Como um fora da lei virou um dos heróis do meio ambiente

Por Rich Schapiro

heróis do meio ambiente
Lee e Janet moraram no MV Jessie no começo de seus dias na Austrália (Foto: Cortesia de Janet Lafferty)

Quando Raymond Stansel foi preso em 1974, ele era um dos principais traficantes de maconha da Flórida, nos Estados Unidos. Para escapar dos tribunais e da prisão, o cara fugiu depois de conseguir liberdade provisória com fiança. Desapareceu do mapa, mudou de nome e se escondeu em uma região remota da Austrália. Quer algo ainda mais incrível que isso? Tornou-se um dos heróis do meio ambiente em sua nova vida por lá

Mesmo antes de chegar à cena do acidente, o sargento Matt Smith tinha certeza de que seria feia. Matt era o chefe do departamento de polícia de 12 pessoas de Mossman, uma cidade minúscula localizada no nordeste da Austrália. Ele sabia, por experiência própria, que existia uma verdade fundamental nos acidentes de carro: motoristas têm grandes chances de sobreviver em choques de carro com carro, mas raramente conseguem sair vivos de um veículo que se choca contra uma árvore.

A chamada que chegou pelo rádio da polícia na tarde do dia 26 de maio de 2015 dizia que um veículo tinha se chocado com uma árvore em uma estrada de duas mãos que acompanha o litoral australiano. Quase prevendo o espírito comum a heróis do meio ambiente, a intuição de Matt acabou sendo comprovada. Quando ele chegou ao local, encontrou uma picape Toyota Hilux abraçando um eucalipto da grossura de um lutador de sumô. Por algum milagre, transeuntes curiosos encontraram um cachorro dentro do carro, um bichon frisé já de certa idade, que estava atordoado, porém vivo. O motorista não teve a mesma sorte.

Os policiais identificaram o veículo como sendo de Dennis “Lee” Lafferty, de 75 anos. Todo mundo conhecia Lee. Ou pelo menos sabia de algo sobre o cara. Ele era norte-americano, mas tinha vivido durante décadas nos arredores de Daintree, onde operou uma das mais antigas e respeitadas companhias de turismo da região, organizando viagens de barco ao longo de um rio repleto de crocodilos.

Curtindo a floresta de Draintree com a família (Foto cortesia de Janet Lafferty)

O rio Daintree corta uma antiga floresta tropical que hospeda um dos ecossistemas mais diversos do mundo: raras árvores conhecidas por lá como ribbonwood (ou Plagianthusregius, nativa da Nova Zelândia), cangurus da espécie rato-almiscarado e casuares-do-sul – aves que podem chegar a medir mais de 1,80 metro. Talvez Lee tenha sido seu principal defensor. Parece que não havia nenhuma planta ou animal que ele não pudesse identificar, e seus esforços para proteger seus hábitats lhe renderam a reputação de um dos ativistas do meio ambientes mais fervorosos do pedaço.

“Ele era um verdadeiro cavalheiro, um homem adorável”, disse Julia Leu, prefeita da região. “Era dono de um conhecimento científico enorme, definitivamente um desses heróis do meio ambiente, pessoas querem preservar o que temos.”

Matt passou grande parte de seu tempo no local do acidente consolando uma pequena multidão formada por arrasados funcionários de Lee. Todos disseram que Lee não deveria estar dirigindo naquelas condições – ele estava tomando medicamentos para mal de Parkinson e, por isso, ficava suscetível a um cochilo a qualquer momento.

Nos dias seguintes, os jornais publicaram notícias sobre o “leal defensor do turismo local” que “era incapaz de fazer mal a uma mosca”. Houve um funeral lotado. E, então, todo mundo – menos a família de Lee – recomeçou a tocar a vida.

Quase quatro semanas depois do acidente, Matt recebeu uma mensagem de texto de um de seus detetives dizendo que ele precisava ler um artigo de um jornal da Flórida sobre Lee. Matt ficou intrigado. Por que uma publicação norte-americana escreveria uma reportagem sobre um cara de Daintree? O artigo havia saído no Tampa Bay Times apenas algumas semanas depois da morte de Lee.

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Dennis e a mulher, Janet, em 2000 (Foto cortesia de Janet Lafferty)

A reportagem descrevia a vida de um fugitivo norte-americano chamado Raymond Grady Stansel Jr. Nos anos 1970, Raymond era um pescador experiente que se tornara um dos maiores traficantes de maconha da Flórida, transportando cargas gigantescas de 12 toneladas debaixo de grandes quantidades de peixes recém-pescados. Depois ele protagonizou um dos desaparecimentos mais dramáticos jamais vividos por um criminoso na história dos Estados Unidos, ao escapar do julgamento, fingir sua própria morte e reinventar a si mesmo na Austrália com o nome de Lee Lafferty, operador de turismo e ambientalista.

Investigando milhares de páginas de documentos dos tribunais e entrevistando familiares e amigos mais próximos dos dois continentes, descobri que esse homem teve não apenas uma vida extraordinária, mas duas.

A COSTA OESTE da Flórida é um paraíso para pescadores. Gente de todos os lugares vem pescar truta na baía de Tampa, mero na cidade de Madeira Beach e tarpão em Boca Grande. Na década de 1960, pescadores profissas eram tratados como estrelas de rock. Recebiam convites para festas, e suas proezas eram narradas nos jornais. Raymond Grady Stansel Jr. era um deles. “Ele era um de meus heróis”, conta Bill Caldwell, que trabalhou para Raymond como marinheiro quando adolescente. “O cara podia fazer qualquer coisa.”

Diziam que Raymond era capaz de estacionar um barco de pesca esportiva de 46 pés (14 metros) em uma marina sob um vento de 15 nós (cerca de 28 km/h) e maré contra. Segundo boatos, uma vez ele trouxe de volta à superfície uma barcaça de 90 pés (27 metros) que naufragara em águas de 30 metros de profundidade sem a ajuda de ninguém e usando apenas equipamentos de mergulho e tubos infláveis. Uma vez ele pescou mais de 900 kg de mero em um único fim de semana. Tudo isso sendo cego do olho esquerdo, consequência de um golpe no rosto por uma vassoura quando, na escola primária, varria o chão da cafeteria com um amigo.

Raymond media quase 1,90 metro, era magro, forte e com cabelo cacheado loiro escuro. Ele cresceu em uma casa modesta em Saint Petersburg, na Flórida, filho de um pescador comercial e de uma professora de catequese. Seu espírito rebelde e o amor pela vida ao ar livre surgiram cedo. Aos 6 anos de idade, já sabia como usar uma rede de pesca para pegar peixes que serviriam de isca. Quando adolescente, enfurecido pela degradação das regiões pantanosas da Flórida, ele se gabou de afundar uma draga enorme que operava na baía de Tampa.

Quando acabou o ensino médio, em 1954, Raymond se alistou na Força Aérea de seu país e conseguiu entrar memorizando a tabela optométrica segundos antes do exame. Antes de abandonar a carreira militar e abraçar a pesca como profissão, dizia aos amigos que faria um dos trabalhos mais difíceis da Aeronáutica – reabastecer aviões em pleno voo.

Há diversas formas de ganhar a vida pescando, de trabalhos comerciais a aluguéis de barco. Raymond foi ascendendo até conseguir o melhor trampo de todos: capitão particular. Em 1965, foi contratado por Clint Murchinson Jr., o fundador do time de futebol americano Dallas Cowboys, para pilotar o Miss Centex, seu reluzente barco de 40 pés (12 metros). Raymond mudou para o lado texano do golfo, atendendo a um pedido de Clint, e levou junto a mulher, Midge, e os quatro filhos – Raymond, Ronald, Sabrina e Terry. Eles passavam os verões em Boca Grande, onde Raymond ensinou os pequenos a mergulhar, pescar com arpão e pegar caranguejos.

No entanto, no fim dos anos 1960, acabou o trampo com Clint. Raymond e a família voltaram para a Flórida e começaram a alugar um barco, mas as vicissitudes do tempo dificultaram as coisas. Ele tentou compensar a época de vacas magras capturando caranguejos com armadilhas durante o inverno. Raymond batalhou ao lado de outros pescadores, a maioria dos quais manteve a cabeça erguida e seguiu adiante. “Pescadores são como agricultores”, diz Bobby Buswell, um amigo de longa data. “Você arregaça as mangas e mãos à obra. Paga seus impostos. Ganha o suficiente para viver. E é isso.”

Heróis do meio ambiente: o começo do tráfico de drogas

Mas Raymond queria mais. Há um pouco de desacordo em relação a como e quando ele se envolveu pela primeira vez com o tráfico de drogas. Segundo uma das interpretações, alguns traficantes com vínculo com a Jamaica teriam entrado em contato com ele no fim dos anos 1960 porque ele era conhecido como um experiente capitão e também como homem de família, alguém que pouco provavelmente atrairia a atenção da polícia. Outra versão diz que Raymond teria realizado o transporte de drogas pela primeira vez em 1971, depois de ser recrutado por dois jovens traficantes que precisavam de um barco grande e tinham ficado intrigados com o T-Craft (um tipo de iate motorizado) de 44 pés (13 metros) que o próprio Raymond construíra.

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O Cruie Centre de Daintree, construído por Dennis (Foto cortesia de Janet Lafferty)

Qualquer que seja a verdade, sua carreira no tráfico de maconha estava florescendo no começo da década de 1970. Era difícil encontrar a erva nos Estados Unidos naquela época, consequência das medidas duras do presidente Richard Nixon para acabar com o fluxo que vinha do México. Na Jamaica, no entanto, comprar algumas dezenas de gramas era tão fácil quanto comprar fruta. “As pessoas apareciam na estrada e te ofereciam sua própria maconha”, lembra Mike Hubbard, que ajudou Raymond a organizar os primeiros carregamentos. A maconha era cultivada em colinas longínquas por campesinos, que vendiam sua produção em sacos de juta de 22 kg. Estabelecer contatos era fácil; transportar a droga para os Estados Unidos – onde podia ser vendida por US$ 175 cada meio quilo, com um lucro de US$ 165 – se tornou um desafio. Então os narcotraficantes recorreram a caras como Raymond, que conheciam praticamente todas as enseadas protegidas da costa.

Boatos sobre essa nova possível fonte de renda se disseminaram entre os pescadores da Flórida, mas na época Raymond era um dos poucos envolvidos. Em pouco tempo, ele expandiu suas operações para a Colômbia, que produzia a maconha mais apreciada do planeta, fazendo uma parceria com um fornecedor importante chamado Raul “Black Tuna” Davila-Jimeno.

Raymond pilotava seu barco abarrotado durante cinco dias da Jamaica (ou durante dez dias, a partir da Colômbia) até o labirinto de ilhotas da Flórida. Protegidos pela escuridão, ele e seus assistentes descarregavam os fardos de maconha – que “pareciam comida de cavalo”, de acordo com um dos sócios de Raymond – diretamente na praia, onde eram pesados em balanças enormes. Demorou anos para que a polícia se desse conta da quantidade de maconha que chegava à costa da Flórida (segundo relatos, em apenas duas operações realizadas em 1974, eles teriam confiscado mais de 90.000 kg).

Para os caras da quadrilha de Raymond, o tráfico era apenas mais uma atividade realizada no mar. “Nós confiávamos uns nos outros. Não havia contratos”, conta Hans Geissler, um francês ex-soldado da Legião Estrangeira e marinheiro profissional que Raymond recrutara. “Nós éramos um grupo muito coeso. Velejávamos, saltávamos ondas, surfávamos. Éramos uma pequena turma de amigos, e o tráfico parecia ser parte disso.”

Pouco depois, Raymond tinha tanto dinheiro que já não sabia o que fazer com a grana. Durante um tempo, ele guardou notas de US$ 100 em caixas no sótão da casa de seus pais. Quando o pai os encontrou, Raymond procurou esconderijos mais sofisticados. Abriu uma conta bancária nas Ilhas Cayman, comprou barras de ouro na Costa Rica e criou empresas de venda de frutos do mar e de construção de barcos no Panamá e em Honduras. Também adquiriu outros itens essenciais para expandir suas operações de tráfico: mais barcos. Não demorou para que outros trabalhadores do porto percebessem que Raymond fazia saídas regulares para o mar sem levar nada de gelo – uma necessidade básica para qualquer um com a intenção de pescar e vender peixes – e depois voltava com o barco navegando pesado, mas com as redes secas.

Chá de sumiço

NA MANHÃ DO dia 6 de junho de 1974, Raymond saiu do quarto 23 do Sheraton Bel-Air, um resort de luxo “pé na areia” em Saint Petersburg. Caminhando pelo estacionamento com uma pasta marrom na mão, ele se misturava com facilidade à clientela endinheirada do hotel. Raymond encurvou sua estrutura magricela no banco do motorista de um carro alugado, arrancou o motor e partiu em direção ao norte pela ponte Sunshine Skyway. Poucos instantes mais tarde, vários carros da polícia não identificados colaram na sua traseira.

Raymond estava sendo vigiado desde que voara da América Central até sua casa, alguns dias antes. Agora ele era considerado um dos traficantes mais prolíficos do Estado. Logo depois de sair da rodovia, os rádios da polícia ressoavam novidades: um grande júri de alcance estadual havia emitido uma acusação contra ele e três de seus parceiros por formação de quadrilha e posse de maconha. Os policias ligaram as sirenes e fecharam Raymond. Saltaram de seus veículos, ordenaram que ele saísse do seu e o algemaram sem problemas. Em seus bolsos ele tinha US$ 5.476 em dinheiro.

Na delegacia, os policiais abriram a pasta e revelaram suas outras posses: US$ 20.000 em dinheiro comprimidos dentro de um envelope amarelo; cédulas de dinheiro da Costa Rica, Nicarágua e Quênia; fotografias do que parecia ser maconha; vistos de turista em branco que lhe permitiriam entrar na Nicarágua sempre que quisesse; cheques não utilizados de uma conta bancária na Suíça; documentos da Alemanha dizendo que seu novo Mercedes estava pronto para ser retirado; e, finalmente, seu passaporte, que era tão grosso que se abria como um acordeão e indicava que ele estivera em 12 países nos últimos 30 dias, incluindo Jamaica, Colômbia, Japão, Hong Kong, Panamá e Ilhas Cayman. As acusações contra ele eram convincentes – os policiais já tinham prendido vários de seus parceiros. Com os itens de sua pasta, Raymond certamente teria que cumprir pena.

Foi estipulada uma fiança de US$ 1 milhão. Em uma maratona de três dias de interrogatórios, seu advogado (um promotor federal que tinha se voltado para o setor privado chamado Bernard Dempsey Jr.) convenceu o juiz a diminuir o valor da fiança para US$ 500 mil. Três meses mais tarde, Bernard apresentou um cheque administrativo nesse valor, e Raymond ficava provisoriamente livre. Foi, na época, a maior fiança de toda a história da Flórida.

O julgamento começou em uma segunda-feira nublada de janeiro de 1975 e prometia ser um verdadeiro espetáculo de mídia. “Para o público do caso Watergate, ainda voraz por um grande e excitante julgamento, hoje temos Raymond Grady Stansel”, dizia um artigo publicado aquela manhã no St. Petersburg Times. Se condenado, Raymond teria que cumprir uma sentença de cinco anos de prisão (isso ocorreu antes da guerra contra as drogas do governo norte-americano), mas ele provavelmente seria alvo de acusações adicionais – e de tempo extra atrás das grades.

Provavelmente ninguém, exceto Raymond, tivesse tanto interesse pelo resultado do julgamento quanto Emiliano “E. J.” Salcines. O promotor de 36 anos tinha sido escolhido a dedo pelo governador Reubin Askew para supervisionar o júri que julgaria Raymond (e que, mais tarde, voltaria suas atenções para muitos outros mandachuvas do tráfico de drogas da Flórida). E. J. estava absolutamente confiante. Até mesmo um advogado tão bom quanto Bernard teria poucas chances de livrar um cara pego com US$ 25.000 em dinheiro e com fotografias de maconha.

Antes do início dos procedimentos legais, o advogado de Raymond fez uma declaração surpreendente: Raymond Grady Stansel tinha morrido na véspera do ano-novo em um acidente de mergulho na costa de Honduras. “Ele simplesmente afundou e não subiu”, disse Bernard, que acrescentou que o corpo de Raymond ainda não havia sido encontrado. E.J. ficou furioso. Ele exigiu provas da morte de Raymond. “Nós insistimos e não aceitamos nenhum tipo de documento estrangeiro”, gritou E. J. “Queremos o corpo – vivo ou morto.”

Heróis do meio ambiente: vida fantasma

AS PISTAS QUE apareceram ao longo das semanas, meses e anos seguintes eram confusas. Departamentos de polícia de toda a Flórida transbordavam de relatos provenientes de ligações anônimas, informantes confidenciais e até mesmo de traficantes presos querendo uma diminuição de pena, afirmando terem visto Raymond. Uma semana ele era visto em um bordel em Belize, na outra, tomando cerveja em um bar na praia de St. Pete, na Flórida. “Era como perseguir um fantasma”, o delegado Michael Hawkins relatou a um repórter na época.

“Ele era como Elvis”, lembra David McGee, o promotor responsável pela força especial de combate ao tráfico do norte da Flórida quando a saga de Raymond estava rolando. “O cara se tornou um tipo de lenda.”

Os indícios não levavam a lugar nenhum, mas era impossível encontrar um único policial no Estado da Flórida que realmente acreditasse que Raymond estivesse morto. “Afogar em um acidente de mergulho?”, questiona um ex-agente do Departamento de Polícia da Flórida. “Aquele homem tinha passado toda a sua vida na água. Era como um peixe.”

Agentes desse mesmo departamento pensavam ter encontrado Raymond em dezembro de 1976, quando policiais hondurenhos declararam tê-lo “detido” na capital, Tegucigalpa. Eles emitiram um boletim anunciando sua captura, e a notícia se espalhou pela Flórida com rapidez. Agentes estavam se preparando para pegar um voo até a América Latina quando os hondurenhos anunciaram, inexplicavelmente, o desaparecimento de Raymond.

Onde quer que Raymond se encontrasse, os investigadores estavam certos de que ele não estava sozinho. Mais ou menos na mesma época em que Raymond desapareceu, o mesmo aconteceu com sua amante (ele e Midge estavam separados naquele período, e os filhos de Raymond costumavam vê-lo com outras mulheres).

Janet Wood era uma loira esbelta de 20 e poucos anos e espírito livre. Raymond a vira pela primeira vez no famoso bar Chart Room, em Key West, em 1973. “Ele foi o homem mais emocionante, excepcional e talentoso que conheci”, ela me falou.

Eu entrei em contato com Janet pela primeira vez poucos meses depois de Lee Lafferty ter sido desmascarado como Raymond Stansel. Quando finalmente tive notícias suas, dez meses mais tarde, ela educadamente deixou claro que não estava interessada em falar com jornalistas. “Já me ofereceram dinheiro e notórios 15 minutos de fama (ou infâmia?). Não estava nem estou interessada”, ela escreveu em um e-mail de sua casa, na Austrália. Acrescentou que a deixava apreensiva como o casal poderia ser retratado. “Nós nunca fomos tão simples como a imprensa nos retrata em seus tempo e espaço limitados.”

Depois de uma correspondência que se estendeu por várias semanas, ela mudou de ideia. Raymond a tinha protegido durante tanto tempo, e agora ela se sentia na obrigação de proteger seu legado. Se a história seria contada de qualquer forma, ela compreendeu que ficar em silêncio não ajudaria em nada o homem que ela havia amado. “Eles podem não ser pessoas perfeitas ao longo de toda sua existência, mas há indivíduos que realmente deixam suas marcas no planeta”, disse Janet.

Embora não pretendesse revelar todos os detalhes, ela acabou me contando como Raymond havia conseguido realizar uma das fugas mais impressionantes da história dos Estados Unidos.

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Em 1980, com as filhas Jessie, então com 4 anos, e a recém-nascida Kianna

UMA VEZ QUE RAYMOND foi libertado, um policial local o seguia aonde quer que fosse. Eles sabiam que o cara tinha contatos no mundo inteiro e não queriam que saísse do país. Em setembro de 1974, apenas uma semana depois de ser solto da prisão, Raymond estava em sua moto, saindo da casa onde estava vivendo em Tampa. Ao cruzar a ponte, o policial perdeu seu rastro, “esquivando-se aqui e ali”, de acordo com Janet. Depois ele foi correndo até uma pista de pouso e decolagem, onde um amigo lhe esperava com um avião particular.

De lá, Raymond voou até Key West para ver Janet e convencê-la a ir com ele. “Ele não sabia o que iria fazer”, conta ela. “Não tinha plano A, plano B, plano C.” Mas possuía amigos poderosos. De algum jeito conseguiu chegar a Honduras – afinal, tinha traficado drogas pelo Golfo do México durante anos. Uma vez lá, Raymond entrou na embaixada dos Estados Unidos de Tegucigalpa e disse aos policiais que perdera o passaporte e que precisava de um novo (na verdade, a polícia tinha ficado com o seu passaporte após sua detenção). Janet não falou sobre os documentos de viagem ou sobre a origem da nova identidade de Raymond, embora registros mostrem que um homem de 33 anos chamado Denis Lafferty morrera na Flórida apenas um ano antes de Raymond escapulir dos Estados Unidos.

Com um novo passaporte em mãos, Raymond foi para a ilha de Roatán, 70 km ao norte da costa de Honduras, onde mais tarde Janet o encontrou. Durante a semana do Natal, seus quatro filhos – com idades entre 11 e 16 anos – se juntaram a eles. A família mergulhava durante o dia e passava as noites comendo peixe fresco e escutando Janet arranhar sua guitarra. Mais ou menos uma semana depois, as crianças voltaram a encontrar a mãe, Midge, nos Estados Unidos, onde autoridades lhe perguntaram sobre o paradeiro de Raymond.

Enquanto isso, Raymond e Janet partiram em direção a um local previamente escolhido na cidade de Guatemala. O plano era velejar ao redor do globo em seu barco de 40 pés. O objetivo: acabar o mais perto possível da Grande Barreira de Coral.

Os dois velejaram até Belize, Nicarágua, Panamá, Colômbia, Aruba, Curaçao e Bonaire. Raymond escapou por um triz em Belize quando Janet foi confundida com Patty Hearst [herdeira norte-americana sequestrada que acabou se tornando também criminosa ao lado dos algozes] e retida por 24 horas. Foi uma introdução épica a uma vida em fuga, até que Janet adoeceu. Ela achou que fosse enjoo causado pelo movimento do barco, mas em Bonaire descobriram que ela estava grávida. Velejar ao redor do mundo já não parecia atraente, então o casal decidiu voar em vez de navegar. Primeiro até a Venezuela, depois Peru, Taiti e, finalmente, até as ilhas do Pacífico chamadas Novas Hébridas (atualmente Vanuatu), onde se casaram menos de duas semanas antes de Janet sofrer um aborto.

Enquanto tudo isso acontecia, o casal ficava sempre preocupado com qualquer pessoa que pudesse estar à sua procura, até quando embarcaram no avião que lhes levaria, esperavam eles, a seu destino final: a Austrália.

“Para as autoridades, procurar-nos aqui e ali era uma trabalheira”, escreveu Janet, em um e-mail para mim. “Eu não digo isso para desprezar o trabalho duro de alguns poucos profissionais, mas a devoção deles pelo seu ofício não pode ser comparada com a nossa devoção por um sonho de vida, amor e liberdade.”

É um provérbio típico da região australiana do Extremo Norte de Queensland: “Sua história começa aqui”. Durante décadas esse prolongamento de terra com praias imaculadas e florestas exuberantes ao longo da parte nordeste do continente atraiu uma mistura excêntrica de hippies australianos e estrangeiros sonhadores em busca de um recomeço. Você podia ser um conde alemão ou um químico indisciplinado que forneceu LSD à banda Grateful Dead. “Ninguém estava nem aí”, diz Andrew Forsyth, ele mesmo um ex-piloto de aviões que havia transportado o papa João Paulo II e a rainha Elizabeth ao redor do mundo e que tinha se mudado para a região em 2002 depois de visitá-la pela primeira vez cerca de 40 anos antes.

Nos anos 1970, não havia semáforos e eram poucas as estradas pavimentadas por lá. Apesar de estar perto da Grande Barreira de Coral, apenas os viajantes mais determinados chegavam até a região. Os que se aventuravam costumavam parar em Port Douglas, uma pacata aldeia de pescadores com uma praia de areias douradas e formato de lua crescente. No centro, havia um mercado, um correio e um par de bares onde nativos descalços com nomes como Pegleg Tommy contavam histórias de tubarões e crocodilos gigantes dos quais tinham escapado por pouco.

“Você podia disparar uma arma no meio da rua e não atingir ninguém”, conta Norm Clinch, um maquinista de Brisbane que costumava pescar nos arredores de Port Douglas. “A polícia? Havia uma delegacia onde os policiais costumavam passar o tempo bêbados ou cochilando.”

Foi aqui em Port Douglas que, em um dia do outono de 1975, uma velha caminhonete de cor verde desbotada chegou trazendo um casal norte-americano tostado de sol à procura de um lugar exatamente como este. O homem magrelo que desceu do carro se identificou como Dennis “Lee” Lafferty. Se alguém perguntasse – e poucos realmente o fizeram –, ele era um pescador do Texas. Sua esposa era Janet Lafferty. Se alguém questionasse – e poucos realmente o fizeram –, ela vinha de Michigan, e seus pais estavam mortos.

Não foram apenas a localização remota e a proximidade dos corais que atraíram a atenção do casal. O tio-avô de Lafferty tinha visitado o lugar nos anos 1920 e descrevera o Extremo Norte de Queensland como o Shangri-La da vida real. O local também oferecia uma vantagem adicional: pesca de alta qualidade. “Começamos do zero”, lembra Janet.

Os peixes eram tão abundantes nas águas dos arredores de Port Douglas que os pescadores não precisavam de nada além de uma vara rudimentar feita com uma peça de metal curvado de 10 cm de comprimento com um anzol na ponta para pescar com êxito. Era quase comicamente primitivo. “Quando foi a última vez que um peixe viu um cardume de colheres passando?”, dizia Lee.

Lee pescava mais que os locais, em parte porque usava iscas vivas – que pegava com redes tipo tarrafa especialmente desenhadas para isso que ele e Janet faziam e vendiam. Rapidamente ele se estabeleceu como um dos melhores pescadores de Port Douglas. “Eu costumava dizer: ‘Aposto em Lee contra qualquer um de vocês, seus filhos da puta’”, lembra Norm, o maquinista boca-suja que se tornou um dos primeiros amigos de Lee. “’Ele vai pescar dez vezes mais que vocês.”

Se Lee pôde ter acesso a grandes quantidades de dinheiro (e Janet insiste que não), ele agiu como se não tivesse. Em determinado momento, estava com tão pouca grana que precisou pedir US$ 8.000 emprestados a um colega norte-americano chamado Walter Starck para comprar um motor para um novo barco. “Ele nunca comprou nada espalhafatoso”, contou Walter. “Eles não saíam para se divertir. Viviam de forma bastante modesta.”

Cinco anos se passaram, e ninguém veio procurá-los. Naquela época, os Laffertys tinham duas filhas – Jessie, que nasceu em 1976, e Kianna, de 1980. Embora eles tenham contado às garotas coisas sobre seus passados, parecia que a vida havia se estabilizado. “Lee era muito gentil e cavalheiro”, diz Edward Pitt, um pescador local que vivia nas vizinhanças. “Nunca se vangloriou de nada. Dava a impressão de ser um trabalhador normal.” Quando pressionados, seus camaradas pescadores disseram que havia, sim, uma coisa em Lee que era um pouco estranha. Sempre que algum deles aparecia com uma máquina fotográfica, ele desaparecia.

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Em 1982, os Laffertys compraram um terreno coberto de vegetação ao longo da margem sul do rio Daintree. O curso d’água de 130 km serpenteia por uma floresta tropical densa, onde dá para caminhar quilômetros e quilômetros sem encontrar nenhum outro ser humano. É o tipo de lugar que parece um apelo evidente para um fugitivo internacional.

Mas, em vez de se afastar da sociedade, Lee criou uma empresa turística. Os recursos naturais da região sempre o fascinaram, com suas espécies únicas de árvores de pântano, morcegos, pássaros, sapos e cangurus. Ele fundou uma agência focada em mostrar às pessoas o melhor das redondezas. Em um intervalo de dez anos, o Daintree-River Cruise Centre se tornou um dos empreendimentos mais importantes de lá. “Ele vivia se escondendo, mesmo que na frente de todos”, revela Janet. “Não é difícil mudar o rumo de uma conversa e fazer com que os outros comecem a falar de si mesmos. Nós dois aprendemos isso bem rápido.”

Lee devorou livros sobre a ecologia da região. Falou com a população indígena para aprender como usavam sementes e plantas. Não demorou muito até que as pessoas começassem a levar exemplares que esperavam que ele pudesse identificar.

“Eu o achava uma enciclopédia!”, conta Betty Clinch, uma das primeiras funcionárias do Cruise Centre. À medida que o conhecimento de Lee sobre a região se aprofundava, ele começou a se dedicar a protegê-la. Encorajava fazendeiros a replantar vegetação ao longo da margem do rio para impedir a erosão. Pressionava os pilotos dos barcos para que circulassem com menor velocidade sobre a água, assim suas hélices não se chocariam contra as margens, evitando perturbar os micróbios que vivem nas zonas de pouca profundidade. As pessoas próximas a ele estimam que Lee tenha salvado a vida de centenas de morcegos-de-fruta que ficavam presos nas cercas de arame farpado usadas pelos agricultores. Como ele era capaz de vê-los com apenas um olho enquanto dirigia pelas sinuosas estradas do interior, isso ninguém entendia. “Todo mundo aqui odeia esses morcegos porque eles comem parte da colheita e espalham doenças”, diz Lydia Archer, amiga da família de longa data. “Mas Lee dizia que os morcegos eram a parte mais essencial do ecossistema, porque espalhavam as sementes nativas pela floresta.”

Até Norman Duke, uma das principais autoridades em florestas pantanosas, ficou impressionado. Ele conheceu Lee em 2002, quando o norte-americano recebia uma expedição de pesquisadores. “Ele realmente entendia do assunto, destacando-se em um lugar onde há muita gente que acha que sabe do que está falando, mas na realidade não tem a menor ideia”, conta Norman. “Ele se encaixa com facilidade na tradição do clássico lenhador, o cara capaz de acender uma fogueira a partir do nada no meio de uma tempestade.”

 

DURANTE MAIS de 35 anos, Lee e Janet viveram tranquilamente ao lado do rio. Até que, em junho de 2011, chegaram notícias no Extremo Norte de Queensland de que um traficante de drogas norte-americano em fuga estaria vivendo a uma hora de Daintree. Michael McGoldrick, nome real Peyton Eidson, era o chefe de uma quadrilha de traficantes que fugira em meados dos anos 1980. Peyton, sua esposa e sua filha tinham voado até a Austrália, onde dirigiam um luxuoso retiro serrano. Eles foram capturados pela polícia australiana depois de as autoridades norte-americanas descobrirem que os verdadeiros McGoldricks estavam mortos. Durante semanas, a história foi o assunto mais comentado no Cruise Centre. Ociosos depois do expediente, os funcionários conversavam sobre os últimos acontecimentos. Parecia que todos tinham algo a dizer – exceto Lee.

Particularmente, Lee e Janet estavam incomodados com o desmascaramento de Peyton. “Isso causou preocupação, deixou, sim, meu pai atormentado”, fala sua filha Jessie.

Lee e Janet tinham guardado o segredo com unhas e dentes desde que chegaram à Austrália. Cultivavam poucos amigos íntimos; ele raramente saía da cidade, e eles nunca voltaram para os Estados Unidos. Mesmo depois que os dois se separaram, em 2011, Janet nunca disse uma palavra a ninguém. Entretanto, por mais cuidadosos que fossem, o segredo acabou encontrando uma maneira de extrapolar a família. Quando Kianna era adolescente, ela contou tudo parta sua professora de hipismo, uma futura competidora olímpica chamada Christine Doan (Kianna se recusou a comentar a história). Anos mais tarde, Jessie se casou com o irmão de Christine. O relacionamento se deteriorou, assim como os sentimentos da família Doan pelos Laffertys.

Lee pode ter conseguido esconder com êxito dos funcionários sua preocupação com a prisão de Peyton. Porém a situação estava ficando cada vez mais complicada.

Três anos depois da captura de Peyton, no fim de 2014, um informante entrou em contato com uma repórter de um jornal da Flórida que já estava meio aposentada chamada Lucy Morgan e lhe disse que Ray Stansel tinha vivido uma segunda vida como ambientalista na Austrália. Lucy estava acostumada a receber informações sobre Raymond; ela era uma jornalista de 74 anos com um Prêmio Pulitzer e numerosas reportagens sobre Raymond e outros traficantes no currículo. A pista não lhe pareceu especialmente animadora a princípio, mas ela não era o tipo de pessoa que deixaria um boato escapar sem dar uma investigada. Depois de receber a tal ligação, Lucy pegou uma série de caixas de papelão empoeiradas que continham toda informação disponível sobre Raymond Grady Stansel Jr.

Àquela altura, Lee Lafferty era apenas uma sombra do que havia sido. O mal de Parkinson tinha minado suas forças e endurecido o corpo. Suas mãos tremiam, tornando difícil para ele segurar uma xícara de café. Andar se transformou em uma tarefa árdua.

De vez em quando, ele falava alguma coisa sobre o passado, que deixava seus interlocutores de sobrancelhas em pé – que uma vez dormiu com US$ 2 milhões debaixo do travesseiro, por exemplo –, mas seus empregados ignoravam os comentários, pensando que fossem delírios induzidos pela medicação.

No início de maio de 2015, um amigo o levou para dar um passeio em uma canoa de madeira. Lee vinha pedindo isso a seu colega havia semanas. Desde que era um garoto, não existia nenhum lugar onde se sentisse tão vivo quanto na água. Mas naquele dia no rio, Lee mal pôde se mover sozinho; seu amigo teve até mesmo que colocá-lo dentro do barco. Depois de menos de uma hora, Lee disse que já era suficiente. Um par de semanas depois, Lee Lafferty entrou em sua picape pela última vez.

Heróis do meio ambiente: Lee e sua nova vida

NA FLÓRIDA, a notícia da morte de Raymond Stansel – e de sua vida – na Austrália chocou os investigadores e promotores que haviam passado anos tentando entregá-lo à justiça. “Ele acabou sendo um verdadeiro Houdini”, diz E. J., o promotor, referindo-se ao famoso húngaro expert em escapadas e números ilusionistas.

Os sentimentos de sua família na Flórida eram mais complexos. “Fiquei realmente com o coração partido quando ele desapareceu”, disse sua irmã, Elaine Schweinsberg. “Ele nunca tentou entrar em contato com a gente. Sofri ao ver seus filhos tendo que crescer sem o pai.”

Nos anos posteriores ao desaparecimento de Raymond, dois de seus filhos, Raymond e Ronald, também se tornaram traficantes e fugitivos depois de serem acusados de tentarem entrar na Flórida com meia tonelada de cocaína, em 1991. Ambos acabaram sendo presos – Ronald na Costa Rica, em 1992, e Raymond no Alasca, em 2010 – e condenados a muitos anos de prisão.

Apesar de terem sido abandonados pelo pai, os dois acreditam que ele fez a escolha certa. “Acho que meu pai escolheu um bom lugar para viver, e fico contente porque ele venceu e conseguiu sair daqui”, Raymond Stansel III escreveu, em uma mensagem, no Complexo Penitenciário Federal Coleman, que fica perto de Orlando. “Senti sua falta, mas usei o que ele me ensinou e vivi minha vida sem lamentar.” “Não culpo papai por não aparecer”, Ronald Stansel declarou em um e-mail enviado da prisão federal de Pensacola. “Tenho certeza de que ele sentiu falta de alguns aspectos do que deixou para trás. É como se cortassem um pedaço de seu coração com você vivo. Mas as coisas raramente acabam como você imagina na vida.”

Na verdade, era difícil encontrar um único amigo ou integrante da família que se preocupasse com a vida anterior de Lee Lafferty como traficante de maconha; na verdade, parecia que isso ajudava a torná-lo uma lenda.

As pessoas do Extremo Norte de Queensland costumam falar de Lee como alguém que encontrou a redenção: um homem fugindo de um passado turbulento que se transforma em protetor de um dos hábitats naturais mais virgens do planeta. “Refletindo sobre esta história agora, é disso de que a Austrália é feita”, afirma Norman Duke. “É feita de redenção. De encontrar uma nova vida.”

Passe tempo suficiente em Daintree e pode ser que você escute outro caso envolvendo o norte-americano. Em algum momento do começo dos anos 1980, Lee e um amigo médico dirigiam pela estrada que une Daintree e Mossman. Ao se aproximarem de uma pequena ponte, viram um carro boiando no riacho infestado de crocodilos. Dois caras estavam do lado de fora apenas observando. Lee pulou de seu veículo e rapidamente percebeu que ainda havia alguém dentro do carro. Ele mergulhou no riacho, retirou o homem inconsciente de lá e o arrastou até a margem. Quando a polícia chegou, Lee já tinha caído fora fazia tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 







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