Caiaque extremo


FÚRIA: Pedro Oliva dropa uma cachoeira de oito metros

Por Piti Vieira

Foto por Michael Joarez


“Medo. É neste estado emocional que fico antes de saltar de uma cachoeira”, conta o canoísta extremo Pedro Oliva, 23 anos. “Mas o temor só pode me acompanhar até o momento em que tomo a decisão de botar o caiaque na água e me jogar. Da primeira remada até a última, antes de despencar em queda livre, é preciso estar confiante e calmo para poder executar remadas precisas e, se necessário, aplicar remadas de correção. A margem de erro que se pode cometer quase sempre é próxima a zero. Lá embaixo, encharcado de felicidade, confiança e liberdade, sei que fico bem próximo de Deus. Que energia boa!”.

Foi nessa vibe que Pedro Oliva partiu de São José dos Campos (SP), onde mora, para uma expedição pelos rios de Minas Gerais e Goiás, depois de dois anos planejando essa busca por cachoeiras e corredeiras inexploradas. “A canoagem em águas brancas pede mais atenção em um país que possui tantos rios e regiões ainda inexploradas. O Brasil é um imenso universo de rios perfeitos a serem descidos”, diz ele. A viagem começou em Uberlândia (MG), onde encontrou com dois amigos californianos e uns amigos de Goiás. Daí em diante foram dias dormindo em redes e barracas, viajando numa Kombi que levava sete caiaques de plástico altamente resistente, cordas de resgate, coletes salva vidas, capacetes, cotoveleiras, remos de fibra de carbono, cordas para rapel, barracas e alimentação.

O primeiro objetivo era um degrau de 6 metros no rio Claro, a 40 quilômetros de Uberlândia. “Passamos a primeira noite acampados num lugar alucinante. A luz da lua já nos mostrava a primeira cachoeira e, ao amanhecer, preparamos os equipamentos e fomos checar as corredeiras”. Condições perfeitas os aguardavam. A equipe passou a tarde tirando fotos e saltando o tal degrau de 6 metros de altura. Dali, eles partiram para outro rio, o Tijuco, no município de Prata (MG), às margens da BR-153. Levando em consideração o grande volume de água, o acentuado desnível e ainda o tipo de formação de rochas, o Tijuco prometia grandes emoções, mas nos trinta quilômetros de rio eles encontraram apenas quatro corredeiras classe II (numa classificação que vai do I ao V). “Mas valeu, pois avistamos muitos tucanos, macacos e capivaras, além da linda mata que preserva o cenário do rio”, conta Pedro.

Era hora de seguir viagem até Itumbiara, extremo sul do estado de Goiás, onde os atletas foram presenteados com a descida de dois rios perfeitos. No primeiro rio, o Piedade, perto do povoado de Garcias, em Monte Alegre, noroeste de Minas, eles encontraram corredeiras classe V (extremo), saltaram de uma cachoeira linda e saíram de dentro d’água só à noite, alucinados de felicidade. O outro rio é o Santa Clara, próximo a Itumbiara. Depois de pesquisarem fotos e buscarem informações de eventuais quedas d’água, eles ficaram sabendo de uma cachoeira, a Santa Clara. Para lá seguiram as 6h30 da manhã do dia seguinte. A cachoeira apresentava condições perfeitas para um salto alucinante que totalizava um desnível de aproximadamente 12 metros (classe V), em um lugar maravilhoso. “Fechamos assim nossa aventura nessa região pouco explorada, que busca o desenvolvimento do eco-turismo como alternativa sócio-econômica e como forma de preservar os rios que sofrem grandes agressões por partes das imensas plantações de soja”, completa Pedro.



EQUIPADOS: Pedro e o norte-americano Michael Joarez com seus caiaques especificamente projetador para a prática de descidas em cachoeiras e corredeiras com baixa profundidade e muita pedra

A descida de rio é uma modalidade entre muitas na canoagem. Seu objetivo é descer rios com corredeiras e cachoeiras. O nível de dificuldade é classificado entre as classes I e V, também popularmente conhecidos como níveis de 1 a 5. Confira abaixo dicas para se jogar sem se estrupiar.

Dicas:

– Antes de mais nada, o óbvio: só dá pra descer rio em caiaque se você já tiver uma boa experiência em rafting ou descida de rios mais tranqüilos. Se esse não for o seu caso, pratique mais e faça suas primeiras descidas com operadoras especializadas.

– Explore ao máximo a cachoeira para não ter dúvidas quanto à profundidade e para definir qual é o melhor caminho a seguir.

– Respeite as dificuldades naturais da cachoeira e não ignore pequenos riscos. Se necessário, limpe o caminho de troncos e outros obstáculos.

– Tenha sempre uma equipe de resgate.

– Capriche na sua ultima remada antes da queda, pois ela define 80% do sucesso do salto.

– O ângulo do tronco do canoísta deve ser de 90 graus em relação ao caiaque, no momento do impacto com a água.

– Toda a musculatura superior do corpo deve estar contraída no momento de impacto com a água.

– Ouça a opinião de outros canoístas sobre as dificuldades da cachoeira.

– Os maiores riscos de uma descida de cachoeira são bater com o remo no rosto ao cair na água, ficar preso no refluxo que às vezes se forma na base da cachoeira, cair com o caiaque na horizontal e capotar para a frente com o caiaque.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2006)







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