No quintal de casa


CONVIDADO: Carlito decola em Araranguá

Por Fernanda Franco
Fotos por Ricardo Ribas

“FOMOS ATRÁS DE TODAS AS GRANDES DUNAS que vimos no Google Earth”, sintetiza o bicampeão mundial de sandboard Digiácomo Dias, sobre a expedição que percorreu o litoral de Santa Catarina em busca das melhores montanhas de areia do estado. Entre março e julho desse ano, Digi, Duda Mesquita, o fotógrafo Ricardo Ribas e o câmera Artur Pereira rodaram 2.500 quilômetros de carro para explorar, catalogar e definir os melhores locais para a prática do esporte em Santa Catarina.

Locais de Floripa, eles não imaginavam quantas dunas com condições perfeitas encontrariam pelo caminho. “Eu não conhecia muitos lugares. Ficava em Floripa, e mesmo aqui, descobri novas dunas”, conta Digiácomo. Munidos de GPS e de muita disposição e vontade de explorar novos picos, o grupo se surpreendeu com a riqueza do estado para o esporte, mas também quebrou a cara ao encontrar muitas dunas baixas.

A avaliação e catalogação das dunas seguiram critérios como altura e inclinação, existência de obstáculos naturais (como tufos de mato e penhascos, que servem como “rampa” para saltos), e lagos ou rios, que funcionam como “colchões” para os treinos de manobras no ar. “Quanto mais irregular e mais formações naturais a duna tiver, melhor para o esporte, pois assim podemos andar com o que a natureza oferece”, explica Digi. Com o auxílio do GPS, eles também marcaram a velocidade máxima alcançada em cada uma delas.

A grande descoberta da expedição resultou na queda de um mito. Conhecida como Waimea, a duna mais alta da praia da Joaquina, com cerca de 60 metros, era tida como a mais alta do estado há 15 anos. A partir de agora, o título vai para outra duna, localizada em Jaguaruna, com cerca de 80 metros de altura. “Além de alta, sua inclinação é excelente, tem várias rampas naturais, e ainda por cima é lisinha, pois ninguém conhece”, comemora Duda. Mas Jaguaruna não desbancou Waimea no quesito velocidade, onde os rapazes atingiram cerca de 52 quilômetros por hora. “A duna de Jaguaruna é formada por uma areia mais grossa que não permite que a prancha alcance tanta velocidade”, explica Digi.

Para tentar encontrar algumas semelhanças entre as dunas, o grupo coletou areia de todos locais que visitou e enviou ao professor de geografia da Universidade Federal de Santa Catarina, João Carlos Gpe. “A ideia é perceber se há algum mineral comum nas dunas em que atingimos mais velocidade, por exemplo. Já percebemos que em dunas onde há terra junto, a prancha trava, mas buscamos embasar os dados com uma explicação mais técnica.”

Além da inclinação, altura e tipo de areia, o vento é outro fator que influencia bastante o desempenho da pranchinha feita de madeira e fibra de vidro. Mais que movimentar as dunas, ele pode diminuir em cerca de 30% a velocidade, caso seja contra, ou aumentar, caso seja a favor. Por isso, eles também registraram qual tipo de vento é desfavorável em cada um dos locais que visitaram.


TRADICIONAL: Joaquina é a duna mais tradicional de Floripa

Em Floripa, o grupo descobriu outros points para a prática do sandboard, além da Joaquina. Entre a praia do Rio Vermelho e Santinho, encontraram um “buraco” com uma duna com inclinação jamais vista. “E a inclinação é um dos principais fatores para obter velocidade”, conta Digi. Duda destacou também uma duna localizada entre o Pântano do Sul e a praia dos Açores, com cerca de 15 metros de altura.

Imbituba, Guarda e Garopaba, três cidades famosas por boas ondas no litoral catarinense, mostraram-se também excelentes alternativas para o sandboard, muitas vezes praticado por surfistas quando não há ondas. Em Imbituba, a surpresa ficou com a duna da Ribanceira. “Encontramos grande variedade de descidas, com vários tipos de formações e obstáculos naturais. Mas também vimos que estão retirando areia para fazer cerâmica e não há ninguém fiscalizando”, conta Duda.

Na Guarda, eles tiveram uma decepção ao perceber que na Prainha agora só existe uma faixa de areia, mas por outro lado localizaram uma duna na beira do rio da Madre. Garopaba foi eleita como a melhor para saltos, modalidade conhecida como Big Air, na qual Digi é bicampeão mundial com a manobra double front flip, exclusiva do brasileiro. “A formação dela é perfeita e foi lá que fiz as melhores manobras, graças a um local perfeito para aterrissar”, relembra Digi.

Confira abaixo os principais points descobertos pelo grupo e onde comprar uma prancha.

JAGUARUNA

Altura da maior duna: 70 a 80 metros (maior duna do Estado)

Extensão total das dunas de Campo Bom: 4.600 metros

Velocidade máxima atingida: 39 quilômetros por hora

Tipo de areia: média/fina. Rápida. Um pouco pesada para fazer curvas

Tipo de dunas: irregulares (boas para freestyle e big air) e lisas (boas para speed e slalom). Indicadas para atletas de nível intermediário e profissional

Vento desfavorável: sul, pois pega bem de frente e faz diminuir a velocidade

Localização: praia de Campo Bom. Dunas ao lado da estrada geral da praia de Campo Bom. Fica a cerca de 5 quilômetros do centrinho de Jaguaruna (latitude 28.0530 sul, longitude 49.6402 oeste)

Acesso: fácil. É possível deixar o carro muito próximo das dunas

FLORIPA – AÇORES

Altura da maior duna: 15 metros

Extensão total das dunas: 400 metros

Velocidade máxima atingida: 23 quilômetros por hora

Tipo de areia: fina, com boa velocidade

Tipo de dunas: indicadas para iniciantes, e para descidas simples.

Vento desfavorável: sul

Localização: sul da ilha, entre as praias do Pântano do Sul e Açores (latitude 27.7799 sul, longitude: 48.5159 oeste)

Acesso: deixe o carro na praia dos Açores ou no restaurante do Arantes e caminhe pela praia uns 15 minutos. As dunas ficam quase na beira da praia

FLORIPA – BURACO DO RIO VERMELHO

Altura da maior duna: 25 metros

Extensão total das dunas: 1.500 metros

Velocidade máxima atingida: 32 quilômetros por hora

Tipo de areia: média/fina e pesada para curvas

Tipo de dunas: irregulares, com formações naturais para saltos. Inclinação de quase 45°. Indicada somente para profissionais. Boas para big air, freestyle e boardercross.

Vento desfavorável: local totalmente protegido do vento.

Localização: entre a praia do Santinho, Moçambique e Rio Vermelho, no norte da ilha (latitude 27.4821 sul, longitude 48.3834 oeste)

Acesso: difícil. No Costão do Santinho Resort existe uma trilha de 20 minutos bem sinalizada até as dunas do Moçambique. Caminhe mais uns 15 minutos sentido norte até achar essa duna

GAROPABA

Altura da maior duna: 30 metros

Extensão total das dunas: 2.400 metros

Velocidade máxima atingida: 47 quilômetros por hora

Tipo de areia: fina/média. Macia para saltos.

Tipo de dunas: tem dunas pequenas para os iniciantes e também grandes, e com formações perfeitas para saltos para os intermediários e profissionais. Boas para todas as modalidades, especialmente o big air. Nesta duna foi onde a equipe encontrou a melhor formação para fazer uma rampa para saltos.

Vento desfavorável: sul

Localização: dunas do Siriú (latitude 28.0080 sul, longitude 48.6402 oeste)

Acesso: fácil. Entre por Paulo Lopes e siga sentido Siriú. As dunas ficam na beira da estrada Geral do Siriú

RIBANCEIRA

Altura da maior duna: 40 metros

Extensão total das dunas: 2.700 metros

Velocidade máxima atingida: 37 quilômetros por hora

Tipo de areia: fina, com ótima velocidade. Areia macia

Tipo de dunas: todas. Indicadas para todos níveis e todas as modalidades

Vento desfavorável: sul (foi o lugar que eles mais tiveram problemas com fortes Localização: praia da Ribanceira, em Imbituba, a cerca de 90 quilômetros de Florianópolis. Perto da estrada geral da Ribanceira (latitude 28.1892 sul, longitude 48.7144 oeste)

Acesso: fácil. Pode deixar o carro perto das casas que ficam próximas às dunas

ventos)

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de outubro de 2009)







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