Velocidade e morte no deserto


AREIA MOVEDIÇA: Jean Azevedo e sua KTM percorrem o trajeto entre Kayes e Bamako, no Mali. O piloto sofreu um acidente que lhe quebrou o sacro e o tirou da prova
(Foto: Divulgação)

Abalado com a morte de dois garotos atropelados em dois dias por veículos da sua caravana, o Rali Dakar, a mais desafiadora corrida de carros do mundo, chegou ao final com o cronômetro desligado pela primeira vez em sua história. Diferentemente do ano passado, quando a competição fez cinco vítimas entre os participantes do evento, os organizadores decidiram não computar os tempos da última etapa, disputada na capital senegalesa — este ano, além dos garotos, também morreram em acidentes fatais os pilotos de motos José Manuel Perez e Fabrizio Meoni, e dois motoristas da equipe de apoio. Tímidos, os vencedores evitaram comemorações ostensivas após a linha de chegada que determinou o fim da arriscada odisséia de 9.043 quilômetros em 15 dias.

A dupla francesa formada por Luc Alphand, campeão mundial de esqui em 1997, e Gilles Piccard ganhou a disputa entre os carros ao volante de um Mitsubishi, acumulando o tempo de 53h47min32s. Nas motos, venceu o espanhol Marc Coma, da KTM, com o tempo acumulado de 55h27min17s, uma vantagem de 1h13min29s para o segundo colocado. Ambos faturaram a prova pela primeira vez. O russo Vladimir Tchaguine, da Kamaz, venceu entre os caminhões pela quinta vez e completou a prova em 71h22min16s. Apenas dois brasileiros terminaram o Dakar: André Azevedo, quarto nos caminhões, e Bernardo Bonjean, 90º nas motos. “Com tantos problemas mecânicos, estou muito satisfeito com o 4º lugar. Chegamos entre os melhores, deixando outros 65 concorrentes para trás”, disse André

Foi um Dakar diferente. Não só as montanhas de pedras no Marrocos, as imensas dunas da Mauritânia, as traiçoeiras trilhas do Senegal e os enormes buracos da Guiné não deram trégua aos pilotos e às maquinas. Os limites de velocidade — as motos tiveram velocidade limitada em 160 km/h — e a proibição quase total do uso do GPS fizeram com que, dos 475 veículos que largaram de Lisboa no dia 31 de dezembro, apenas 190 conseguissem receber a bandeirada final no lago Rosa, em Dakar (Senegal): 93 motos, 64 carros e 33 caminhões. Alguns pilotos repensam a participação na prova do ano que vem, já confirmada e com largada em Portugal.

O Dakar é a competição automobilística de peso que mais mata. Contando pilotos, organizadores, assistentes e torcedores, são 51 vítimas em 28 edições — média de 1,8 por ano. A Fórmula 1 teve 61 mortes em finais de semana de GP em 56 temporadas (ou 1,08 de média). A mais letal edição do Dakar foi a de 1986: sete vítimas, entre elas o criador do rali, o francês Thierry Sabine, após queda de helicóptero. A tragédia mais inesperada ocorreu em 1991, quando o também francês Charles Cabanne, piloto de um caminhão de assistência, foi morto por um tiro durante um conflito armado no Mali.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2006)







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