Teste de fôlego

Por Piti Vieira

Foto por Frederic Buyle

O que era para ser um encontro internacional de aproximadamente trinta mergulhadores de dez países acabou se transformando em um evento esportivo sem precedentes no mundo do mergulho livre. 110 atletas de 29 países reuniram-se do dia 29 de agosto a 4 de setembro na cidade de Villefranche-sur-Mer, a um quilômetro de Nice, na riviera francesa, para o Primeiro Mundial de Lastro Constante com nadadeiras. Entre as razões para esse inesperado sucesso, estavam duas perguntas: algum homem conseguiria chegar à profundidade de 105 metros alcançada pelo “mergulhador lenda” Jacques Mayol em 1983? Pela primeira vez na história uma mulher ultrapassaria a marca dos 80 metros de profundidade?

As respostas vieram, respectivamente, no sábado, dia 3 de setembro, e no domingo, dia 4. O fim de semana começava com a competição feminina. 27 atletas mergulharam no azul do mar Mediterrâneo. A russa Natalia Molchanova, de 43 anos, detonou. Alcançou 86 metros de profundidade, como tinha anunciado, e desceu 21 metros além da segunda colocada, a sueca Ericson Lotta. Resultado: novo recorde mundial – o anterior, de 78 metros, pertencia à canadense Mandy-Rae Cruickshank, que desmaiou durante sua tentativa, a 15 metros de profundidade, e foi desclassificada. Esse foi o quarto recorde batido pela russa no último mês (são dela as marcas: 124 metros em Apnéia Dinâmica – em que o apneísta percorre submerso a maior distância horizontal possível, sem nadadeiras; 7 minutos e 16 segundos em Apnéia Estática – em que o apneísta fica o maior tempo possível submerso ou flutuando imóvel com as vias respiratórias imersas na água; e 178 metros em Apnéia Dinâmica com nadadeiras).

Ao alcançar os 105 metros de profundidade, o venezuelano de 29 anos, Carlos Coste, não só chegou à marca de Jacques Mayol, como venceu a competição masculina e tornou-se o novo recordista mundial da categoria Lastro Constante. A segunda colocação ficou com o dinamarquês Jattu Timo, com 90 metros, e a terceira com o finlandês Kinnunen Timo que chegou a 86 metros.

O Brasil esteve representado apenas pela atleta Ananda Escudero Gomes, que mora no Canadá. Ela ficou em 4º lugar na classificação, descendo 60 metros e estabelecendo o novo recorde brasileiro.

Praticado no mar e em lagos, a prova de lastro constante consiste em descer a uma determinada profundidade usando um cinto-lastro e nadadeiras, e atingir uma profundidade previamente anunciada. O atleta, que não pode utilizar-se do cabo-guia, tem somente uma chance oficial, após contagem regressiva de dois minutos. Ao final, o mergulhador deve sair da água com esforço próprio e em 20 segundos tirar a máscara e dar sinal de “ok” para os juizes, que validarão a performance. Essa prova é considerada a Fórmula 1 das modalidades do mergulho livre pelo conjunto de aptidões que exige dos atletas. Os melhores não são só bons de fôlego, mas também em concentração e preparo físico.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de outubro de 2005)







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