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MULHER ARANHA: Janini em seu refúgio na Pedra do Baú

Por Renata Leão

Foto por Alê Silva

“Quanto mais difícil, melhor”, é assim que Janine Cardoso começa o papo com a reportagem da Go Outside. Paulistana de 31 anos, ela não é só a atual campeã paulista e brasileira de escalada esportiva, mas a melhor e mais ousada atleta da modalidade no Brasil. Esse ano, já participou de três etapas do mundial de escalada: Zurique, na Suíça, em junho; Munique, na Alemanha, e Chamonix, na França, ambos em julho. No Pan-americano, realizado em agosto na cidade de Ibarra, no Equador, Janine ficou em segundo lugar, atrás da venezuelana Francis Rodrigues. “Isso é um super resultado para o Brasil, já que a escalada esportiva é algo bastante novo por aqui se compararmos a países que têm anos e anos de tradição no esporte”.

Já faz cinco anos que Janine representa o Brasil na copa do mundo de escalada esportiva. Suas participações fizeram com que os europeus, asiáticos e norte-americanos, que praticam escalada há mais de 50 anos, se surpreendessem com a evolução do esporte na América do Sul. São nesses campeonatos que a atleta faz amizades e observa a elite do esporte de perto. “Isso é meu grande estímulo. É quando decido treinar mais e mais para voltar melhor no próximo. Não me contendo só em competir, quero sempre evoluir e ganhar”, conta a atleta, que se apaixonou pela modalidade logo na primeira vez, quando fez uma escalada com um tio na Pedra Grande, em Atibaia, no interior de São Paulo.

Jornalista também, Janine chegou a trabalhar em alguns sites e revistas assim que se formou na Puc-SP, em 2000. Mas a paixão por um estilo de vida cercado de natureza e de esportes falou mais alto e a atleta acabou direcionando sua carreira para algo que pudesse unir tudo isso. O que não é nenhuma novidade para ela, que desde pequena dedica a maior parte do tempo a diversas atividades físicas e cresceu acostumada a acampar e fazer trilhas. Antes de ser mordida pela cobrinha que envenena escaladores de todo o mundo, jogava vôlei e capoeira. Hoje, além de ser a melhor do Brasil e treinar cerca de quatro horas por dia, seis vezes por semana, está no segundo ano de Educação Física. Quando não está na faculdade ou treinando, é certo encontrá-la com a pequena Manuela, sua filha de dois anos, nos braços, e com o também escalador Alexandre Silva, dono da Casa de Pedra, seu marido. Quando se cansa da correria da cidade e dos campeonatos, a família corre para seu refúgio secreto, uma casinha perto da Pedra do Baú, em São Paulo.

Apesar de ser a melhor do Brasil e de ter tido 100% de aproveitamento em todos os campeonatos nacionais e estaduais dos quais participou ano passado, Janine, acreditem, precisa de patrocínio. “Os empresários adoram usar o esporte para vender seus produtos e fazer comerciais. Mas na hora de realmente investir num atleta, saem fora”, alfineta a esportista, e completa: “A escalada é muito mais que um simples esporte. Nela a atividade física é mera conseqüência da obstinação humana por superar desafios cada dia mais altos”.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de outubro de 2005)







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