Trilhas mágicas

Por Mario Mele

O MOUNTAIN BIKER suíço Hans Rey, de 49 anos, é um dos melhores exemplos de como envelhecer com dignidade praticando seu esporte do coração. Culpa de seu espírito desbravador, que o acompanha desde tenra idade e jamais ficou “vovô”. Considerado o pai do mountain bike free ride, Hans se tornou tricampeão mundial da modalidade trial nos anos 1990. E nem por isso deixou de explorar de bike, já naquela época, inúmeros países, entre eles Jamaica, Peru, Nova Zelândia e China. A partir da década seguinte, depois de aposentado das competições, o serelepe ciclista aumentou ainda mais a quantidade e a qualidade de seus rolês, girando sua magrela por lugares como Cuba, Quênia, República Tcheca, Itália e Brasil (em 2001). Recentemente Hans se jogou em um mais um pedal mágico, desta vez pela Islândia. Ele e o inglês Steve Peate, de 41 anos e campeão mundial de mountain bike downhill em 2009, fizeram uma travessia norte-sul desse país nórdico, privilegiando singletracks.


PINTURA: Hans, Steve e Runar se esforçam para manter o foco na trilha (Todas as fotos: Scott Markewitz)

“Não é exagero dizer que eu esperei 20 anos por essa viagem”, diz Hans. “Diferentemente da maioria das pessoas que explora a Islândia de bicicleta, preferimos fugir das estradas principais e, por seis dias, pegamos trilhas praticamente secretas.”

A escolha os obrigou a adotar uma logística diferente das expedições convencionais de bicicleta. Para não terem que carregar comida para quase uma semana – além de barracas e equipamentos extras de filmagem –, contaram com um jipe de apoio, cuidadosamente preparado para atravessar rios, campos de gelos e seções de areia bem fofa. Além disso, tiveram a companhia do mountain biker local Runar Omarsson, profundo conhecedor daquelas trilhas, e do fotógrafo norte-americano Scott Markewitz, autor das imagens desta reportagem.


BELEZA FRIA: Achando o lugar ideal para acampar

Dessa forma, levaram consigo apenas mochilas pequenas, fato que deixou as trilha mais suaves e, consequentemente, mais divertidas. O início do roteiro se deu próximo ao Círculo Polar Ártico, onde uma vista privilegiada para as cataratas Dettifoss já fez o rolê ter valido a pena antes mesmo de o primeiro quilômetro ter sido completado. “Naquele momento, tínhamos o sol da meia-noite a oeste, uma lua azul a leste e uma floresta de elfos bem a nossa frente ao sul”, conta Hans, citando os seres da mitologia nórdica conhecidos pela forte ligação com a natureza.


PIRAMBA: Uma subida intransponível para as bikes

No meio da selva, trechos técnicos sobre rochas e galhos eram esperados – eles só não contavam com tanta neve na área de Drekagil. De repente, o grupo se viu prestes a encarar uma insana travessia de 60 km, na qual foi preciso carregar as bikes nas costas a maior parte do tempo. O carro de apoio se fez necessário, mesmo estando a 250 km de distância. “Foi um dos momentos em que agradecemos à Islândia por ter sinal de celular em cada metro quadrado”, lembra Hans.

Em outro dia, eles tiveram que ser mais persistentes do que o mau tempo e o forte vento na cara para cruzar a desértica rodovia Sprengisameur. Mas o sol finalmente voltou a brilhar e, em um trecho de montanhas ladeadas por glaciares, Steve presenteou a galera inaugurando uma das linhas de downhill mais criativas, desafiadoras e belas que todos ali já presenciaram. “O solo vulcânico deixa a Islândia com aparência de outro planeta”, diz Hans. “Era como se aquelas trilhas tivessem sido esculpidas pelo deus Thor especialmente para mountain bikers.” Para Steve, que no começo do ano fez uma cirurgia no joelho para corrigir o ligamento cruzado anterior, foi um retorno em grande estilo ao MTB.


TRILHA DO MIRANTE: Hans e Steve inauguram uma passagem ao lado das cataratas Dettifoss

Segundo Hans, o último dia revelou-se o mais incrível, apesar de ter sido o mais longo e cansativo. “Encaramos tudo o que a Islândia pode oferecer em matéria de desafio e visual: escaladas, cânions imponentes, trekking no gelo e um pedal sobre uma estreita crista, onde um descuido poderia ter consequências mortais”, relembra. Por sorte, Runar conhecia alguns caminhos alternativos e secretos, que pouparam a galera de carregar a bicicleta durante 6 km de neve fofa.

Ao chegarem a Skogarfoss, a maior queda d’água da Islândia, com 60 metros de altura, estipulada como o ponto final da viagem, eles ficaram boquiabertos com tanta beleza natural. Parecia um sonho. Melhor ainda com as bikes do lado.







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