Na crista da neve


EM QUALQUER LUGAR: Alan Gerkach decola com os pés soltos em seu snowskate de uma rampa de gelo

Por Fernanda Franco

A TEMPORADA DE NEVE no hemisfério sul está começando. Se você já cansou do esqui e do snowboard tradicionais ou, ainda, se gosta de tirar uma onda e experimentar novas modalidades, pode se preparar: há novas modalidades surgindo nas montanhas nevadas do mundo. Se você gosta de snowboard, o que acharia de ficar com os pés soltos e poder se divertir até no quintal de casa, na frente do hotel, com qualquer condição de neve? Isso é o que o snowskate promete. Se você é mais clássico e prefere esquiar, que tal descer qualquer (mesmo) tipo de montanha e levantar voo no caso de pedras ou abismos, graças a um parapente especial que te puxa para o alto quando acionado, como no speed riding? Nos dois esportes você vai precisar de muita persistência para aprender. E, no caso do speed riding, vai precisar também de coragem para enfrentar riscos reais de morte.
Larga do meu pé
O snowskate é primo do skate e do snowboard. O esporte foi inventado em 1998 por Andy Wolf, um snowboarder profissional norte-americano que queria se livrar da fixação nos pés para executar novas manobras.
A prancha mais tradicional do snowskate é chamada de single deck, e é muito parecida com um shape de skate, permitindo o mesmo tipo de manobra. Mas existem algumas diferenças: a single deck não é côncava na parte superior, como alguns shapes de skate; é mais comprida e mais larga que um skate tradicional; tem o nose (a parte da frente) e o tail (a parte de trás) mais empinados, e possui algumas canaletas na parte de baixo para ter mais tração na neve e melhor aderência em manobras em corrimões. Em vez da tradicional lixa, o snowskate tem um revestimento de espuma que recebe um tratamento antiderrapante, para segurar os pés colados à prancha. Alguns modelos têm pequenas tachas de metal para grudar ainda mais os pés.
Já o snowskate bideck é mais parecido com o snowboard “normal”. Sob a prancha de madeira há uma espécie de esqui, menor que o shape, que diminui o atrito com a neve e faz o snowskate deslizar com mais facilidade. É especialmente indicado para quem gosta de descer ladeiras, dar saltos ou mandar manobras com grab.
Segundo os adeptos do snowskate, a segunda grande vantagem desse esporte (depois dos pés livres) é não precisar de grandes investimentos para praticá-lo: é possível se divertir em qualquer condição de neve, em um pequeno espaço e não há necessidade de se deslocar até uma estação de esqui e pagar pelo ingresso das cadeirinhas que te levam montanha acima.
Desde 1999, o Winter X-Games está apostando no desenvolvimento do esporte com uma competição-exibição de single decks. O campeão sua para chegar às finais através de baterias classificatórias, mas não leva a premiação e as honras das modalidades tradicionais quando fatura o título. Assim como no street skate, corrimãos, caixas e mini rampas são usados pelos competidores para exibirem aos juízes suas melhores manobras. Phil Smage, 23, é norte-americano e venceu a edição de 2009 da prova, sem errar nenhuma manobra nos dez primeiros minutos da sua sessão. Ele dá alguns conselhos aos interessados em aprender a modalidade que aos poucos vem ganhando a Europa, depois de conquistar EUA e Canadá: “Depois de uma manobra, esfregue o grip e mantenha-o seco. Também se lembre que o pop é diferente do skate. Você deve manter o pé de trás bem na ponta da rabeta para conseguir um bom pop. Se acostume a manter seu pé de trás nessa posição”, recomenda Phil.

LIBERDADE: O campeão do torneio-exibição de snowskate do Winter X-Games 2009, Phil Smage, desliza com seu snowskate no corrimão de 13 andares
Para baixo e avante
O speed riding é definido pelos próprios praticantes como “um esqui freeride em 3D”. Além do par de esquis nos pés, os praticantes levam nas costas um paraglider próprio para o esporte, que permite que eles desçam todo tipo de montanha esquiando. Se pintar um penhasco ou um trecho de pedras no caminho, e só usar a vela para dar uma voadinha sobre os obstáculos, e depois aterrissar e retomar a descida com esquis tão logo o terreno permita.
O dia ideal para a prática do speed riding é aquele com nenhum vento e muita visibilidade – para que os esquiadores enxerguem o relevo a tempo de acionar a vela, se necessário. Os esquis são os mesmos usados pelos freeriders. Como a lógica do esporte é descer as montanhas com o máximo de velocidade, os speed riders não buscam as correntes de ar quente que fazem a alegria dos praticantes de parapente tradicional.
O esporte foi inventado por volta de 2004 na França por um grupo de amigos que esquiavam desde criança, e procuravam novos brinquedos que misturassem as sensações de esquiar e voar. Entre esses amigos estava François Bon que, depois de percorrer as estações de esqui aperfeiçoando sua técnica no novo esporte, partiu para vôos maiores. Em 2006, ele desceu do topo do monte Eiger, com 3.970 metros, na Suíça, e do Mont Blanc, com 4.807 metros, na França, enfrentando precipícios. Em 2008, Bon levou 11 dias para subir ao topo do Aconcágua, na Argentina, e pouco menos de 5 minutos para voltar à base da montanha. Bon fez o reconhecimento do terreno por meio de fotos, mapas, previsões de tempo e muita leitura.
Mesmo sendo surpreendido ao atingir até 150 quilômetros por hora de velocidade, graças à forte pressão atmosférica, Bon fez uma linha muito parecida em relação àquela que havia planejado. “Geralmente, ao descer uma montanha mais baixa, você passa metade do tempo esquiando e metade voando. Mas no Aconcágua eu esquiei pouco, por causa da segurança. Ali eu não podia sofrer qualquer acidente, pois o resgate era quase impossível”.
O francês – que sempre foi montanhista, estreou no parapente aos 12 anos e no paraquedismo aos 18 – explica as sensações de um voo. “É uma mistura de prazer, liberdade e adrenalina. O pequeno velame permite que você ande em lugares inatingíveis se você estivesse apenas de esqui. Com esse esporte quero sempre estar nas áreas mais selvagens possíveis e nas mais altas montanhas”, sonha o francês que já idealiza descer o Everest de speed riding.
Para quem tem interesse em se iniciar no esporte, as escolas por enquanto estão somente na França. Mas é preciso percorrer um longo caminho. “Você precisa ser um esquiador perfeito”, diz Bon. “Tem que saber esquiar em todos os tipos de neve e fora de pista. Não é preciso ser um praticante de parapente. As técnicas de comando do velame que usamos no speed riding são ensinadas nas escolas próprias do esporte”, explica Bon.

VOO: Com o Speed riding é possível esquiar qualquer tipo de montanha
ADRENALINA PARA TODOS
Se você já tem alguma intimidade com esportes de neve, provavelmente se empolgou com a chance de voar de esquis ou dominar uma pranchinha sem estar com os pés presos. Mas certamente conhece alguém que nunca teve a oportunidade de escutar o silêncio da montanha durante um downhill, sintonizado apenas no barulho das lâminas do esqui ou das laterais do snowboard quando cortam a neve.
Sua namorada pode não estar a fim de encarar o perrengue de aprender um esporte de prancha, e seus pais talvez não possam se dar ao luxo de usar braços e traseiros como amortecedores. Mas há uma maneira de vocês compartilharem essa sensação. Algumas estações de esqui, como Whistler, no Canadá, oferecem um serviço chamado Sno-limo. Por pouco mais de US$ 100 dólares, é possível embarcar qualquer pessoa numa cadeira equipada com cinto de segurança e cobertor que protege do vento de frente. A cadeira, acoplada a um esqui, tem um encaixe na parte traseira, onde se fixam as botas do piloto.
O conjunto fica parecido com um trenó. O piloto usa um guidão preso às costas da cadeira para manter a direção e usa as técnicas do esqui para controlar velocidade da “limosine da neve”.
(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de junho de 2009)







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