Baiano voador


PRODÍGIO: Depois de ganhar tudo no Brasil, Uri Valadão conquista o circuito mundial

Por Endrigo Chiri Braz

Fotos por Flavio Brito

Finalmente, depois de vários anos de hegemonia do carioca Guilherme Tâmega, 30 anos, seis vezes campeão do mundo, a foto do pódio final pode mudar. Em oito anos de bodyboard no peito, Uri foi campeão baiano em todas as categorias, campeão brasileiro amador, campeão brasileiro profissional, vice-campeão mundial da segunda divisão e finalista do ISA Games da África do Sul. Atual líder do ranking mundial, ele espera a confirmação da etapa do Havaí para comemorar. Se ela não acontecer, o caneco é dele. Caso contrário, terá que se garantir mais uma vez contra bodyboarders que até pouco tempo atrás eram ídolos: o australiano Damian King, o havaiano Jeff Hubbard e o próprio Tâmega, amigo pessoal e um dos grandes incentivadores do novo talento.

“Ainda não estou acreditando que isso está acontecendo”, diz Uri, mantendo os pés de pato no chão. “Foi tudo muito rápido na minha carreira, mas não posso comemorar antes do resultado oficial. Só de estar na liderança já me sinto um vencedor”. Iniciado no esporte pelo irmão mais velho, Khael, desde sempre ele se sobressai no mar, tanto que logo adquiriu a alcunha de baiano voador. “Isso começou com a galera do circuito nacional porque minhas manobras eram muito aéreas. Aí a mídia reforçou esse apelido”, conta Uri, que define seu estilo de surf como leve. “Tenho muita facilidade em voar nas manobras, talvez essa seja minha especialidade. Meu estilo de surf me deixa bem satisfeito”. E parece que não é só a ele.

Quando perguntado quem é sua fonte de inspiração no esporte, Uri não pensa duas vezes: “Guilherme Tâmega, pelo estilo radical e talento incomparável. É maravilhoso estar sempre com ele porque aprendo muita coisa”. Quem diria que tão cedo seria ele o encarregado de desbancar GT. E isso sem dúvida aumenta a pressão sobre esse baiano de Jaguaribe. “Encaro isso como algo positivo, pois gosto de desafios e, às vezes, gosto de pressão também. Fico mais imprevisível”. Se Uri não botasse fé em seus aéreos, não estaria onde está. Com a falta de patrocínio, todas as etapas internacionais que disputou foram bancadas do próprio bolso. E na maioria das vezes a vitória acompanhada da premiação era a única forma de não ficar com uma vala na conta bancária – no melhor estilo vendendo o almoço para comprar a janta. Quem sabe com o título mundial Uri Valadão não passe a viver de banquete.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2005)







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