Roda de riso

Reúna numa mesma pessoa um entusiasta por ciclismo, um comediante de humor certeiro, um diretor de cinema e um compositor. Com esse kit multiferramentas, o norte-americano Robin Moore criou o primeiro comediante rapper ciclista. Não ria se puder

Por Andrea Estevam


(Foto: Divulgação)

ELE É CANTOR, compositor e diretor de cinema formado pela Universidade de Santa Cruz, na Califórnia (EUA). Mas foi vestindo bermuda de bike, camiseta de ciclismo e cantando rap que alcançou a fama virtual na figura do hilário MC Spandex (algo como MC Lycra, numa tradução livre).

Robin Moore pedala desde criança e, em sua carreira como diretor de cinema, já havia produzido vários vídeos, todos sem grande repercussão. Até que teve uma sacada genial: por que não tirar um sarro das tribos que povoam o universo dos ciclistas? Assim nasceu o primeiro clipe, “Performance” – que desde 2009 teve nada menos que 2 milhões de espectadores no Youtube e que faz uma paródia hilária sobre a rixa entre ciclistas de estrada e os “hipsters”, o povo moderninho adepto das bikes fixas urbanas. Depois veio “Get Dirty” (julho de 2010, 200 mil exibições no YouTube), em que MC Spandex troca o asfalto pelas trilhas para fugir do assédio gerado pelo clipe de estréia. Finalmente, às vésperas do Tour de France, Robin voltou à carga com “Le Vélo” (junho de 2011, 75 mil exibições), dando uma bela tirada de sarro dos ciclistas de estrada franceses – com direito a cenas do cara fumando enquanto pedala e guardando uma baguete na camisa de bike.

Humor não se explica, portanto sugerimos que você assista aos clipes (colocamos os links em nosso site, gooutside.com.br) para ver como Robin conseguiu tirar um belo barato das particularidades de cada tribo, sem medo de ser politicamente incorreto. Enquanto os vídeos estão sendo carregados em seu computador, eis a entrevista exclusiva dada pelo rapper/diretor/ciclista à Go Outside.

GO OUTSIDE: Qual sua história como ciclista?
Robin Moore: Ando de bike desde os 3 anos de idade. Meu pai competia em ciclismo de estrada nos anos 1970, então comecei cedo. Andei de BMX quando era moleque e de mountain bike na adolescência. Só comecei a pedalar em estrada aos 24 anos. Competi duas vezes na vida, ambas em provas de estrada disputadas em Portland, no Oregon (EUA), onde morei até alguns anos atrás. Foram os pedais mais difíceis que fiz na vida.

Quando você teve a ideia de parodiar a cultura ciclística?
Eu ainda morava em Portland na época. E lá a galera da bike, principalmente os caras que andavam em bicicletas de estrada e em bikes fixas, se levava a sério demais. Era uma cena que estava pedindo para ser avacalhada.

Você se surpreendeu com o sucesso do clipe de “Performance”?
Sim. Eu já vinha fazendo filmes havia cinco anos e nada do que lançara tinha chamado muita atenção. Foi uma surpresa bem-vinda!

Conte algum momento especialmente engraçado que aconteceu durante as filmagens de um de seus vídeos.
Comer o sanduíche enlameado no vídeo “Get Dirty” foi bem nojento. Todo mundo ficava dizendo “precisa de mais lama”, e aí fazíamos outra e outra tomada.

O que você ganhou até agora com os vídeos? Grana? Patrocínio?
Ganhei bem pouco dinheiro. Agora as pessoas podem comprar as músicas no iTunes, quem sabe não pinga uma graninha disso. Mas fiz muitos contatos na indústria das bikes por causa dos filmes, e isso tem ajudado bastante minha carreira.

Que bike você pedalava antes de “Performance” e que bike você usa hoje?
Eu usava a Tirreno verde que aparece no vídeo. Infelizmente, tive que vendê-la quando me mudei para a Califórnia. Hoje pedalo uma Fuji Touring Series IV ’86 e uma Specialized Stumpjumper 2010, que foi presente da marca. Ambas são iradas!

Raspar a perna, se entupir de suplementos e de carboidratos, sonhar com um quadro de carbono… que clichês do ciclista de estrada mostrados em “Performance” você já abraçou?
Tentei raspar as pernas para a gravação do clipe, mas acho que minha lâmina de barbear estava meio cega. Não consegui terminar. Na verdade, ultimamente tenho ido na direção oposta de “Performance”. Amo minha velha bike de estrada de aço. Posso pedalar nela todo dia, por horas e horas, e nunca fico desconfortável. E meu selim de couro da Brooks também é demais!

Você recebeu muitos emails raivosos de ciclistas com pouco senso de humor?
Não exatamente raivosos, mas recebi algumas mensagens bem exaltadas. Nada preocupante. Sinal de que eu soube pegar nos pontos certos em minha paródia.

Em alguns fóruns, seus fãs pedem que você faça um vídeo sobre ciclocross ou sobre bike freeride. O que vem por aí?
Isso é segredo. Só posso dizer que há sempre algo sendo maturado…

Além dos vídeos sobre as diferentes formas de ciclismo, que outros assuntos te interessam como diretor?
Interesso-me em promover estilos de vida ecológicos e sustentáveis, seja por meio do ciclismo ou ensinando às crianças sobre cadeias alimentares. Recentemente filmei um documentário de curta-metragem chamado Eat Pie (Coma torta) sobre esse assunto.

Seu mais recente vídeo, “Le Vélo”, foi lançado pouco antes do Tour. Quem é seu ciclista favorito nessa prova?
Foi um lançamento estratégico. Eu sabia que a atenção de todos estaria na França, então por que não dar a eles algo bem europeu? Torço pelo Andy Schleck.

Você e Andy são incrivelmente parecidos. Vocês não seriam irmãos gêmeos separados no nascimento?
Hmmm, isso eu não posso responder.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2011)







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