Missão cumprida

FUTURO PROMISSOR: Henrique Avancini leva o ouro na categoria júnior cross-country e logo mais vai dar trabalho na elite

Por Fernanda Franco

Um pelotão de 65 ciclistas desembarcou na Argentina, mais precisamente em Villa la Angostura, região de Bariloche, para a disputa do campeonato Panamericano de Moutain Bike. Esse era o contingente da seleção brasileira, liderada pelo técnico Eduardo Ramires, que foi em busca de medalhas, ritmo para a temporada, pontuação no ranking internacional de ciclismo e, principalmente, uma vaga nas Olimpíadas de 2008 em Pequim na categoria cross country. E o resultado foi bom: o Brasil faturou 2 medalhas de ouro, 4 de prata, 3 de bronze e o honroso 4º lugar na competição. Ou seja: já estamos em Pequim.

Os atletas brasileiros, empenhados em conseguir a vaga e em estar bem colocados no ranking internacional, não pouparam esforços. Jaqueline Silva, atleta feminina da elite cross coutry, cruzou o oceano Pacífico em busca do ouro, apenas uma semana depois de participar do mundial de esqui cross country no Japão. Edivando Souza Cruz encurtou as férias e vinha, desde dezembro, treinando focado para essa competição. Mesmo bem preparado, o atleta ressaltou a época em que a prova é realizada como fator determinante. “Os brasileiros estão começando a temporada, pegando ritmo. Os outros países têm suas temporadas em outras épocas. Não tem como não sentir a diferença”, afirmou Vando.

O pan-americano tem relevância no cenário do MTB principalmente devido à pontuação concedida a ele pela UCI. Por conta disso, até as maiores potências do esporte mandaram seus melhores moutain bikers. Os EUA e o Canadá, apesar de irem com delegações compactas, levaram medalhas em quase tudo que disputaram. Uma das únicas ausências foi a do colombiano Hector Paes, medalhista praticamente certo, que acabou não saindo da Europa, onde corre, devido a contratos com patrocinadores.

Nosso quarto lugar no ranking nos deixa à frente dos EUA e Canadá, que obtiveram respectivamente a 5ª e 6ª colocação. Isso, porém, não significa que fomos melhores, mas sim que turbinamos nosso quadro de medalhas onde eles não competiram. Na categoria Elite eram esperados melhores resultados, mas o técnico Eduardo Ramires lembra da prata no Panamericano de Santo Domingo de Edivando: “Os americanos e canadenses são bons, mas também temos atletas de alto nível.”

Daqui para frente, o foco do mundo da MTB é o Pan do Rio de Janeiro, cuja seleção ainda não está definida. “Todas as provas disputadas pelos atletas, do início do ano até maio, inclusive essa da Argentina, são válidas para a definição da seleção que vai ao Rio de Janeiro”, explica o técnico Eduardo Ramires. O mesmo acontecerá para a definição da seleção que irá às Olimpíadas de Pequim em 2008, que acabamos de obter a vaga. Missão mais que cumprida.

AS DISPUTAS

Revezamento por equipes

A equipe do Brasil, formada por Julyana Machado, Ricardo Pscheidt, Henrique Avancini e Daniel Carneiro fez um excelente trabalho e garantiu a medalha de prata. Avancini largou muito bem e garantiu a segunda colocação para o time. Julyana conseguiu segurar um quinto lugar na sua volta para o quarteto e Daniel recuperou duas posições, buscando novamente o terceiro lugar. Pscheidt não se contentou com o bronze, fez a volta mais rápida da pista e levou o Brasil ao segundo lugar no pódium.

Downhill (é do Brasil!)

Embalado com sua primeira medalha, o Brasil fez bonito na categoria comandado pelo catarinense e heptacampeão brasileiro de downhill, Markolf Berchtold. Berchtold, que já havia levado o Pan-americano de MTB quatro vezes, sendo uma na categoria Junior e três na elite, foi com tudo para tentar o pentacampeonato. Apesar de ter largado mal por esperar a contagem regressiva que não houve e de escapar por pouco de uma queda, Markolf se segurou na bike e garantiu o ouro com um segundo de vantagem sobre o segundo competidor, que por sinal era brasileiro. Natabael Giacomozi surpreendeu a todos e fez a dobradinha do Brasil no pódio com 1 seg e 40 décimos na frente do terceiro colocado, o chileno “de salto alto” Antônio Leiva, campeão da prova em 2006 aqui em Brasil, e eterno rival dos brasucas.

No feminino, Patrícia Loureiro passou raspando no pódio, ficando com o quarto lugar, mas já se preparando para a prova de 4Cross que viria na seqüência. O título ficou com a equatoriana Dianna Margaraf.

4 CROSS (Surpresa)

Empolgada pela boa apresentação na prova de downhill, Patrícia Loureiro trouxe mais uma medalha para o Brasil na categoria em que quatro atletas descem juntos uma pista com obstáculos e rampas. Patrícia classificou-se nas baterias eliminatórias e na final ficou atrás apenas da argentina Belen Dutto. Dessa vez, a equatoriana Dianna Margraf comeu literalmente a poeira de Patrícia e terminou em último na bateria final, ficando de fora do pódio.Os meninos “de ouro” do downhill, Markolf e Natanael, seguiram bem nas classificatórias, mas acabaram fora da finalíssima.

 

Cross Country (a categoria-estrela)

Única modalidade do moutain bike nas Olimpíadas, o cross country é sem dúvida a categoria mais esperada da prova. A expectaviva de bons resultados dos atletas brasileiros era grande, já que contávamos com 49 atletas, divididos nas categorias Júnior, Sub-23, Master e Elite, tudo isso no feminino e no masculino. Pelo feminino, além de Jaqueline Silva, estavam presentes Érika Gramiscelli e Roberta Stopa. Jack, que tinha chances de ouro, trouxe apenas o sétimo lugar na elite. As americanas e canadenses comprovaram a hegemonia no esporte e abocanharam os quatro primeiros lugares.

Da mesma maneira fizeram os americanos e canadenses na elite masculina. Ocuparam os cinco primeiros lugares do pódio e não deram chance para ninguém. O brasileiro Ricardo Pscheidt chegou logo na seqüência e, como os EUA e Canadá já estavam com duas vagas asseguradas, conseguiu para o Brasil a chance de competir em Pequim 2008. E isso foi tudo que conseguimos na elite.

O destaque acabou ficando na categoria júnior com Henrique Avancini, 18 anos. Campeão da prova em 2006, e tido no Brasil como grande promessa do esporte, Avancini travou um verdadeiro duelo com o colombianoCamilo Vanegas. Durante três voltas, eles disputaram palmo a palmo a liderança, e na reta final Avancini abriu vantagem num último sprint, garantindo a medalha de ouro com dois segundos de vantagem para o colombiano. O público vibrava e Avancini desmaiava de exaustão.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2007)







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