossos limites e limitações.”

Devido às infinitas combinações de exercícios conhecidos como WOD (Workout of the Day), o praticante de crossfit nunca repete um treino, que tem uma hora de duração e é passado pelo treinador com o intuito de aprimorar as dez capacidades físicas reconhecidas pelos fisiologistas da Sociedade Norte-Americana do Exercício – resistência cardiorrespiratória, resistência muscular, força, flexibilidade, potência, velocidade, coordenação, agilidade, equilíbrio e precisão. A aula começa com um aquecimento, seguido de uma parte técnica onde o aluno aprende fundamentos que vão desde uma simples corrida até sessões de calistenia ou levantamento de peso, e aí entra o WOD, sempre inédito.

Já que “variar” é a grande sacada do treinamento esportivo, o crossfit tem feito sua parte expandindo os limites do rendimento por meio de exercícios de força e resistência realizados sempre em alta intensidade. “O crossfit pode ajudar qualquer um a ser melhor atleta”, garante Everson, que tem alunos que vão de lutadores de judô a jogadores de basquete. Mas é preciso consciência e cuidado para evitar lesões em razão da sobrecarga ou erro de execução. “O aumento de carga deve ser uma evolução simultânea com outros fundamentos como flexibilidade. É essencial estar atento à execução correta dos movimentos”, completa Everson.

NOS ESTADOS UNIDOS, praticantes de crossfit, parkour e escalada têm se encontrado no American Ninja Warrior, uma espécie de “Olimpíadas do Faustão” realizada com obstáculos realmente desafiadores, que exigem força, resistência, equilíbrio e coordenação ao extremo. Nos últimos dois anos, o programa passou de um cult da TV a cabo a um fenômeno de compartilhamento nas mídias sociais, com dezenas de milhões de visualizações.

Graças a performances avassaladoras de verdadeiros samurais do condicionamento físico, como a ginasta Kacy Catanzaro e o escalador Isaac Caldiero, os centros especializados em treinamento Ninja Warrior também se multiplicaram. Sem contar que, por lá, muitos ginásios de crossfit e escalada passaram a incluir os mesmos obstáculos em suas dependências. “Você não pode ser bom em apenas um fundamento”, justifica Chris Wilczewski, que já participou do programa e hoje é dono do Movement Lab, um ginásio “Ninja Warrior” localizado em Nova Jersey (EUA). Chris acredita que, atualmente, esse estilo esteja passando pelo mesmo crescimento exponencial que viveu o crossfit há uns anos. Não seria esta mais uma constatação de que nós, seres humanos, estamos sempre à procura de algo novo?

Mudar para sobreviver

O PAULISTA Marco Aurélio Marra, de 30 anos, sempre foi ligado em esportes. Capoeira e surf são as suas modalidades, para as quais ele se mantém em forma com o crossfit. “Em 2014, abriu o box [como os adeptos do crossfit se referem aos ginásios de treinamento] Volk perto da minha casa, então decidi fazer uma aula experimental.

Foi “amor ao primeiro treino”. “Eu não me sentia mais motivado e nem evoluía mais em minhas sessões de musculação”, lembra. Já no crossfit, Marco garante que a evolução é constante, tanto na carga quanto em fundamentos como flexibilidade e resistência. O resultado veio rápido. “As variações diárias dos treinos são perfeitas para mim: consigo, dessa forma, trabalhar o meu corpo como um todo.”

Marco curte o clima que rola dentro do box. “A hora do treino é a hora do treino”, diz. “Os treinadores estão sempre focados em melhorar seu desempenho, em fazer você se superar constantemente. Sem contar que eu foco na minha qualidade de vida, e a minha saúde melhorou muito.”

(Parte da reportagem Mude, Inove, Experimente, publicada na edição 132 da revista Go Outside – agosto de 2016)







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