Vento sul


TRÊS MOSQUETEIROS: Da esq. para a dir., Phoenix, Ventaneiro e Touché, os três maiores barcos da regata

Por Mario Mele

QUEM NÃO É DO MUNDO DA VELA normalmente só sabe que este esporte depende de bons ventos para ser praticado. Pensando em expandir os conhecimentos sobre vela além mar, este ano a organização do Mitsubishi Motors Sailing Week embarcou os jornalistas nos veleiros que competiram na 19º edição do evento, que até o ano passado se chamava Circuito Oceânico Ilha de Santa Catarina. A disputa aconteceu entre os dias 19 e 23 de fevereiro, reunindo 43 barcos e 350 velejadores de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

O novo nome do maior evento náutico do sul do Brasil chegou a gerar polêmica entre alguns velejadores, que criticaram o uso do inglês. Mas, segundo a organização, o uso do termo sailing week em vez de semana de vela tem a ver com os planos da nova marca patrocinadora, que pretende internacionalizar o tradicional circuito a partir de 2009.

Outra novidade foi que este ano outros veículos de comunicação cobriram o evento, além dos especializados em atividades náuticas. Com isto, a semana de vela catarinense – que viveu bons momentos nas décadas de 1980 e 90 e até o ano passado sobrevivia apenas da força de competidores locais – voltou a ser notícia Brasil afora.

Eu, depois de quatro dias velejando, além de aprender que corda serve para amarrar cavalo (em veleiros se usam cabos), também descobri que leva um tempo até entender o que é realmente uma regata (como os barcos se utilizam dos ventos) ou a função de cada um dos tripulantes. Mas a principal finalidade de inserir leigos nos barcos foi mostrar aos marinheiros de primeira viagem que a vela, apesar de não ser um esporte simples e possuir uma linguagem própria – com comandos que soam aramaico para os de fora – é capaz de render boas histórias.

Nos dois primeiros dias rolou a regata de percurso, que chega a ser considerada uma atividade monótona entre os que têm uma veia competitiva mais forte, pois não exige tanto esforço físico da tripulação pra cumprir um roteiro mais longo. Os barcos menores (das classes RGS e bico de proa) partiram da praia de Jurerê, seguiram até a praia Brava, no extremo norte da ilha, e depois voltaram. Já os maiores (classe ORC internacional) saíram da mesma praia e esticaram até a ilha do Mata Fome, somando 65 quilômetros de navegação. Mas para os que nunca velejaram em Floripa, como eu, a oportunidade de conhecer algumas belas praias, como Canasvieiras e Lagoinha, recompensou o tom mais brando.

Já nos três últimos dias aconteceu a modalidade barla-sota, um tipo de regata na qual o rumo é delimitado por duas bóias, que devem ser contornadas sempre no sentido anti-horário. Como a largada é contra o vento, os veleiros ficam num vai e vem constante e o trabalho no convés é bem mais intenso do que numa regata de percurso.

Na barla-sota a tarefa principal da tripulação é levantar a vela-balão quando o barco está a favor do vento – o famoso vento de popa. Nesse caso, a vela se estufa, transformando vento em movimento. Por envolver perícia, planejamento tático e um pouco de sorte para ser atingido por boas rajadas de vento, a barla-sota é uma das técnicas preferida dos velejadores.

Depois de quatro dias como fita-azul (o primeiro barco a cruzar a linha de chegada em cada etapa), o veleiro Phoenix Mitsubishi Motors foi declarado campeão da semana de vela catarinense na classe ORC Internacional 500, os barcos que mais chamam a atenção na regata por causa de seus tamanhos.

O interessante é que mesmo entre barcos de uma mesma categoria, há uma diferença considerável entre tamanho e tripulação. Por causa disso, no final de cada dia os resultados eram jogados no computador, que calculava o tempo corrigido. Desse modo, apesar das disparidades, a disputa era justa.

“Cometemos alguns erros na largada e na virada de vento, mas fizemos uma boa regata”, comentou Eduardo Souza Ramos, comandante do Phoenix. Por causa dos bons resultados nos primeiros quatro dias, mesmo que a tripulação desse um w.o. no último, o título já era do Phoenix..

Atualmente Eduardo se empenha para manter seu veleiro alemão Judel-Vrolijk de 57 pés e de última geração no topo das regatas nacionais. Ele também já foi atleta olímpico em Moscou (1980) e Los Angeles (1984). Além disso, é octocampeão da Semana de Vela de Ilhabela e até hoje navega em campeonatos europeus e norte-americanos. No Phoenix ele ainda conta com os tripulantes André Fonseca, Rodrigo Duarte e Samuel Albrecht, trio que representará a vela brasileira nas Olimpíadas de Pequim, em junho.

Eu velejei dois dias no barco Guga Buy (classe RGS), um no Oulalá (classe bico-de-proa) e outro no vice-campeão Touché Super, já no último dia da competição. O barco de Ernesto Breda disputou, rajada a rajada, o segundo lugar com o Ventaneiro, que acabou em terceiro. Satisfeito, Ernesto admitiu que teria que pensar numa solução para superar o Phoenix de Eduardo e do trio olímpico.

E no calor da premiação, foi anunciado que a praia de Jurerê será o destino final de três grandes regatas na mesma época da 20º edição da Sailing Week: uma partindo de Olivos, na Argentina; outra de Santos (SP); e uma terceira de Porto Alegre (RS). A idéia é que os barcos dessas três provas batam pique no iate-clube Veleiros da Ilha e dias depois partam para a Sailing Week. Com a megafrota e jornalistas mais calejados e interessados no assunto, em 2009 o espetáculo náutico de Santa Catarina promete ser rentável aos espectadores.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de abril de 2008)







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