Clássico Revisitado


FAZENDO SEU PAPEL: Conrad Anker e Leo Houlding como George Mallory e Sandy Irvine, com a réplica do equipamento dos anos 1920

Por Justin Nyberg
Foto por Sam Peach

UMA COISA É ESPECULAR se George Mallory e Sandy Irvine chegaram ao cume do monte Everest em 1924, uma geração antes do sucesso de Edmund Hillary e Tenzing Norgay em 1953. Outra bem diferente é calçar botas com pregos na sola e tentar escalar a montanha. Mas foi isso mesmo o que o norte-americano Conrad Anker, 47 anos, e o britânico Leo Houlding, 30, fizeram para o novo filme The Wildest Dream, que já chegou às telas – inclusive em Imax – nos Estados Unidos e na Inglaterra, mas ainda não tem data de estreia prevista para o Brasil.

Parte documentário, parte mistério de aventuras, o filme, narrado por Liam Neeson, com vozes de Ralph Fiennes e da falecida Natasha Richardson, reconstrói a busca de Mallory por meio de imagens de arquivo antigas e correspondência pessoal. No coração do projeto está a tentativa de Conrad Anker (que achou o corpo congelado de Mallory 75 anos depois do seu desaparecimento no Everest) e do prodígio da escalada Leo Houlding de reconstituir a história com os equipamentos da época – jaquetas de gabardine, botas com sola de pregos e óculos com tiras de couro.

Os alpinistas subiram pelo lado tibetano (chinês) e o ápice do drama acontece no Segundo Escalão – uma falésia de quarto grau com 4,5 metros de altura e três mil metros de exposição, que os montanhistas modernos escalam com a ajuda de uma escada. Mallory deve ter escalado sem nenhum ajuda, usando somente as mãos. Quando alcançam o Segundo Escalão, Conrad e Leo já haviam trocado suas roupas antigas pelos modernos paramentos de expedição para prevenirem-se do congelamento, mas, ainda assim, têm uma hipótese para testar. Conrad remove a escada e tenta subir o Escalão em livre. Ele faz apenas um movimento, escorrega e cai, seguro pela corda de Leo e uma proteção móvel que havia colocado. “Fiquei bastante chocado quando Conrad caiu”, diz Leo. “Ele estava com um equipamento de proteção moderno. Se tivesse escorregado daquele jeito em 1924, quase certamente teria rolado para baixo.” No fim, o norte-americano consegue chegar ao topo, assim como um montanhista chinês fez em 1960, na primeira escalada a partir do lado tibetano.

Será então que Mallory conseguiu ultrapassar o Escalão? O diretor do filme, Anthony Geffen, tem o cuidado de deixar a questão em aberto, mas os fatos rapidamente se contrapõem ao herói britânico. Mallory já havia conseguido escalar um quarto grau – mais ou menos a dificuldade técnica do Segundo Escalão –, mas isso havia sido nos Alpes. Só que no Everest ele estava acima dos 8.500 metros e usava botas com sola de pregos. “É possível, mas pouco provável que ele tenha escalado o Segundo Escalão”, diz Conrad. Mas isso é praticamente uma questão à parte. Simplesmente chegar ao ponto com o equipamento e o know-how dos anos 1920 já teria sido um feito incrível. “Naquele tempo, o Everest era outro planeta,” diz Geffen. “Eles estavam fora de seu ambiente.”

Na verdade, a equipe de Geffen também atingiu seu limite. O mal de altitude incapacitou a equipe de filmagem inteira. No fim, dois guias que nem eram da expedição filmaram as cenas em grandes altitudes. Ainda assim, a conclusão dúbia e as dificuldades técnicas não estragaram o longa-metragem. The Wildest Dream oferece o retrato mais autêntico da bravura da aventura de Mallory e Irvine. Ninguém antes deles sabia por onde começar a escalada ou como a altitude extrema poderia afetar seres humanos. Ninguém havia estado na Zona da Morte do Everest – e os britânicos foram as primeiras vítimas.

(Reportagem publicada originalmente na Go Outside de dezembro de 2010)







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