Trekking imperial


PEDRA DOS SINOS: Após a subida, a vista é recompensadora

Por Cassio Waki
Fotos por Milton Shirata

O Parque Nacional da Serra dos Órgãos, criado em 1939, com 10 picos com mais de 2 000 metros e outros seis com mais de 1.500 metros, era o lugar preferido da princesa Isabel, a mesma que promulgou a Lei Áurea. Acostumada a passar os verões no palácio construído por D. Pedro II em Petrópolis, hoje transformado em Museu Imperial, ela costumava passear pelas trilhas do parque carregada por escravos numa liteira – espécie de cadeira com teto. Até hoje, o nome da princesa é invocado pelos aventureiros que percorrem a célebre travessia Petrópolis-Teresópolis, que cruza o parque e é mais bonita do Brasil, segundo a montanhista Helena Coelho, que junto de seu marido Paulo, já estiveram em diversas expedições pelo mundo, inclusive ao Everest, aonde já chegaram bem próximo ao cume.

No mês passado, o casal percorreu os 30 quilômetros bem acidentados da travessia em apenas um dia, começando por Petrópolis. Porém, há outras opções para quem não é “pro” e quer passar uma ou duas noites acampando por lá (o pernoite depende de autorização prévia) ou hospedado no Refúgio, alojamento que fica próximo a Teresópolis. Para a montanhista, Pedra dos Sinos, Açu, Garrafão, Dedo de Deus e Agulha do Diabo são os grandes destaques do trajeto. Outro conselho importante de Helena é contratar um guia, pois é muito fácil se perder, e entrar em contato com a administração do parque para obter informações mais precisas como clima e regulamento.

DISTÂNCIA: 30 quilômetros

DURAÇÃO: 1 a 3 dias

MELHOR ÉPOCA DO ANO: Inverno, quando o clima é mais seco e a probabilidade de chuvas e neblina é menor.

O CAMINHO: Se prepare para uma longa e íngreme subida da entrada de Petrópolis até Pedra do Açu, a famigerada Ladeira da Isabeloca, batizada em homenagem à princesa Isabel. Mas não fique desanimado, porque ao fim do suplício você ganha um presentão. Lá do alto é possível avistar, nos dias claros, toda a Baía da Guanabara, o Corcovado, a Pedra da Gávea e o Pão de Açúcar. Um pouco mais à frente, através de uma trilha secundária, chega-se ao ponto conhecido como Portais de Hércules, onde se descortinam os picos que explicam o nome da cadeia de montanhas. Pontiagudos e dispostos paralelamente, o Dedo de Deus, o Dedo de Nossa Senhora, o Cabeça de Peixe, o Santo Antônio, o São João, o Verruga do Frade, o Agulha do Diabo e o Garrafão parecem mesmo os majestosos tubos de um órgão de igreja. Do Açu até o Sinos, a coisa fica mais amena, mas nem tanto: o sobe-e-desce é constante. E como ninguém é de ferro, nada melhor do que uma bela descida da Pedra dos Sinos até Teresópolis, onde termina a travessia. Também é possível fazer o caminho inverso, começando por Teresópolis e chegando em Petrópolis.


DEDO DE DEUS: VIsto da Pedra dos Sinos

VALE DAS ANTAS: É nesse vale que a galera que faz a travessia em mais de um dia costuma acampar. Não há nenhuma estrutura além de um belo gramado para esticar as pernas, comer um pouco e tomar um cafezinho para aquecer o corpo. Bem próximo da Pedra dos Sinos, em direção a Teresópolis, você encontra um refúgio, uma estrutura para dormir e comer com um pouco mais de conforto.

IMPERDÍVEL: “Suba também a Pedra dos Sinos. Não é uma escalada, mas um belo trekking em rocha. Prepare seus olhos para uma vista maravilhosa”.

O QUE LEVAR: Para fazer a travessia em um dia, prepare-se para no mínimo 10 horas de caminhada pesada. Em sua mochila básica, Helena leva kit de emergência com lanterna, pilha reserva, cobertor de emergência, canivete, medicamentos, apito, capa de chuva e corta-vento. Nunca se esqueça da água, sanduíche, frutas secas e frescas, biscoito, carboidrato em gel ou barra. Já para fazer a travessia em dois ou três dias, a bagagem tem de ser mais detalhada e pesadinha. Além da mochila com o equipamento básico, leve barraca, saco de dormir, isolante térmico, fogareiro, panelas, talheres, copos, isqueiro, comidas práticas, bebidas quentes como café e chá, papel higiênico, sacos plásticos para levar o lixo e roupas para frio. “À noite, a temperatura baixa muito”, previne Helena. Um tênis especial para trilhas é fundamental, pois você não quer que uma bolha chata atrapalhe sua caminhada, não é verdade?

PARA INICIANTES: “Para pessoas que vão fazer a travessia pela primeira vez, é ideal começá-la por Teresópolis, pois próximo ao portão de entrada há um refúgio com local para dormir e comer. Não se esqueça de reservar antes! É bom para a pessoa se acostumar com o clima, ver o que realmente precisa levar para uma próxima vez poder acampar. Além disso, é mais próxima à Pedra dos Sinos. Um bastão de caminhada também é recomendável, pois o início da trilha é bem acidentado”.

COMO CHEGAR: Do centro de Petrópolis, de carro vá pela Estrada União-Indústria até o distrito de Corrêas e siga as indicações em direção ao Bairro Bonfim. Você pode deixar seu carro estacionado na casinha branca da “Dona Maria”, próximo à entrada. Mais uma diquinha: “Ali perto há duas pousadas. Vale à pena dormir uma noite e iniciar a caminhada logo pela manhã”. E ainda dá para deixar o carro por lá. Para buscá-lo, a Viação Teresópolis sai da rodoviária da cidade todos os dias às 7h, 9h, 12h, 15h, 17h e 19h em direção ao terminal em Petrópolis. De lá, mais uma viagenzinha de busão até o terminal de Corrêas e, depois, pegar as linhas 611 ou 616 até o Bonfim.

Por Teresópolis é menos trabalhoso, porque a entrada do parque fica na área urbana da cidade e você pode deixar seu carro no estacionamento da sede, que cobra apenas R$5. Para buscar seu querido carro, a mesma Viação Teresópolis sai da rodoviária de Petrópolis (lembre-se daquele trâmite Bomfim-Corrêas), também, às 7h, 9h, 12h, 15h, 17h e 19h e ainda o deixa há 300 metros do estacionamento da sede. A passagem custa R$9,60.

GASTOS: diária de R$ 12 reais cobrada pelo parque, transporte e dos guias credenciados que cobram R$ 120 por dia.

Mais informações: www.ibama.gov.br/parnaso

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de agosto de 2005)







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