Batebola do kite

Colocamos os dois imbatíveis do kitesurf brasileiro, Carol Freitas e Guilly Brandão, ambos com 24 anos, frente a frente para bater uma bola, sem compromisso. Campeões da primeira etapa do campeonato brasileiro de kitesurf, realizado em julho no Ceará, os dois são parte da novíssima seleção brasileira de kitesurf, recém-convocada para levantar a moral das pipas brasileiras nas competições internacionais.

Carol Freitas

Idade: 24 anos

Altura: 1,60m

Peso: 53kg

Modalidade: freestyle

Principais conquistas: Tricampeã brasileira em 2002, 2003 (invicta) e 2004, campeã sulamericana em 2003 e 5a colocada na etapa do mundial da Áustria em 2004.

PERGUNTAS DE GUILLY PARA CAROL

1. Guilly: Carol, quando você começou não existiam escolas, nem instrutores habilitados. Como foi o processo de aprendizagem? Quem te ensinou a andar de kite?

Carol: O Ricardo Cantanhede, que hoje é juiz da Associação Brasileira de Kitesurf, foi quem colocou o kite pela primeira vez na minha mão, na praia da Barra, no Rio de Janeiro. Hoje, a maior inspiração é o prazer de estar no mar, fazendo um esporte que eu amo.

2. G: Como você lida com a imensa pressão de ser a mulher a ser batida?

C: Procuro não valorizar muito esse fato, encaro como se a cada temporada tudo começasse do zero, sem favoritas. E faço do desafio de superar as adversárias a minha motivação.


3. G: Com as competições, nós atletas temos de estar atentos para não deixar que a obrigação de nos superar e evoluir nos tire a essência do esporte, que é se divertir com a superação os limites. Como não deixar que essa diversão acabe?

C: Com certeza devemos dar muita atenção a isso. Como em qualquer profissão, não podemos deixar que as obrigações passem do limite. Quando estou treinando uma manobra nova e começo a ficar irritada, porque não consigo acertar, procuro deixá-la um pouco de lado e fazer manobras que já sei. Assim, recupero a auto-estima para não sair da água frustrada.

4. G: Qual foi a maior roubada que você já passou com o kite?

C: Foi quando fui dar um último bordo pra ver o pôr do sol de dentro d’água e o vento acabou completamente, de uma hora para outra. Além de ver o pôr do sol de dentro d’água, fui obrigada a ver a lua nascer também. Passei horas nadando e quando cheguei na areia já eram quase 9 horas da noite. A única coisa que eu podia fazer era relaxar e curtir a bela noite.

5. G: Considerando que os gringos têm alguns anos de vantagem no aprendizado do kite, como você vê a evolução dos brasileiros em relação a eles?

C: Acho que os brasileiros têm muito potencial de brigar por um título mundial. O que impede que isso aconteça no momento é simplesmente o fato de ainda não estarmos lá, em todas as etapas, competindo lado a lado com os melhores do mundo.

6. G: Como é sua preparação mental antes de uma bateria em um campeonato?

C: Tento visualizar como será a minha bateria, cada manobra sendo realizada com sucesso. Não adianta treinar apenas a técnica – dentro d’água a mente também tem de estar bem treinada e focada, do contrário, o resto não funciona. É preciso haver sincronia para ter a tranqüilidade necessária na hora de maior estresse.


7. G: Qual é o grande “barato” do kitesurf?

C: A imensa sensação de liberdade que esse esporte nos proporciona!

Guilly Brandão

Idade: 24 anos

Altura: 1,70m

Peso: 69kg

Modalidade: Freestyle

Principais conquistas: Bicampeão brasileiro em 2003 e 2004 (invicto), vice-campeão sulamericano em 2003 e 17o colocado na etapa do mundial na Venezuela este ano.

PERGUNTAS DE CAROL PARA GUILLY

1. CAROL Imagino que o kite fez uma grande revolução na sua vida, assim como fez na minha. Como foi o começo de tudo?

GUILLY O kite apareceu na minha vida em um momento muito importante, quando resolvi deixar o surf, que era minha paixão na época. Já estava com 20 anos e não tinha nenhum resultado expressivo para batalhar por uma carreira profissional. Quando dei de cara com ex-companheiros de surf apavorando no kite, foi paixão imediata, uma visão nova e mágica. Desde então como, durmo e respiro kite.

2. C: Me lembro bem do Guilly no seu primeiro ano de competição: garoto de Ilhabela, carismático e tímido. Vivia com seus fones de ouvido escutando música. Ele foi assim, comendo pelas beiradas, até que ao final da temporada de 2003 o locutor pediu para que subisse ao lugar mais alto do pódio. O que você sentiu?

G: Foi uma soma de vários sentimentos, de missão cumprida, de felicidade imensa por realizar mais um sonho, de poder dividir aquele momento com alguns dos meus grandes amigos que estavam ali na hora, e a esperança de que aquilo pudesse ser a alavanca que precisava pra construir minha carreira profissional e viver meu sonho!

3. C: Qual é o grande “barato” do kitesurf?

G: Pra mim o grande barato do kite é a intensidade. Você tem uma energia imensa sob seu controle e pode usá-la da maneira que quiser. Se tiver a fim de curtir o visual pode ficar andando de um lado pro outro, só admirando a natureza.

4. C: Existe uma forte tendência de explorar as ondas, principalmente, ondas grandes. Como você vê o futuro do “big kite”?

G: Acho que esse é um campo que foi muito pouco explorado até agora, apesar do esporte ter nascido com esse intuito. Hoje em dia estão desenvolvendo equipamentos novos que vão ampliar bastante os horizontes do kite nas ondas. Um dos meus objetivos é me dedicar ao kite nas ondas quando tiver cansado de competir no freestyle. No meu ponto de vista, o kite nas ondas ainda é um bebê se comparado ao freestyle, mas com muito potencial pra ser desenvolvido.

5. C: Quais são seus objetivos para o final deste ano e para o ano que vem?

G: Este ano o objetivo principal é o tricampeonato Brasileiro e tentar melhorar meus resultados no mundial, nas duas etapas que ainda vou participar este ano. Ano que vem a meta é correr todo circuito mundial e tentar terminá-lo nos “Top 10”. E a seleção brasileira, primeira num esporte radical, pode ajudar muito nisso, pois é importante construir um espírito de equipe na galera pra se juntar e treinar, com o foco em brigar por resultados expressivos.

6. C: Como você lida com a imensa pressão de ser o homem a ser batido?

G: Não encaro como problema, mas sim, uma fonte de motivação e inspiração. Tento canalizar essa energia da pressão e expectativa em performance, tentando cada vez mais estender meus limites pra fazer jus ao meu status atual e tentar sustentá-lo o máximo possível.


7. C: O Guilly entra na água com uma tranqüilidade tão grande que desestabiliza qualquer adversário. Qual o seu segredo?

G: Ah, segredo é segredo, né?! Brincadeira, acho que não tem nenhum segredo. Procuro mentalizar como serão minhas baterias. Então, quando entro na água vou mais tranquilo, porque 50% já está feito na minha cabeça. Aí, é só colocar em prática. É lógico que eu também não sou nenhum homem de gelo e sinto sim um pouco de ansiedade, mas a partir do momento que entro na água a ansiedade dá lugar à empolgação de ter a minha chance de mostrar o que eu sei.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de setembro de 2005)







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