Big wall em família

O escalador Ian Padilha descreve a conquista de um paredão na divisa entre o ES e MG, com o pai e amigos

 


Em maio de 2016, os escaladores paranaenses Edemilson e Ian Padilha (pai e filho, respectivamente), Valdesir Machado e Alessandro Haiduke, além do fotógrafo paulista Edson Vandeira, partiram para a conquista de uma rota de escalada na Pedra da Lavra, na divisa entre o Espírito Santo e Minas Gerais. O que se seguiu foram dias de desafios, companheirismo e risadas, longe do hype e dos holofotes, em uma expedição de puro amor ao esporte e à montanha. O filme “Espírito dos Gerais” (veja o trailer abaixo), que leva o nome da via conquistada pelo grupo, retrata esta empreitada, e foi exibido neste ano no festival de cinema outdoor Rocky Spirit. A seguir, publicamos o diário de Ian Padilha, de 21 anos, que dá detalhes desta escalada que rolou em clima totalmente familiar e fraternal.

“Esta via possui 630 metros, em puro granito. Uma escalada incrível e uma experiência muito satisfatória para mim, pois venho buscando evoluir em vários estilos: escalada esportiva, boulder, e também focando nas escaladas tradicionais. Agora quero focar também nas escaladas de grandes paredes e conquistas como esta.

 

Sábado:
Nossa empreitada começou às 4h30  da manhã, saindo do sul do país (Curitiba, PR) e rodando 1.500 km em ritmo acelerado, rumo a Governador Valadares (MG) para pegar mais um integrante da expedição, o fotógrafo e nosso querido amigo, Edson Vandeira.

Domingo:
Já estávamos na pequena cidade de Água Doce do Norte (ES), e não demorou muito e para começarmos as buscas pela linha perfeita. Roda pra lá, roda pra cá, usa o binóculos, tira fotos, dá zoom… Enfim, achamos a rota pela qual investiríamos nossas forças e determinação. Escalamos uma pequena parte no fim de tarde, e concluímos que aquela linha era ideal.

Segunda-feira:
Despertamos de madrugada, e a corrida maluca começou agilmente! Eu fiquei impressionado com a disposição daqueles ‘paredeiros’. Estou acostumado a acordar tarde e a ir escalar depois do almoço. Mas vamos embora que respeito é bom, e por esses caras o respeito é total. Escalamos até um platô, onde nos organizamos logisticamente com comida, água e equipamentos.

Terça-feira
Escalamos mais ou menos 45% do total da via. Estávamos ansiosos pelo dia que seguinte. Rapelamos rapidamente e partimos para o acampamento sob a proteção de um formoso pé de manga. Por lá rolou muita viola e uma vibe incrível!

Quarta-feira
Dia de descanso forçado (rs): fomos até a cidade e conhecemos praticamente todos os moradores. As pessoas nos paravam para perguntar o que estávamos fazendo naquela parede. Explicávamos e ouvíamos: ‘Vocês são loucos!’

Quinta-feira
Chegamos ao cume às 19h40, após três dias de muito trabalho, jumareando, conquistando e içando materiais. Ao concluir a montanha, nossa sensação de missão cumprida foi sentida. Não foi nada fácil: tivemos um acidente sério de percurso. No meio da escalada, nosso companheiro Alessandro teve uma queda inesperada, despencando de uns 20 metros, com todos os equipamentos pendurados na cadeirinha. Ele acabou tendo vários hematomas, alguns ralados e ainda uma fissura no ombro direito. O Valdesir então rapelou da metade da via com ele para acompanhá-lo até o hospital.

Eles voltaram a tempo de ver nossa chegada no alto dos 630 metros de parede. Eles puderam ver alguns pontinhos das lanternas em meio ao céu estrelado que ganhamos de presente após a conquista. Como disse o nosso parceiro de escalada e fotógrafo, Edson Vandeira, ‘muitas expedições de mais de 20 pessoas acabam chegando ao cume sendo representadas apenas por duas pessoas, mas o mérito é igual para todos’. Este foi o caso de nossa equipe. Todos conseguiram pisar no cume. Somos um time, e, como um time, a vitória é de todos!

Alguns detalhes da conquista:

Equipamentos utilizados:
1 jogo de Camalot (2 x #6);

2 Cordas de 70 m;
15 costuras.

Camping:
Os proprietários permitiram acampar na base da parede gratuitamente.

Abastecimento:
Esta escalada fica a 4 km da cidade, onde tem alguns mercados pequenos. Água é possível pegar na bica que tem antes de chegar na parede. Ou ainda descolar com os moradores locais das redondezas, que são pessoas bem sociáveis e amigas.

Uma dica:
Na metade da parede, tem um platô onde é possível bivacar, caso seja necessário. Para isso, é necessário ter pelo menos uns 300 metros de corda fixa disponível.

https://www.youtube.com/watch?v=GPzpkpL0msw







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