Ah, o verão!

PEGAR JACARÉ: O termo surgiu porque o atleta se posiciona igual a um jacaré - só com a cabeça pra fora - na espreita da onda


PEGAR JACARÉ: O termo surgiu porque o atleta se posiciona igual a um jacaré – só com a cabeça pra fora – na espreita da onda

Por Marilin Novak

BRASILEIRO PODE ATÉ TER FAMA DE PRAIEIRO VIDA MANSA – estilo corpão esparramado na areia, munido de “breja” e óculos escuro para apreciar o movimento –, mas quando o assunto é esporte de praia, somos potência mundial. Prova disso é que esportes de verão hoje praticados no mundo inteiro como o frescobol, o futevôlei e o vôlei de praia (este olímpico desde 1996) nasceram pelos pés e mãos dos “ratos de areia” tupiniquins. No verão, em qualquer uma das mais de 2 mil praias brasileiras, é batata encontrar alguém praticando alguma dessas atividades ou ainda o frisbee, o jacaré no mar ou o futebol de areia. Ainda não entrou para brincadeira? Está esperando o quê?

Frescobol

Tênis fresquinho

Ainda bem que carioca tem tempo pra ir à praia. E que bom que eles gostam de suar. Se fossem à praia pra ficar com a bunda na areia, o frescobol não teria sido inventado. Santos cariocas! Parecido com o tênis (pois se usa duas raquetes e uma bola), o frescobol é praticado à beira d’água, daí o nome. Com os pés na água e com menos calor, o “fresco” do jogo mais o “ball” da bola virou frescobol. Isso aconteceu entre 1945 e 1946, na altura do Posto 2 e meio, em Copacabana. Depois a atividade invadiu o Posto 6, o Leme, o Arpoador, a praia do Diabo e o mundo.

Produção tipo exportação, hoje o frescobol é praticado em mais de 70 países. A maior das 188 comunidades no Orkut sobre o esporte tem quase nove mil associados. Lá os frescobolistas discutem as manobras mais difíceis (como o golpe “por detrás da cabeça, pelo lado oposto”); os points badalados e as melhores raquetes – boa parte dos jogadores prefere as de madeira às de fibra, mais instáveis e imprecisas. Entre as de madeira, as ocas são as melhores. Elas geram uma passada mais veloz e por serem mais leves, absorvem mais o impacto, cansando menos as mãos e braços do que as maciças.

Mas o frescobol sofreu seus Anos de Chumbo quando foi proibido, a partir da década de 50, nas praias do Rio de Janeiro. Na verdade, só em 1981 uma resolução municipal liberou esta e outras atividades em areias cariocas. Durante os anos de repressão, quem ousasse trocar um lero de raquete na praia tinha o “bagulho” – raquetes e bola – apreendido pelos policiais, que invadiam a areia, fardados e tudo. Com o tempo, os frescobolistas criaram até códigos com apitos e assobios para avisar a chegada dos “homê”. A fraca justificativa destes era que o esporte era perigoso, pois acertava as barrigas das grávidas e a cabeça dos vovozinhos (coisa de policial com pouco trabalho?).

Hoje o esporte é liberadíssimo e parece que a lei é ter uma dupla jogando frescobol em todas as praias brasileiras no verão. Em Ipanema, no Rio de Janeiro, joga-se um frescobol mais curto e rápido, mas com menos força. Na praia do Diabo (ao lado do Arpoador) rola o frescobol pauleira (grávidas e vovôs, fujam!) e em Copacabana o jogo é mais longo e forte. Copa, aliás, é a única praia que tem uma área especial para o fresco, com redes de proteção que não deixam a bolinha acertar o coco de ninguém. Já nas praias da Baixada Santista, em São Paulo, frescobol se chama tamboréu por causa da raquete parecida com um tamborim e sem cabo.

Mamãe, eu quero!

Nome da brincadeira: frescobol

Amiguinhos necessários: dois

Brinquedo: duas raquetes e uma bola

Quanto da mesada: R$ 70 (duas raquetes ocas de madeira – 25 cada – mais um tubo com duas bolinhas de borracha importadas – a qualidade das nacionais é menor)

Onde: fastball.com.br

Para entrar pra turma: a comunidade no Orkut (orkut.com) “Frescobol” tem 8.700 associados ou pelo site frescobol.net.


TOMA LÁ, DÁ CÁ: O frescobol é um esporte genuinamente brasileiro e uma tacada profissional pode chegar a 200 km/h

Frisbee

Torta na cara

Conta a lenda que no final do século 19 uma fábrica inglesa de tortas – a Frisbie – vendia seus produtos para os alunos das faculdades. Logo os espertos garotos descobriram que as fôrmas das tortas, em forma de disco, serviam de passatempo nas horas vagas quando jogadas de uma pessoa para outra. Era o começo de um esporte que hoje é praticado em mais de 50 países.

Mas saiba que frisbee é o nome do disco – hoje feito em plástico e com 175 gramas – que serve de “bola” para nove diferentes tipos de atividades, sendo o ultimate o mais popular. Nele, dois times de cinco ou sete pessoas usam um campo semelhante ao campo do futebol americano e têm como objetivo fazer o disco chegar à barreira do gol, assim como no jogo gringo. Lá fora, principalmente nos Estados Unidos, o ultimate é jogado nos gramados dos campi das faculdades. Aqui no Brasil, claro, só poderia parar na areia das praias. Em cidades não-litorâneas, o frisbee é jogado em parques, como no Ibirapuera, em São Paulo.

O legal é que o ultimate é um esporte anticlube da Luluzinha e Bolinha, pois é o único no mundo que pode ter homens e mulheres na mesma equipe. “Ao contrário do frescobol, é melhor jogar frisbee na areia fofa”, dá a dica o diretor técnico da federação, Marco Aurélio Sanches. “É um jogo muito dinâmico, divertido e extremamente competitivo. A prática ajuda a melhorar a técnica de passe e quem já joga basquete ou vôlei tem mais facilidade, pois faz uma leitura espacial do disco e se posiciona melhor em campo”, explica Marco, que joga ultimate desde 1994.

Em dezembro vai rolar o primeiro campeonato mundial de ultimate já disputado na América do Sul, nas praias de Maceió (Alagoas). O pessoal da Federação Paulista de Disco espera reunir em torno de 300 atletas, de 27 países.

Mamãe, eu quero!

Nome da brincadeira: ultimate

Brinquedos: um frisbee de plástico

Amiguinhos necessários: dupla ou três para brincar sem pretensões ou dez para formar dois times, como manda o regulamento

Quanto da mesada: R$ 15 (Aquanaut Super Fly)

Loja: decathlon.com.br

Para entrar pra turma: frisbeebrasil.com.br (Federação Paulista de Disco) e beachultimate.org (site da B.U.L.A, a Associação dos Amantes de Ultimate de Praia)

Surf de peito

No peito e na raça

Quem não tem cão, caça com gato. Quem não tem bola, joga com meia. E quem não tem prancha, pega onda de jacaré, que é literalmente surfar uma onda no peito, sem prancha e na raça.

A atividade baixou em praias brasileiras a partir da década de 1970, em Copacabana, mas ninguém sabe afirmar ao certo quando surgiram os primeiros pegadores de jacaré do mundo. Acredita-se que povos nativos do litoral já brincavam de surfar ondas com o corpo. O fato é que hoje o tradicional jacaré se profissionalizou e se chama, oficialmente, surf de peito (ou ainda bodysurf), um esporte com associação, manual de etiqueta e regras. (O termo jacaré surgiu quando os militares do Forte de Copacabana achavam que os surfistas de peito pareciam jacarés esperando a onda, só com a cabeça de fora).

Segundo a Associação Carioca do Surf de Peito – criada em 1987 – o esporte exige muito mais do atleta se comparado com o surf de prancha. Para entrar na onda, o “jacarelista” precisa nadar com explosão, recorrendo muito mais aos seus braços e pernas e, conseqüentemente, aos pulmões. Por causa da pesada exigência física, até Kelly Slater usa o jacaré como base de treinamento, como aparece em trechos do filme A Brokedown Melody (Woodshed Filmes), no qual o octacampeão e uma trupe nervosa brincam sem prancha.

O surfista de peito também precisa conhecer bem o mar, suas ondas, marés e correntezas. Alguns acessórios são permitidos, como nadadeiras (pés-de-pato) e cordinha. Roupa de neoprene é bem-vinda no frio e lá fora a galera usa capacete, para mares de coral e pedra. O carioca Luiz Henrique de Souza, o Ricky, diz os brasileiros não têm o costume de usar capacete. Mesmo assim, o bodysurfer de 32 anos (há 20 pegando jacaré) ressalta o quesito segurança àqueles que querem estrear neste verão: “Respeite seus próprios limites, saiba que o mar é perigoso e imprevisível e só caia na água com alguém por perto ou próximo de um posto salva-vidas.”, reforça.

Mamãe, eu quero!

Nome da brincadeira: surf de peito (o tal do “jacaré”)

Amiguinhos necessários: um

Brinquedo: um par de nadadeiras (Kpaloa Tri-Fins, R$ 149, vortec.com.br); cordinha (Bullys Leash para pé-de-pato, R$ 30, starpoint.com.br) e camisa de neoprene (Lycra Billabong Longa, R$ 140, surfpoint.com.br)

Para entrar pra turma: a comunidade no Orkut “Eu Pego Jacaré” tem 10 mil associados; bodysurfing.com.br (site da Associação Carioca de Surf de Peito) ou indo por meio de escolinha, como a Andorinha do Mar no Rio (andorinhadomar.multiply.com) e a Golfinho Dourado em Floripa (golfinhodourado.multiply.com).

Futevôlei

Mão no pé

Os brasileiros começaram a jogar vôlei com os pés no ano de 1962, na praia de Copacabana, quando um grupo de “boleiros de praia” começou a usar as balisas do futebol de areia como uma quadra imaginária de vôlei de praia. Logo foi inserida a rede na brincadeira. O grande divulgador do novo esporte foi o ex-jogador do Botafogo Otávio de Morais (o Tatá, da Seleção Brasileira de 50). Ele juntou uma galera em frente à rua Bolívar, que tinha nomes de peso do futebol de campo da época – como Didi e Jairzinho. Os caras aderiram à novidade, que até hoje rola nas praias de todo o Brasil e também nas águas doces, como às margens do rio Araguaia, na divisa de Goiás e Mato Grosso, onde acontecem campeonatos regulares, inclusive mundiais.

Até o argentino Maradona arriscou seus chutes na rua Miguel Lemos, em Copacabana, um dos points cariocas do futevôlei nos anos 70 e 80. O craque, ainda em plena forma, deu uma canjinha para os brasileiros em julho de 1985. Outra imagem emblemática é a do ator global Eri Johnson na novela Pecado Capital (1998), no papel do malandro carioca Tenórinho, que jogava futevôlei com seu amigo Baixinho, o Romário, fã de carteirinha da brincadeira.

Hoje a Confederação Brasileira de Futevôlei (CBFV) congrega federações em 16 estados tupiniquins e países como Grécia, Itália, Alemanha e França também têm federações, totalizando 15 países amantes do futevôlei. O futevôlei é jogado numa quadra com 18 x 9 metros de areia fofa, demarcada por uma fita ou corda. A rede tem 9,5 metros de comprimento e fica a 2,20 metros de altura. Há equipes de cinco, dois ou até um atleta (um contra um). As regras são semelhantes às do vôlei: cada equipe pode dar três toques na bola antes de passar para o lado adversário e o mesmo atleta não pode tocar a bola mais de uma vez seguida. E vale usar qualquer parte do corpo para tocar a bola, exceto as mãos, os braços e os antebraços.

Mamãe, eu quero!

Nome da brincadeira: futevôlei

Amiguinhos necessários: dois, quatro ou dez

Brinquedo: uma bola para futevôlei

Quanto da mesada: R$ 120 (Mikasa Kick Off)

Onde: ciashop.com.br/voleiboutique < Para entrar pra turma: futevolei.com.br e cbfv.com.br (Confederação Brasileira de Futevôlei).


VALE QUASE TUDO: No futebolêi é liberado tocar a bola com qualquer parte do corpo, exceto com as mãos, braços e antebraços

Vôlei de praia

Não tem pra ninguém

É treta: segundo a Confederação Brasileira de Vôlei, o vôlei de praia é de origem brasileira e nasceu na década de 1930, quando rolaram os primeiros torneios amadores em areias cariocas. Já no site da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) está registrado que o “beach voleiball” também surgiu na mesma época, mas na Califórnia (EUA). Discutir quem exportou para quem a atividade é cair na mesma briga de quem teria inventado o avião – se o brasileiro Santos Dumont ou os irmãos gringos Wright. O fato é que o vôlei de praia é muito praticado no Brasil e no mundo e por causa disso é esporte olímpico desde 1996, quando aconteceram os jogos de Atlanta (EUA). Já de cara a dupla brazuca Jaqueline Silva e Sandra Pires abocanhou a medalha de ouro, e Mônica Rodrigues e Adriana Samuel a de prata. O bom é que sempre que a vaca do Brasil está indo para o brejo nas Olimpíadas, o vôlei de areia levanta a moral da pátria amada: em Sidney (2000) levamos prata no masculino e no feminino e bronze no feminino; em Atenas (2004) foi ouro para os guris e prata para as meninas.

Mas a onda do vôlei de praia já tinha crescido no final da década de 1980, quando aconteceram dois torneios inesquecíveis. O primeiro foi o Hollywood Volley, em Copacabana (RJ) e Santos (SP), em 86. A competição chamou tanto a atenção da FIVB, que esta acabou reconhecendo o esporte como oficial e alguns anos depois inaugurou um estatuto de regras próprias para a modalidade (ué, se o esporte era norte-americano, por que não foi oficializado antes?). O segundo evento foi o primeiro Campeonato Mundial de Vôlei de Praia, que rolou em 87 no Rio de Janeiro. Nessa época, os norte-americanos ainda eram os bons, mesmo assim os memoráveis Renan e Montanaro fizeram bonito com a terceira colocação. Mas o reinado gringo durou pouco: a partir de 1993 até 2006 (14 anos), os brasileiros foram campeões 12 vezes na categoria masculina e 13 vezes na feminina.

Mamãe, eu quero!

Brincadeira: vôlei de praia

Amiguinhos necessários: duas duplas

Brinquedos: bola Wilson AVP (R$ 66), usada no mundial; rede Cabral Quatro Faixas (R$ 50)

Onde: ciashop.com.br/voleiboutique

Para entrar pra turma: a comunidade no Orkut “Vôlei de Praia” tem 13 mil associados; dando um pulo nas arenas de Copacabana (RJ) ou pelo site volei.org.br, da Confederação Brasileira de Vôlei.

Futebol de areia

A taça do mundo é nossa

Cinco de um lado, cinco do outro. Pé na areia, bola no pé, sol na cara e torcida sempre quente e fervorosa. O esporte que é uma instituição nacional rola solto nas areias no Brasil e também se transformou em produto de exportação. Hoje a pelada na areia é praticada em mais de 170 países e os entendidos do assunto dizem que ele teve uma curva de crescimento de profissionalização nunca visto em outras modalidades: apesar de existir desde que o brasileiro freqüenta praias, o esporte só ganhou regras e manual de conduta em 1992 e somente em 2005 aconteceu o primeiro mundial regulamentado pela FIFA.

Aliás, quando praticado oficialmente ele carrega o pomposo nome de beach soccer. Agora, aportuguesando e informalizando a brincadeira, teremos o futebol de areia, com certeza a modalidade mais praticada nas areias do Brasil. E daí as regras são praticamente livres. O lance é ter uma bola, amigos pra formar os times, um canto livre na praia e a diversão está garantida, mesmo em dias de chuva.

Entre 1995 e 2004, antes da entrada da FIFA, aconteceram torneios internacionais (dez ao todo), todos no Brasil, dos quais nove foram papados pelos próprios donos do território. A partir de 2005 os eventos passaram a ser chancelados pela FIFA e todos aconteceram em Copacabana, inclusive o de 2007, agora entre os dias 1º e 11 de novembro. Mas Copa não é sede vitalícia da disputa. A cidade de Marselha, da França sediará o evento em 2008 e Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, em 2009.


CURVA ASCENDENTE:O futebol de areia como esporte profissional cresceu igual a nenhum outro nos últimos dez anos

Mamãe, eu quero!


Brincadeira: futebol de areia

Amiguinhos necessários: pra brincar quantos quiser ou dez (cinco em cada time) como manda o regulamento

Brinquedo: uma bola para futebol de areia Adidas Beach, usada no mundial (R$ 80), no ciashop.com.br/voleiboutique

Para entrar pra turma: A comunidade no Orkut Futebol de Areia tem mais de 2 mil associados; pelo site cbbsbrasil.com.br (Beach Soccer Brasil).

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de novembro de 2007)







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