Com menos camadas entre você e o mato, dá para viajar de forma ultraleve para alcançar lugares distantes mais rápido e ficar mais perto da natureza

Por Fernanda Beck

Se você já viajou longas distâncias dependendo apenas de si mesmo como forma de transporte, certamente vai se lembrar do peso da bagagem que começou a incomodar, de itens que se mostraram desnecessários durante o caminho ou de momentos em que foi preciso deixar parte da bagagem guardada em algum canto para explorar pedaços mais cabulosos do local. Mas uma nova tendência vem ditando as escolhas dos exploradores modernos. Viajando de bike ou a pé, o desafio é o mesmo: levar menos coisas, confiar em si mesmo e ter leveza e agilidade para ir mais longe e cobrir mais terreno em menos tempo.

O trekking ultraleve é a modalidade em que o andarilho leva muito menos equipamentos em sua mochila, e abre mão de confortos em nome de uma caminhada mais veloz e eficiente, já que levar menos peso tem impacto drástico no cansaço do corpo e na velocidade da passada. Nos EUA, o termo ultralight trekking tem sua origem fortemente ligada a Ray Jardine, escalador famoso por ter sido o primeiro a escalar a face oeste do El Capitan, no Yosemite (EUA) em livre, em 1979, e por inaugurar a tendência de viajar com cada vez menos equipamentos.

A paulistana Rose Eidman, que encarou sozinha a trilha Pacific Crest Trail, na costa oeste dos EUA, com uma mochila que tinha peso base de menos de 5 kgs.

Em seu livro Beyond Backpacking, de 1992, Ray descreve muitas técnicas de “faça-você-mesmo” que ainda são usadas por trilheiros ultraleves atualmente. Ele conta que na primeira vez que caminhou pela Pacific Crest Trail (uma das trilhas de longa distância mais famosa dos EUA, com 4.260 km ao longo da costa oeste do país), sua mochila pesava 11 kg. Na terceira vez, ele já tinha diminuído o peso para 4 kg.

Considera-se trekking ultraleve quando o peso-base da mochila (tudo o que é carregado, menos água e comida) é menor do que 5 kg. Para isso, é preciso planejar uma bagagem extremamente reduzida, sem “luxos” como panelas, fogareiros elétricos, isolantes térmicos para o corpo inteiro e comida e água sobressalentes. Mesmo assim, a jornada deve ser 100% autossuficiente, sem veículos de apoio, carregadores ou paradas estratégicas em pousadas e abrigos.

Bolsas de quadro e de guidão, como estas da brasileira Aresta, são um jeito de levar alguns pertences com você sem deixar a bike pesada

Junção do trekking ultraleve com o mountain biking, o bikepacking segue os mesmos princípios de leveza adotados no primeiro, mas em cima da bike. Porém, ao contrário do cicloturismo, em que é possível realizar longas viagens em bicicletas híbridas por terrenos suaves, o pretende bikepacking não limitar o acesso da bike a lugar algum. A ideia é deixar a bicicleta e os pertences tão compactos que ela possa encarar trilhas e chegar a lugares remotos sem a necessidade de desmontar nada da bagagem. Bolsas de selim, guidão e quadro já são feitos pensando especialmente na modalidade, e permitem um ciclismo agressivo e veloz, mesmo cobrindo alta quilometragem diária.

Pode ser uma mudança brusca abrir mão de trocas de roupa, refeições mais elaboradas e itens que deixariam a viagem mais parecida com a vida que levamos normalmente. Mas quanto mais se viaja e mais tempo se passa na natureza, mais maleável se torna a noção de conforto, e menos objetos são necessários para alcançar a felicidade. A seguir, esmiuçamos o caminho para a leveza:

OS “QUATRO GRANDES”

Existem algumas práticas valiosas para diminuir o peso da bagagem, seja a pé ou na bike. O primeiro princípio é avaliar a necessidade e o peso dos “quatro grandes” itens geralmente levados em uma viagem outdoor: a mochila, a barraca, o saco de dormir e o isolante.

Mochila: De bike, o ideal é não levar mochila. Se você for a pé, deixe a mochilona em casa e aposte em modelos de 45L (ou ainda menores) com pouca ou nenhuma estrutura, para carregar seus essenciais.

Barraca: Ela não tem vez em expedições ultraleves: o jeito é se ajeitar em abrigos do tipo bivak ou mesmo sob as estrelas. Redes também são ótimas alternativas; é possível adquirir acessórios como mosquiteiros e coberturas para garantir mais conforto.

Saco de dormir: Nunca leve um mais quente do que o necessário, e se o seu modelo ocupar muito espaço na mochila, tente um saco de compressão.

Isolantes infláveis: Eles dominaram o mercado e são bem leves; um modelo ¾ é suficiente para muitos aventureiros.

ÁGUA, COMIDA E COMBUSTÍVEL:

Água: a chave é planejar muito bem para nunca carregar mais do que o necessário. Pesquise seu trajeto, para saber onde você irá encontrar fontes de água para filtrar e/ou reabastecer. Adquira o hábito de beber bastante água sempre que estiver perto de uma fonte, principalmente antes de levantar acampamento rumo ao próximo destino. Se houver vários pontos de hidratação ao longo do caminho, leve apenas um litro com você. Filtros portáteis, garrafas dobráveis e pastilhas de cloro também ajudam na economia do espaço no quesito hidratação.

Comida: prefira alimentos desidratados, que requerem apenas água quente para serem consumidos. Café instantâneo e mingau de aveia são boas opções para começar o dia. Invista em comidas ricas em calorias, que oferecem boa proporção de energia em relação a seu peso e volume. Barrinhas de proteína, sementes, chocolate, frutas secas e um queijo duro e resistente podem ser boas escolhas para te acompanhar na trilha. Em vez de um jogo de talheres, leve apenas um “híbrido” (que faz todas as funções) e uma caneca de titânio ou ágata, que servem como cumbuca e podem ir direto ao fogo.

Mini fogareiros como este da foto são boa opção para quem quer economizar espaço, mas exigem um vasilhame de combustível volumoso

Combustível: mini-fogareiros portáteis são pequenos e leves, mas a lata de combustível ocupa bastante espaço na mochila. Modelos de alumínio (que podem ser feitos com uma lata de refrigerante) que queimam álcool são eficientes e compactos – apenas certifique-se de que seu reservatório é resistente e não vai furar ou vazar dentro da sua mochila. Kits compactos de fogareiro e combustível são mais volumosos, mas fervem a água rapidamente, gerando uma economia na quantidade de combustível que você terá que levar consigo. Faça a escolha mais apropriada ao seu roteiro e número de pessoas viajando – muitos itens podem ser compartilhados.

>> HIGIENE: há um mínimo necessário para manter as coisas “aceitáveis” durante a viagem. Embalagens pequenas de álcool em gel e de pasta de dentes, uma escova de dentes (cortar o cabo da escova é uma tradição que diminui o peso carregado) e um pedaço de sabão biodegradável devem fazer a função. Papel higiênico e uma pá também são necessários – bem como trazer todo o seu lixo de volta.

>> VESTUÁRIO: aqui também, menos é mais. Muitos trilheiros encaram jornadas inteiras com uma única muda de roupa.

>> BOM SENSO NUNCA É DEMAIS: Reembale as suas coisas em tamanhos que sejam apropriados à duração da viagem, para evitar levar qualquer peso morto (você pode fazer isso com itens de higiene pessoal, silvertape, remédios e alguns tipos de combustível). Nunca tente cortar peso da mochila no quesito segurança. Uma bússola, um apito, protetor solar, uma lanterna, um casaco impermeável e um kit de primeiros-socorros são itens obrigatórios para escapar de possíveis roubadas.

Produtos bacanas para te ajudar a cortar peso da bagagem:

– Colete corta-vento para bicicleta 500 ultralight: Fino e repelente à água, é indicado para uso em clima de meia-estação. Dobra para caber dentro do próprio bolso, ficando do tamanho de um punho. Feito em poliéster. R$ 90.

O colete corta-vento da Decathlon

– Colchão auto-inflável de trilha Forclaz Quechua 100: mais curto do que os modelos tradicionais, pesa 400 gramas. R$ 180.

O isolante inflável da Decathlon, com comprimento 3/4

– Bolsa de selim Marimbondo: fica presa no canote do selim em diagonal. Feita em cordura e nylon. Capacidade de 6 a 12 litros. 440 gramas. R$ 250.

– Bolsa de quadro Aresta: feita em cordura, ocupa toda a dimensão do quadro para aproveitamento máximo do espaço. São feitas sob medida – um vídeo no site da marca ensina a tirar as medidas da sua bicicleta. R$ 220.

Camiseta UV Line: tem proteção UV 50, tecnologia de secagem rápida e tecido respirável. R$ 140.

Rede em poliamida Joy: pesa apenas 385 gramas. R$ 120.

A rede Joy, da brasileira Kampa

– Mosquiteiro para rede Bug Stop: R$ 170.

Toldo Tarp Oca: pode ser utilizado para cobrir a rede ou como abrigo independente, usando dois troncos ou bastões de caminhada. R$ 270.

Saco de bivak Cruce Kailash: garante uma noite seca ao relento. Com interior aluminizado para ajudar na manutenção do calor do corpo, pode ser usado sozinho ou com saco de dormir. Pesa 310g. R$ 239.

Garrafa dobrável NatureHike: tem 500 ml de capacidade e alça em cordão. Pesa apenas 48g. R$ 65.

Tabletes de cloro clorin: a cartela vem com 10 comprimidos. R$ 15.

 







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