Sonho meu


DIVERÃO: Diogo desce marola de stand-up paddle

Por Fernanda Franco

Go Outside: O que significa para vocês o projeto Volta ao Mundo?

DIOGO: Significa a realização de um sonho que um dia foi uma idéia distante. Rodar o mundo de veleiro é ter a oportunidade de fazer tudo o que mais gosto: viajar, praticar esportes no mar, interagir com outros povos e culturas e ainda evoluir como pessoa.

FLAVIO: Esse é o meu sonho de criança. Moro em uma ilha, Florianópolis, e desde que me conheço por gente velejo com vários tipos de barcos. Há oito anos meu pai me perguntou se eu não queria usar mais seu veleiro monocasco de 31 pés, o Xamã. Comentei com os amigos e elaboramos o projeto de volta ao mundo. Sempre escutei um milhão de histórias de pessoas que deram a volta ao mundo, e também sobre as grandes navegações do passado. Agora, as histórias que vou contar para meus filhos vão ser as minhas aventuras junto aos meus amigos.


O que deu mais trabalho antes de começar a viagem?

DIOGO: Durante oito anos nos dedicamos quase que exclusivamente a viabilizar este projeto. Primeiro, definimos o roteiro, estudamos as condições climáticas de cada local, e planejamos a preparação física, psicológica e nutricional. Depois montamos o projeto e saímos atrás de patrocínio. Isso foi difícil. Mas depois de duas expedições [eles também percorreram de Natal até Fernando de Noronha de windsurf], provamos que somos profissionais e levamos com seriedade o planejamento e execução de nossos projetos.

FLAVIO: Nunca imaginávamos ter que resolver tantas coisas. Tivemos que criar uma empresa, ter contador, registrar a marca. Também foi preciso acertar toda a papelada do barco e checar as alfândegas nos países onde vamos passar. Nosso sonho é entrar em um barco e viajar sem se preocupar com nada, mas a realidade é que para uma expedição como essa dar certo, temos que fazer tudo correto.

O que vocês aprenderam nas outras travessias em relação ao mar, vento, condições climáticas e relacionamento entre vocês?

DIOGO: Definitivamente estamos muito mais maduros. Aprendemos a aproveitar ao máximo as condições climáticas e a sermos mais pacientes. Hoje sabemos o que fazer para evitar conflitos. O segredo está em dar grande atenção às pequenas coisas cotidianas, que ao longo do tempo podem causar problema.

Porque a escolha deste barco?

DIOGO: Optamos por ele porque é um veleiro rápido e espaçoso. O Itusca é um catamarã de 45 pés com quatro suítes e 100 metros quadrados de área total. Vimos na internet a oferta de venda. Fomos à Grécia efetuar a compra e o trouxemos para o Brasil. Aqui fizemos alguns ajustes, como restaurar o motor e a parte elétrica e fazer uma capota de fibra para o cockpit.


DIVERSÃO: Flávio rema no mar tranquilo do Caribe, com Itusca ao fundo

Qual a autonomia do barco com relação à água, comida e combustível? Vocês usarão motor?

DIOGO: O motor vai por segurança, só o utilizaremos na chegada e na saída dos portos. Temos autonomia praticamente ilimitada de água, pois contamos com painéis solares para a produção de energia e um dessanilizador que transforma a água do mar em potável. Quanto à comida, temos a bordo um grande freezer e uma geladeira para estocarmos bastante alimento. Também pescamos com frequência. Acho que se o mundo acabasse, seríamos os últimos a morrer.


E o barco está bem equipado tecnologicamente?

DIOGO: Temos internet via satélite, mas é lenta e cara. Por isto a utilizamos basicamente para pegar a previsão do tempo. Temos equipamentos de rastreamento, como o OnixSat – com ele qualquer pessoa pode acompanhar on-line onde estamos por meio de nosso site. Temos também um Epirb [de Emergency Position Indicating Radio Beacon], que é um equipamento náutico que envia sinal de socorro caso aconteça algo conosco.

Que “brinquedos” o Itusca levará ?

DIOGO: Esta talvez seja a melhor parte! Nosso roteiro passará pelos locais mais incríveis do globo para esportes aquáticos. Ao todo levaremos 15 pranchas, com as quais poderemos praticar surf, wind, kite, tow-in, stand-up paddle e wakeboard. Também temos um equipamento completo para mergulho autônomo.

Vocês já têm algum convidado para embarcar no Itusca?

DIOGO: A fila está grande. Todos querem ir. O Kauli Seadi, tricampeão mundial de windsurf, deverá nos visitar em janeiro, no Caribe. O surfista Tripa estará conosco em março, no Panamá.

Como vocês dividirão o comando do barco?

DIOGO: Quando estivermos só eu e o Flavio, o revezamento será em turnos de 3 horas para cada um, dia e noite. Utilizamos o piloto automático o máximo possível, pois ele nos permite uma viagem muito mais agradável, embora tenhamos sempre que estar de vigília.

Qual você acha que será a parte mais crítica da viagem?

DIOGO: É difícil definir, pois qualquer local pode ser bem complicado. Definimos nosso calendário a partir da época de furacões, e felizmente a época de ondas é oposta a dos furacões. Nosso principal medo é com os piratas. Estão acontecendo muitos casos em todo o mundo. Nosso plano é evitar passar em locais mais problemáticos, como as costas da Colômbia e da Filipinas, por exemplo.

Ficar dois anos longe de casa e da família pode ser bem difícil. Como vocês vão lidar com isso?

DIOGO: Minha esposa passará grande parte da viagem conosco e a namorada do Flavio também fará diversas visitas Temos, em nossas cabeceiras da cama, um mural com fotos. Olhá-las antes de deitar é sempre muito bom.

FLAVIO: Essa é a pior parte. As coisas acontecendo, os amigos e a família lá em Florianópolis, e a gente longe de todos por muito tempo.

Dá tempo para relaxar no barco? Como vocês se distraem?

DIOGO: Levamos uma biblioteca com muitos livros. Assistimos a algum filme ou seriado em DVD todos os dias. Temos videogame, baralho, e eu, particularmente, gosto de escrever.

Há alguma superstição ou lei a bordo?

FLAVIO: Agradecemos por qualquer peixe pescado, e pedimos licença e desculpas. Nunca jogamos lixo no mar, absolutamente

nada. Não somos nada em comparação à mãe natureza.

DIOGO: Gostamos de respeitar a natureza, mesmo em pensamento, pois sabemos que as nossas vidas dependem das condições que encontraremos. Mas não somos muito supersticiosos.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de janeiro de 2009)







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