Quarentões do concreto


HABILIDOSO: O catarinense Mauricinho Boff é sempre destaque nos campeonatos de meia-idade

Por Mario Mele
Foto por Andre Artur Muller

NO SABADÃO DO DIA 5 DE MAIO, o advogado Paulo Campos pulou cedo da cama, passou a mão no skate e saiu apressado para o Swell Skatepark. A pista – que fica em Viamão, uma cidade vizinha a Porto Alegre – é uma das mais tradicionais do Brasil. Foi lá que rolou a segunda edição do Old Is Cool, um campeonato que reuniu 14 atletas da primeira geração nacional do skate, todos hoje com mais de 40 anos de idade.

PC, como Paulo é conhecido no meio do skate, foi um dos que melhor andou no dia. Ele ficou em terceiro, atrás apenas de Kako Max, outro local da Swell. O campeão foi Luís “Come Rato” de Jesus, do Rio de Janeiro, que passou as rodinhas por lá pela primeira vez. “Um evento como esse é importante para acabar com aquela imagem de que médico ou advogado não podem ser skatistas”, desabafou PC, que ficou vinte anos sem subir no seu brinquedo favorito por medo do preconceito que poderia brotar dentro do escritório no qual trabalha.

A quarta colocação ficou com outra lenda, Álvaro Fázio. O cara foi um dos poucos skatistas das antigas a conseguir patrocínio nos anos 80. Mesmo assim, sempre tinha que secar o próprio bolso para conseguir disputar os campeonatos que começavam a pipocar no Rio de Janeiro e São Paulo. “Minha fase profissional foi logo depois do boom inicial do skate. A indústria praticamente inexistia e os bons lugares para andar eram raros”, relembra.

A Swell tem história. Em 1979, a pista sediou o campeonato brasileiro de skate. Muitos competidores do Old Is Cool participaram desse campeonato das antigas, quando estavam no auge de suas formas. Entre eles o campeão Chico Preto, que dessa vez só julgou os amigos grisalhos. “Todos andaram com muita energia. Foi legal ver que a chama de competitividade entre os pioneiros do skate permanece acesa”, disse. Não faltaram as manobras mais clássicas, como lay-back, carving e a invert, que é a da foto.

É fato que a existência de pistas como a Swell contribuiu, e muito, para que a imagem do skate, mesmo enfraquecida, nunca se apagasse. Estima-se que existam hoje no Brasil mais de mil pistas. Infelizmente, as paulistas Wave Park, Cach Box e Franete, que fizeram história, não existem mais. Já na Baixada Fluminense, as lendárias “bacias de concreto” de Nova Iguaçu estão intactas desde sua construção, em 1976. A Swell Skate Park é uma das poucas “velhinhas” que ainda sobrevive. Mesmo restaurada, ela conserva o traçado original de 1978. Um pico perfeito para reunir uma turma que nunca ligou para os altos e baixos do mercado e apenas curte o prazer de estar em cima do “carrinho”.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de julho de 2007)







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