Luz, câmera, drop


PARA O CINEMA: Surfistas analisam pico no Peru, para decidirem a hora certa de encarar as esquerdas perfeitas

Por Mario Mele
Fotos por Divulgação

QUASE SETE ANOS DEPOIS do sucesso absoluto do primeiro filme Surf Adventures, o diretor Roberto Moura mostra em Surf Adventures 2: A Busca Continua – que estreia nos cinemas brasileiros dia 27 de março – que o estilo de vida nômade levado pela maioria dos surfistas continua rendendo boas cenas.

A exibição em 2002 do primeiro longa da série, codirigido e produzido por Roberto, contribuiu para aumentar o crowd no outside das praias brasileiras, estimulando espectadores a começarem a surfar. Inspirado em clássicos do gênero, como Endless Summer, a produção nacional atraiu cerca de 250 mil pessoas aos cinemas e reforçou o surf como um elemento inerente à cultura brasileira.

Para fazer o Surf Adventure 2, Roberto rodou o mundo registrando as viagens de alguns dos melhores surfistas brasileiros – entre eles o carioca Marcelo Trekinho, o paraibano Fabio Gouveia e o paulista Danilo Gryllo – atrás da utópica onda perfeita. A obra também traz, em destaque, atletas da nova safra do surf nacional e a participação de alguns coadjuvantes de peso, como Kelly Slater, Andy Irons e Joel Parkinson.

No final de janeiro, um dia antes de içar as velas e partir de férias com o filho rumo à ilha de Barbados – “ali funciona uma direita perfeita, num pico chamado Soup Bowl” –, Roberto contou à Go Outside quais foram os perrengues e os prazeres na produção do segundo filme, que ele assina sozinho.


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GO OUTSIDE: Quais as novidades do Surf Adventures 2?

Roberto Moura: Mostro os mesmos surfistas seis anos depois, acrescentando uma turma da nova geração, como Jadson André, Ítalo Ferreira e Miguel Pupo. É a molecada nova misturada à que cresceu. Também me preocupei em não repetir as locações do primeiro filme. Quem não pega onda, mas é simpatizante, vai achar legal a variedade de lugares. Fiz tomadas aéreas no Taiti e na Austrália, mostrando a geografia desses lugares.

Houve perrengues na produção?

Vários. O mais difícil no Peru, por exemplo, foi a captação de imagens. Eu aproveitava o sol da manhã, evitando a luz contrária, que batia durante o resto do dia. Foram tantos areais, que achamos que mais iríamos empurrar o carro que surfar. Já na Austrália, choveu por vários dias e o mar estava liso, com vento maral. E na pororoca do rio Araguari, no Amapá, o barqueiro acelerou mais do que devia. Pegamos uma marola em sentido contrário e o barco voou, capotando. A hélice ligada do motor passou raspando por cima de nossas cabeças. Por sorte não sofremos nenhum arranhão e não perdemos os equipamentos. A câmera estava protegida em uma caixa estanque. Por ser uma onda rara, e por tudo que passamos lá, esta é a minha parte favorita no filme.


E deu para trabalhar depois do susto?

Não podíamos perder tempo com isso, porque o governo do estado nos emprestou um helicóptero por apenas meia hora. E a onda da pororoca ocorre numa hora exata. Mas, graças a Deus, elas vieram boas e a galera conseguiu surfar bem, por muito tempo. Reparem que, num determinado momento, os surfistas se apoiam no joelho, de tanta dores nas pernas.

Mas houve momentos de sorte também.

Sim. Depois de dias de espera, o temido pico The Box, no oeste australiano, funcionou. Lá é tipo Pipeline, no Havaí: você só passa se for por dentro do tubo, que é pesado. Não tem como ajustar e tentar passar por fora. O Marcelo Trekinho e o Phil Rajzman deram um verdadeiro show. Aliás, em minha opinião, o Phil é o maior waterman brasileiro, um verdadeiro talento. Ele pega todos os tipos de onda, e de tudo que é jeito – de pranchão, de pranchinha etc.

Como no primeiro filme, a trilha sonora chama a atenção. Os surfistas ajudaram na escolha das músicas?

Os caras que mais colaboraram foram Julio Adler e Sergio Meckler, editores do filme. Eles escolheram a maioria das músicas. Na trilha tem Erasmo Carlos, Sly and Family Stone, Moraes Moreira e Grateful Dead, entre outros. O que eu acho mais interessante são três músicas que usamos na versão original, hoje mais conhecidas por meio de outras bandas. Na session do Peru, a banda Grateful Dead toca “Scarlet Begonias”, que já foi gravada pelo Sublime. Mais pra frente tem “Maracatu Atômico”, de Jorge Mautner, mas imortalizada pelo Chico Science. E no Taiti rola a versão original de “If You Want Me to Stay” por Sly and Family Stone, que está no disco Freaky Styley do Red Hot Chili Peppers. A minha única exigência era fechar com Bob Marley, e o filme termina com “Three Little Birds”.



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E colocar o “casseta” Hélio de La Peña como narrador?

Foi uma sugestão do meu filho. Engraçado que descobri que na época do primeiro Surf Adventures o filho dele, que tinha 12 anos, insistiu para que ele comprasse o DVD do filme. “Mas hoje ele pega onda inspirado pelo filme?”, eu perguntei. Hélio respondeu: “Não sei se está ele surfando, mas a prancha dele já está morena de tanto ir à praia”.


O filme é entendido também por leigos em surf. Quem é o autor do texto de narração?

É Pedro Cezar Guimarães, o Pepê, um poeta pernambucano que, inclusive, já foi surfista profissional. Ele também dirigiu o filme Fabio Fabuloso (2004) e recentemente fez um documentário lindo sobre o poeta mato-grossense Manoel de Barros, chamado Só Dez Por Cento é Mentira (2008).

De 1993 até hoje, os três longas-metragens com os quais você esteve envolvido foram sobre surf (Surf Espetacular (1993), Surf Adventures (2002) e Surf Adventures 2). Há outros assuntos na espera?

Estou produzindo, junto com o jornalista Olívio Petit, um documentário sobre a praia de Ipanema nos anos 1970. A intenção inicial era contar sobre os primeiros campeonatos de surf que aconteceram no pier de Ipanema. Mas, com o desenrolar das filmagens, entrevistamos tanta gente interessante que naturalmente o foco mudou. Falamos com Ziraldo, Zuenir Ventura, Jorge Mautner, Moraes Moreira, Galvão, entre outros músicos, empresários, artistas plásticos e produtores. Agora este será um filme sobre o Brasil e, principalmente, o Rio de Janeiro daquela época. No momento, estou me dedicando a ele.

O primeiro Surf Adventures é o quarto documentário mais assistido no Brasil. Qual sua expectativa para esta continuação?

O primeiro filme teve uma bilheteria de quase 250 mil pessoas. Se chegarmos ao mesmo número no segundo filme, eu já ficaria satisfeito.


(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de março de 2009)







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