Um estranho na neve


DA AREIA À NEVE: Digiácomo encara qualquer descida

Por Endrigo Chiri Braz
Foto por Fábio Cabral

“O sonho de todo sandboarder é fazer snowboard”, confessa Digiácomo Dias, 23 anos, paulista radicado em Florianópolis há 12 anos. A frase explica o bom desempenho na neve do tricampeão mundial de sandboard durante a temporada de snowboard que rolou em julho na cidade de Campos do Jordão (SP) – em neve artificial, claro. No primeiro fim de semana de competição, Digiácomo consagrou-se campeão brasileiro na categoria Big Air. No fim de semana seguinte, ficou em décimo no campeonato mundial que contou com a participação dos principais “monstros” da neve. Do time brasileiro, que contava ainda com os snowboarders André Cywinsky, Felipe Motta e Hiroyuki Kawasaki, foi o que terminou mais bem colocado. “Só de estar no meio dos caras que estou acostumado a ver nos vídeos e revistas gringas de snow, já deu para aprender pra caramba”, conta ele.

A saga na neve começou por influência do versátil e apaixonado por esportes de prancha Luis Roberto ‘Formiga’, que arrastou Digiácomo para fazer snowboard pela primeira vez em Ushuaia, na Argentina. “Sempre tive interesse porque todas as manobras que executamos nas dunas são tiradas dos vídeos de snow”, lembra Digi, que logo no primeiro dia como snowboarder acertou seus característicos Front Flips. “É muito parecido. Tanto que falamos que o sandboard é a versão tropical do snowboard”.

Sem dúvida, os mais de 40 títulos que Digiácomo acumula no sandboard, sendo três mundiais e três sul-americanos, colaboram para sua boa performance na neve. Desde que experimentou a nova modalidade em 2001, Digiácomo participou de cinco eventos oficiais do calendário brasileiro de snowboard e sempre que vai competir de sandboard fora do Brasil, em países como Alemanha, Itália e Estados Unidos, aproveita a oportunidade para aprimorar sua técnica no snow. O reconhecimento já é tamanho que Digi foi convidado para competir uma etapa do calendário da Federação Internacional de Snowboard (FIS), mas infelizmente se machucou nos treinos.

Mas não pense você que o sandboard perdeu a graça e que ele pretende trocar de vez o calor das dunas pela friaca das montanhas. “Eu gosto de sand pra caramba, amo as dunas. Se rolar a oportunidade de competir de snow, vou fazer também, mas nunca largarei o sand. Aliás, moro em Floripa e não tem nem como largar”, garante Digiácomo. Isso sem contar o fato do sandboard ser um belo treino para o snow – tanto que no Brasileiro de Campos do Jordão o primeiro e o segundo colocados vieram das dunas. “O que falta no sand, o snowboard tem: velocidade e maior amplitude no salto”, explica ele. As semelhanças imperam: os sandboarders já utilizam a mesma bota do snow para fixar os pés e a prancha de snow (1,54 m) é só 14 cm maior que a de sand.

É claro que Digiácomo gostaria de ser campeão mundial de snowboard, mas sabe que não é simples assim: “Quando você começa a fazer um esporte, quer vencer, mas no snow é punk porque os caras já nasceram na neve. É muito difícil para um brasileiro, a não ser que ele vá morar fora”. Não tem problema. Digiácomo Dias já está bem satisfeito com seu desempenho nas competições nacionais. Agora cabe aos snowboarders locais aperfeiçoarem sua técnica para disputar com o capitão das dunas. Ou será que um tricampeão mundial de sandboard é areia demais para o caminhão deles?

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2005)







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