Luzes, onda, ação!


Por Fernanda Franco
Foto por Bruno Lemos

“TODA TEMPORADA É ‘A’ TEMPORADA. Tem que fazer acontecer e ir atrás da onda”. Com muita confiança e positividade, Danilo Couto, 32 anos, empacotou no fim de outubro seu quiver (kit) de seis pranchas, todas novinhas, e se despediu do Brasil rumo a mais uma temporada atrás das ondas gigantes do Havaí.

O baiano Danilo é parceiro de tow-in do carioca Rodrigo Resende, 40 anos, desde 1999, quando se conheceram no outside de Waimea, num dia em que só os dois encararam as morras de 30 pés. A dupla passa a temporada de inverno do hemisfério norte, de novembro a fevereiro, na ponte aérea Havaí-Califórnia, sempre antenados nas previsões climáticas. É nesta época que ondas de até 70 pés podem se formar em Waimea e Jaws, no Havaí, ou em Mavericks, no litoral norte da Califórnia. Quem estiver no lugar certo, na hora certa, com a coragem e a técnicas certas, pode consagrar-se nos campeonatos e ainda embolsar uma boa grana com os prêmios oferecidos pelas grandes marcas para as maiores ondas surfadas.

O Havaí é para eles quase o quintal de casa. Em Mavericks a lenda-viva Jeff Clark – que por 15 anos foi o único a surfar essa onda, considerada a mais poderosa do mundo – dá suporte aos brasucas. Em outros cantos do mundo, como África do Sul, Tahiti ou Todos os Santos, a dupla – boa de conversa, de risada e de surf – também dispõe de uma boa infra-estrutura, sempre necessária para encarar qualquer tamanho de onda. “Surf de onda grande só funciona assim. Temos uma teia de contatos pelo mundo. A galera te chama avisando que o swell vai entrar e acaba rolando uma camaradagem”, conta o baiano Danilo.

O talento deles está mais do que reconhecido entre o seleto grupo de surfistas que dropam ondas grandes pelo mundo, tanto no braço como com a ajuda da “máquina” (como eles chamam o jet ski). Rodrigo, cuja força e agressividade nas ondas lhe rendeu o apelido apropriado de The Monster (O Monstro), já faturou o caneco da Tow-In World Cup (temporada 2001/2002) numa parceria relâmpago com o surfista havaiano Garret McManara. Já Danilo passou raspando pela premiação anual de uma marca de surf que reconhece os destaques da temporada, com uma onda histórica de backside em Jaws, em 2004, lembrada até hoje. E, até 31 de dezembro de 2007, eles estão entre as vinte duplas que aguardam o chamado da Nelscott Reef Tow In Classic, no Oregon (EUA). A organização do campeonato está atenta à previsão climática, que ajuda a indicar a data e o tamanho do swell. Como únicos representantes brasileiros, Danilo e Rodrigo disputarão o título ao lado de nomes como Ross Clarke Jones, Twiggy Baker e a dupla campeã da última edição, Garrett Mcnamara e Kealii Mamala.

Tantas temporadas dropando as maiores ondas já renderam fotos extraordinárias como a do lado e, claro, muitas imagens gravadas em vídeo, grande parte captadas pelo fotógrafo e cinegrafista Bruno Lemos. As seqüências inspiraram a dupla a transformar o material em filme. Encorajados pelo diretor de filmes publicitários, surfista e amigo próximo Alex Miranda, o arquivo – que não é pequeno – já foi recolhido e selecionado, dando início à montagem documentário. A próxima etapa é registrar todos os passos da temporada 2007/2008 para completar a história da carreira da dupla. “Já está tudo preparado para as filmagens, que começam assim que Danilo e Rodrigo chegarem ao Havaí”, explica Alex. “Vai ser alegria ou agonia, depende do tamanho das ondas”, divaga. O diretor acompanhará pessoalmente parte das filmagens, aproveitando para registrar os bastidores entre uma onda e outra e ouvir as histórias já vividas pelos dois.

Danilo e Rodrigo dizem que o mais importante será mostrar aos amantes do esporte o que eles vivem em cada lugar, além da evolução da dupla ao longo dos anos e o momento atual do big surf. “Estamos à espera de um marzão enorme nessa temporada”, anseia Danilo. “Treinamos bastante, desenvolvemos pranchas melhores e estamos sedentos de surf”, conta. Os dois concordam que o fundamental é estar sempre disposto e preparado para voar a qualquer momento em direção ao tão sonhado swell gigante. E será que em algum dia eles se cansarão de caçar a maior onda da vida? A resposta vem em coro: “Jamais!”


(Reportagem publicada originalmente n Go Outside de novembro de 2007)







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