Rio 45º


TRENÓ: Atletas do street lug se seguram na pista

Texto e fotos por Pedro Cury

A pista usada para o Rio Downhill, primeira etapa do Circuito Mundial da Associação Internacional dos Esportes de Gravidade (IGSA), foi uma estrada que liga diversas partes da capital carioca, cruzando as montanhas e passando por dois belíssimos pontos turísticos: a Vista Chinesa e a Mesa do Imperador. Desses locais, é possível curtir o visual panorâmico da cidade, com seu Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Praia de Ipanema, Pedra do Arpoador e Lagoa Rodrigo de Freitas. Porém, para os 63 brasileiros e 14 competidores de oito países que vieram participar do evento, a pista não era só beleza. Muito usada pelos skatistas do Rio, esta estrada é considerada a mais técnica do Brasil e uma das mais difíceis do mundo, não só pela velocidade que se atinge nela (mais de 80 km/h), mas também devido às suas 15 curvas, sendo uma delas em 180º. Mais de 6.000 fardos de feno foram colocados em ambas as laterais para impedir que os inevitáveis tombos causassem mais do que hematomas e ralados.

O formato da competição, em todas as modalidades, foi o de baterias eliminatórias. Quatro pilotos desciam juntos e os dois primeiros se classificavam para a próxima bateria. O favorito da competição no skate Speed – a modalidade mais popular do evento – era o canadense Thomas Edstrand. Porém, ele acabou caindo numa das baterias e não se classificou para a final. O Brasil então mostrou que possui grandes talentos na modalidade, emplacando uma final totalmente verde-amarela. O melhor cotado era o gaúcho Douglas Dalua, que provou seu favoritismo vencendo a bateria final. É dele o recorde mundial de velocidade no Speed: 122 km/h. Com a vitória de Douglas nessa etapa, nosso skate speed segue o caminho do skate vertical e street, que já possuem os campeões mundiais “made in Brazil”: Mineirinho e Ferrugem. O pódio brasileiro do Speed foi completado por Juliano Lilica, Wellington Correa e Pedro Barbosa.

No Street Luge, venceu o inglês Richard Hodkinson, com Ryan James (EUA) e Beni Weber (Suíça) em segundo e terceiro lugares, respectivamente. O Buttboard teve os mesmos vencedores, mas em ordem diferente: Ryan James em primeiro, Weber em segundo e Hodkinson em terceiro.

A única mulher da competição foi a carioca Cristie Aleixo. Essa skatista de 28 anos já pratica a modalidade Freeride há 7 anos e está migrando para o Speed. Como não havia outras mulheres para montar uma bateria feminina, Cristie precisou apenas fazer uma descida de consagração na sua categoria, depois de ter competido também entre os homens.


COMPETIDORES: skate stand-up se equilibram

Conheça aqui as diversas modalidades fizeram parte do evento:

Skate Stand-up ou Speed

Nesta modalidade o skatista fica de pé ou de joelhos no skate, de acordo com a velocidade e dificuldade da curva. Aqui é preciso se preocupar com o equilíbrio, já que o skatista não fica sentado ou deitado como nas demais. A aerodinâmica também precisa ser levada mais em conta, já que a posição do skatista não é favorável.

Classic Style Luge ou Buttboard

Antes do Street Luge, os atletas usavam skates mais longos para poderem descer deitados. Com o desenvolvimento do esporte, foi criado o Street Luge, porém o Buttboard manteve seus adeptos e hoje em dia é conhecido como Classic Style Luge. É uma espécie de versão Longboard do Street Luge.


Street Luge

Adaptação do trenó de neve, o Street Luge é uma evolução do buttboard e a modalidade mais veloz da prova. É usada uma mistura de skate com trenó de neve, com 3 ou 4 eixos e uma prancha muito mais longa, pois o atleta fica deitado o tempo todo. O recorde de velocidade do street luge é de 130,7 km por hora. No Rio Downhill, o mais rápido do Luge atingiu 100 km/h. A modalidade é a fórmula 1 dos esportes de descida de ladeira.

Gravity Bike

São bicicletas sem pedais, especialmente construídas para atingir altas velocidades usando apenas a gravidade. As magrelas são projetadas visando principalmente a aerodinâmica, deixando o ciclista em uma posição bem baixa e tendo na parte da frente uma pequena carenagem que reduz o atrito com o vento. Essas bikes costumam passar de 100 km/h. Outro item interessante é um pequeno “amortecedor” ligado no guidão. Adaptado da motovelocidade, esse acessório deixa a virada do guidão um pouco mais lenta, evitando que a roda vire demais em algum descontrole do ciclista.

In Line

A diferença dos patins in-line de velocidade para os convencionais é mais uma vez a aerodinâmica. Ao invés de quatro rodas, estes patins utilizam cinco. Alguns praticantes utilizam roupas especiais que possuem extensões na panturrilha para diminuir o atrito com o ar.


EITA: Mas os competidores também se estabacam

ARTRITO

A aerodinâmica é a principal barreira para que os competidores atinjam maiores velocidades nos esportes downhill. É por isso que essas modalidades passam constantemente por adaptações nos equipamentos e também na posição que os pilotos correm. Nas modalidades em que o piloto fica deitado, a principal mudança é no capacete, que possui um desenho aerodinâmico. Já nas modalidades em que o piloto fica de pé ou joelhos, além do capacete, os competidores tentam agachar e por as mãos juntas apontando para frente. Porém, nem sempre a aerodinâmica é vilã: no Speed, os competidores ficam em pé e abrem os braços para ajudar a diminuir a velocidade antes das curvas.

Os equipamentos de proteção são fundamentais. Não só o impacto está em jogo, mas também a velocidade. Uma queda pode até não ter muito impacto, mas cair no asfalto em uma velocidade alta pode render muitas queimaduras sérias. O principal item dos competidores é o macacão de couro, que é adaptado da moto-velocidade. Além de ajudar na aerodinâmica (por estar grudado ao corpo), ele protege a pele de queimaduras e cortes. O pessoal do Speed e Patins in-line usa mais proteções (cotoveleiras, joelheiras) para impacto, devido à posição em que descem. No caso do Speed, também é usada uma luva especial com plástico na palma da mão para ajudar a frear e também direcionar o skate nas curvas mais fechadas. Os tênis também sofrem adaptações: como são usados como freios, acabam gastando muito rápido na sola. Então alguns competidores “implantam” pedaços de borracha para que durem mais.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de fevereiro de 2006)







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